O ano de 1999 foi importantíssimo na vida e na carreira de Clayton. Foi nesse ano que o extremo-esquerdino de Minas Gerais deixou o Brasil rumo a Portugal, país ao qual chegou pela porta do então primodivisionário Santa Clara, e que começou a montar o negócio ao qual hoje se dedica a tempo inteiro, a industrialização de madeira de eucaliptos. "Desde que regressei ao Brasil que tenho estado a gerir negócios nas minhas fazendas. Montámos a estrutura para ter matéria-prima em 1999, por influência do meu pai, que gostava do meio rural, e hoje eu e a minha mulher controlamos o negócio", contou ao DN.."Moro em Vitória da Conquista, na Bahia, mas tenho o negócio em São João do Paraíso, em Minas Gerais. São 180 quilómetros de distância, e passo metade da semana num lado e outra metade no outro. Temos uma loja de revenda e é preciso estar em cima do negócio", acrescentou o antigo extremo, que se retirou em 2012.."Quando jogava era mais prazeroso, era aquele sonho de criança. Os negócios são uma questão de escolha, mas também gosto do que faço", confessou o ex-futebolista mineiro, que se cansou de estar ligado à modalidade. "Podia ter continuado no futebol, mas à quarta-feira é-se herói e ao domingo vilão. O futebol é cansativo. Há muita cobrança e horários rígidos. E a zona onde vivo fica distante de São Paulo, Rio de Janeiro e até de Belo Horizonte", explicou, ainda assim com "muitas saudades" do relvado..Agora, é a vez de o filho brilhar. "Tem 18 anos e profissionalizou-se. Está a jogar no Vitória da Conquista e quero ajudá-lo. É o sonho dele", contou. Para trás fica um trajeto de quase duas décadas iniciado no clube do coração, o Atlético Mineiro, pelo qual conquistou um título estadual e a Copa Conmebol..Muito grato ao Santa Clara.Com o passar dos anos, foram escasseando os minutos de utilização para Clayton no Atl. Mineiro. "Já estava lá há algum tempo e não levava o futebol muito a sério. Nem sempre jogava, fiquei cansado e fui para o América Natal. Estava a jogar um dérbi com o ABC e ganhámos 3-1, num jogo em que marquei dois golos e fiz uma assistência. Manuel Fernandes, que treinava o Santa Clara, estava na bancada a observar dois jogadores da equipa adversária. No dia seguinte, um empresário ligou-me para me levar para Portugal. Assinei um contrato de seis temporadas com o Santa Clara no dia em que fiz 24 anos", lembrou..No entanto, acabou por ficar apenas cinco meses nos Açores. "Era um dos melhores marcadores da I Liga e o Jorge Mendes ligou-me para ir para o FC Porto no mercado de inverno. Estou muito grato ao Santa Clara. Se tivesse ficado lá mais tempo podia ter ajudado o clube a estabilizar na I Liga. Estou atento à caminhada deles e do Penafiel na II Liga. Se subirem, vou fazer uma visita", prometeu o ex-futebolista, que se despediu de Ponta Delgada com 13 jogos e nove golos..Dragão conquistou-lhe o coração.Se o clube do coração em criança era o galo, hoje esse amor é partilhado com o FC Porto. "O Atl. Mineiro era onde sonhava jogar, mas depois vi o FC Porto e não o consegui tirar do coração. Recentemente, estava a ver o jogo com o Liverpool para a Champions e cada golo do Liverpool foi um sofrimento para mim", revelou o mineiro, que de dragão ao peito (2000 a 2003) conheceu o auge da carreira: a conquista da Taça UEFA.."O nosso grupo era muito forte, com jogadores muito profissionais e vencedores por natureza. Jorge Costa era o capitão, Paulinho Santos morria pelo clube e o Capucho era um cara fantástico. E depois havia os brasileiros: Deco, Jardel, Rubens Júnior, Esquerdinha, Pena... E o presidente recebia-nos e até falava connosco sobre os nossos filhos. Pinto da Costa era muito simples. Aqueles anos foram gostosos", recordou o antigo extremo..O primeiro treinador que conheceu nas Antas foi Fernando Santos, que descreve como "um senhor e um conselheiro, que se preocupava com a vida dos jogadores fora do futebol". Seguiu-se Octávio Machado, que o guiou à melhor época de azul e branco: "Ele é de polémicas, mas tem um bom coração. Joguei e produzi mais com ele, estive bem nessa época." Por fim... José Mourinho. "Chegou ao FC Porto e deu um murro na mesa. Prometeu que íamos ser campeões e os seus treinos eram todos com bola, até os físicos. Falava muito com os jogadores que não jogavam e motivava toda a gente. Em 2002-03 não joguei muito, mas disse-me que queria ficar comigo. Acabei por ir para o Sporting e perdi a oportunidade de ser campeão europeu e mundial. Encontrei-me com ele no Chipre, quando foi lá jogar pelo Inter, e falámos horas e horas. É muito gratificante", vincou, nostálgico..Poucos jogos de leão ao peito.No Sporting, Clayton reencontrou Fernando Santos e não jogou tanto como esperava. Acabou por rumar ao Penafiel para voltar a trabalhar com Manuel Fernandes.."O presidente [António Oliveira] era meio maluco, despediu-o à 3.ª jornada e não avisou ninguém. Depois veio Luís Castro, que ninguém conhecia, mas é um grande treinador e uma das melhores pessoas que conheci no futebol", lembrou o brasileiro, que ainda passou por V. Guimarães e Chipre, antes de encerrar a carreira no Brasil.