António Costa, o perdedor ganhador

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António Costa já fez quase tudo em política, desde militante da juventude do PS, deputado municipal, vereador, presidente de câmara, deputado na Assembleia da República, líder parlamentar, eurodeputado, ministro e agora chegou a primeiro-ministro.

Uma larga vida política com muitas batalhas: umas vencidas e outras perdidas. As perdidas foram poucas, mas doces, sempre com o fito de dar a volta por cima e de as tornar uma aprendizagem para o futuro.

Em todos os cargos que desempenhou, nos lugares por onde passou, é forçoso constatar duas coisas: primeira começou muito cedo; segunda um percurso destes não acontece por acaso. A ambição é inegável. Embora António Costa prefira olhar para tudo isto como uma decorrência natural dos acontecimentos.

É um homem de palavra fácil e réplica rápida, em que se sobressai a sua veia de advogado. Tem fama de ser incansável e sem nunca perder os seus objetivos. A sua forma de atuar publicamente com um ar sempre risonho e sociável contrasta em privado com os seus colaboradores, em que é duro, muitas vezes mal--encarado e tem muita dificuldade em aceitar um não como resposta. É um negociador infatigável, por vezes, tornando o impossível possível. A sua atitude perante um problema é sempre a de que ele é resolúvel. Um colaborador seu dava sempre como exemplo de coisas impossíveis: vacas com asas. Um belo dia, no aeroporto de Londres, António Costa encontrou uma vaca com asas, pendurada no teto, que voava. Permitiu-lhe demonstrar como até as vacas podem voar.

É um homem de ação, tem muita dificuldade em desistir. Não desiste com facilidade. Esta sua persistência na vida tem-lhe sido compensadora. É um action man.

Na disputa com António José Seguro venceu mas não conseguiu sarar as feridas dentro do PS. Os seguristas, ficando marginalizados dos órgãos do partido, esperaram a sua oportunidade. Tentaram mas nada conseguiram. Passados 50 dias, passou de derrotado e perdedor a vencedor. Passou de alguém derrotado que deveria deixar de ser líder do PS e ir para a rua a primeiro-ministro e a residir oficialmente em São Bento. É um indivíduo hábil ,que por mágica conseguiu tirar da cartola este acordo à esquerda, parecendo um passe de ilusionismo. Aproveitou uma conjugação de fatores pela perda da maioria absoluta do PSD-CDS e augurou-se à chefia do governo. Há quem prognostique que este acordo do PS com o BE e PCP não dura mais do que um ano. Mas enganem-se, cada dia que passe António Costa estará mais confortável e se houver eleições antecipadas, ao contrário do que muitos pensam, pode vencê-las e com maioria.

Este casamento a contragosto com o BE e o PCP com o tempo pode passar a gosto e durar muito tempo. Há muitos casamentos por amor que duram pouco tempo, ao contrário de casamentos por conveniência ou por interesse que perduram. O perigo óbvio é defraudar as expectativas não dos portugueses, porque isso já está ultrapassado, mas do PCP. Esta lua-de-mel pode muito bem durar muito tempo. Vou como São Tomé ver para crer.

António Costa já provou que consegue transformar a realidade. Vamos ver se consegue o tão almejado crescimento neste país limitado.

*Fundador do Clube dos Pensadores

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