Um quadro de José Loureiro, com mais de dois metros e meio de altura, é o único que já encontrou o lugar onde vai ficar durante o próximo ano. Na segunda-feira de manhã, os restantes continuavam ainda meio embalados, no chão ou em cima de um dos móveis da sala de jantar da residência oficial do primeiro-ministro, uma das cinco salas que a partir desta quinta-feira podem ser visitadas pelo público. A entrada livre repete-se todos os domingos e até ao próximo 5 de Outubro, serão 25 obras de arte de Serralves que os visitantes podem ver no Palacete de São Bento..A razão do desalinho não se prende com atrasos ou outros imponderáveis. "As mudanças de última hora são normais, por isso é que concordámos em começar a montagem mais cedo", explica Suzanne Cotter, a ainda diretora do Museu de Serralves, curadora desta primeira exposição da iniciativa Arte em São Bento, que no próximo ano terá outra instituição como convidada. "Começámos a montagem na semana passada e isso deu-me tempo para refletir com uma certa distância. Na quinta-feira não estava muito satisfeita, faltava qualquer coisa. Só na sexta-feira, quando estava a folhear o catálogo da coleção para trabalhar noutro projeto, tive esta revelação. Sabia que nos faltava uma coisa: era uma Lourdes Castro", conta a curadora que no final do ano deixa a direção de Serralves onde está desde 2013, enquanto dois funcionários da equipa de Serralves vão tirando medidas e abrindo os furos para pendurarem Sombra projetada de Adami, obra realizada por Lourdes Castro em 1967 em Paris. Esteve na exposição O Olhar do Artista: Obras da Coleção de Serralves, que entre maio e agosto ocupou a Cordoaria Nacional, em Lisboa, razão pela qual Suzanne não a contemplou na sua escolha inicial..Havia ainda outra "culpada" para o desalinho: Paula Rego e o seu quadro de 1985 Homenagem a Dubuffet. "Esta obra de Paula Rego é fortíssima. No início, tinha pensado em colocá-la na grande sala de receção. Mas a força deste quadro era demasiada e absorveu toda a energia da sala. Tinha que mudar de espaço." E acabou na sala de jantar onde, para além de Lourdes Castro e José Loureiro, são também apresentadas obras de Jorge Queiroz e Ana Manso. Nilo, desta jovem artista, é a peça mais recente, de 2016, enquanto Littérature conjugale, de René Bertholo, de 1966, é a mais antiga..Uma obra apresentada na espaço logo ali ao lado, a tal grande sala de receção onde Suzanne Cotter comenta a escolha de um quadro com quase três metros de largura e dois de altura de João Queiroz. "Esta obra estabelece uma forte ligação com o jardim", sublinha, lembrando que desde junho de 2016 os jardins do Palacete de São Bento, edifício do final do século XIX que há 80 anos serve de residência oficial ao primeiro-ministro, estão abertos à população todos os domingos, com entrada gratuita. E aponta outra razão para esta escolha: "Antes, no seu lugar, estava uma grande tapeçaria muito antiga e acho que é interessante ver este quadro contemporâneo tendo presente a tradição das tapeçarias que historicamente estão ligadas aos grandes quadros históricos", refere, ilustrando com este exemplo a sua abordagem a este projeto, que tem sempre em conta a história do edifício..Ora, foi precisamente essa sua abordagem que ditou a primeira seleção de obras, dominada por quadros - "tal como estava antes", refere - e artistas consagrados. Mas "numa segunda visita, acompanhada pelo primeiro-ministro, ele deu-me ideias muito específicas sobre a arte e também o seu gosto. Foi uma discussão muito inspiradora. Fez-me muitas perguntas. Perguntou-me se poderíamos ter algumas fotografias, mais mulheres e artistas mais jovens." E foi assim que esta primeira mostra passou a incluir duas obras de Helena Almeida: Pintura Habitada (1975) e Estudo para um enriquecimento interior (1977), ambas apresentadas na primeira sala aberta ao público, bem como duas obras de Pedro Henriques, da série Sidewinder (2014)..Esta, que não é uma exposição no sentido clássico, como as organizadas em museus ou galerias de arte, leva os visitantes a percorrer três salas no piso térreo e duas no primeiro andar. É já no cimo das escadas, na antecâmara do primeiro-ministro, que se encontram duas das três obras que pela primeira vez saíram das reservas de Serralves, dois guaches sobre papel de Ana Léon. Inédita é também a pintura de 1989 de Sofia Areal São Rosas Meu Senhor (1989), "comprada em 1991, quando ainda nem havia Fundação de Serralves", sublinha Suzanne Cotter. Para completar a festa de amanhã, a Orquestra de Jazz de Matosinhos atua nos jardins, a partir das 16.00.