John Major acusa Boris Johnson de corroer a confiança nos políticos

O antigo PM britânico diz que as desculpas dadas foram "inventadas" e que foi pedido às pessoas para "acreditarem no inacreditável".
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O antigo primeiro-ministro britânico conservador John Major acusou esta quinta-feira o sucessor Boris Johnson, igualmente conservador, de estar a "corroer" a confiança nos políticos, pondo em causa a democracia no Reino Unido e diminuindo a influência internacional britânica.

Convicto de que Johnson e outros funcionários "violaram as leis do confinamento" em vigor devido à pandemia de covid-19, Major afirmou que "desculpas descaradas foram inventadas" e que foi pedido às pessoas para "acreditarem no inacreditável".

Num discurso no centro de estudos Institute for Gouvernment, o antigo líder do Partido Conservador disse que este comportamento tem consequências que vão para além da impopularidade nas sondagens e põe em risco a confiança nos políticos a nível interno e no estrangeiro, onde diz que a reputação britânica "caiu" por causa de tal "conduta".

"Estamos a enfraquecer a nossa influência no mundo. Devemos ter cuidado. (...) Uma nação que perde amigos e aliados torna-se numa nação mais fraca. E quando ministros atacam ou culpam Governos estrangeiros para obter apoio populista internamente, simplesmente não somos levados a sério", avisou.

John Major enumerou várias ocasiões em que o atual Governo violou a lei e em que Boris Johnson cometeu infrações ao código de conduta ministerial.

"O primeiro-ministro e o atual Governo não só desafiam a lei, mas parecem acreditar que eles não precisam de respeitar as regras, tradições, convenções. A acusação de que existe uma lei para o Governo e outra para o resto é politicamente mortífera", vincou.

Descrevendo o comportamento do Governo de Johnson como "corrosivo", constatou que "a confiança nos políticos está no fundo, corroída pelo comportamento insensato, deixando uma sensação de desconforto sobre como (a nossa) política está a ser conduzida".

"Muitas vezes, os ministros têm sido evasivos, e a verdade tem sido opcional. Quando os ministros respondem a perguntas legítimas (...) com frases de efeito pré-preparadas, ou meias-verdades, ou desorientação, ou exagero delirante, então o respeito pelo Governo e pela política morre um pouco mais", salientou.

Esta não é a primeira vez que John Major, um pró-europeu que fez campanha ativamente contra o 'Brexit' (processo da saída do Reino Unido da União Europeia) faz críticas a Boris Johnson, mas estas novas declarações refletem o desconforto de uma parte do Partido Conservador sobre a atual liderança.

Mais de 10 deputados já subscreveram uma moção de censura devido ao "Partygate", como é chamado o escândalo das "festas" realizadas na residência do primeiro-ministro, em Downing Street, que terão violado as restrições impostas a propósito da pandemia de covid-19.

Um total de 16 "ajuntamentos", realizados entre 2020 e 2021, foram investigados internamente e 12 estão agora sob investigação da polícia, que anunciou ter enviado questionários a mais de 50 funcionários governamentais sobre o seu envolvimento nestes eventos.

Questionado sobre a possível demissão de Boris Johnson caso fique demonstrado que o governante mentiu deliberadamente no parlamento sobre as alegadas "festas" na residência oficial em Downing Street, John Major respondeu que sim.

"Foi sempre assim para qualquer primeiro-ministro", justificou.

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