Ansiedade e problemas financeiros
Sem casa e sem pão, todos ralham e com razão.
Muitas pessoas e muitas famílias, sentem que os recursos económicos que dispõem podem não ser suficientes para responder aos tempos em que vivemos. E tantas outras, já vivem em situações vulneráveis socialmente -- sem conseguir "pagar as suas vidas".
Em 2022, dois milhões de pessoas viviam em situação de pobreza e exclusão social em Portugal -- e se no pós Pandemia, algumas situações melhoraram, a inflação e a crise da habitação trazem novos desafios a muitas famílias e a todos nós.
Pode não ser novo, mas importa sempre refletir, sobre a saúde mental dos portugueses -- quando sabemos que os problemas financeiros são um fator de risco para o surgimento de sofrimento psicológico e outras psicopatologias. Quando sabemos que crises financeiras diminuem os níveis de bem-estar, aumentam os níveis de ansiedade, relacionam-se com o stress e com estados de angústia e tristeza prolongada (...).
Todos nós, em algum momento da nossa vida, podemos vivenciar níveis de stress elevados e ansiedade financeira, por mudança de emprego, perda de rendimentos ou despedimento. E são situações em que podemos sentir stress e ansiedade, por outro lado, a crise financeira que hoje vivemos, pode ter outro impacto, porque sentimos "que pode ser duradoura e que pode afetar qualquer pessoa". Posso até na verdade, não ter um problema financeiro real mas "vivo antecipando esse cenário", reforçado, naturalmente, por toda a informação que vou recolhendo e vendo.
O que tem vindo a acontecer, de forma cada vez mais frequente, é que existem muitas pessoas que apresentam níveis muito elevados de sofrimento psicológico porque antecipam problemas financeiros -- vivem (quase) permanentemente preocupadas, sentem que o seu emprego é precário e o rendimento pode diminuir (tal como na pandemia), os seus contratos de arrendamento vão terminar e não sabem o que se segue, o pagamento do empréstimo aumentou outra vez e sentem medo que o dinheiro não chegue, sentem-se inquietos, com maior irritabilidade, com perturbações do sono, alterações do humor, sensações de pânico, dificuldade em manter a atenção ou concentração, fadiga ou apatia, tristeza prolongada, angústia, aumento ou diminuição do apetite (...).
Podemos começar por criar planos de futuro, ver que recursos temos e o que precisamos para minimizar as consequências desta crise, devemos em muitos casos pedir ajuda, seja na nossa rede de suporte ou ajuda especializada quando estes e outros sintomas influenciam negativamente a minha funcionalidade e o meu bem-estar.
Pode ser urgente, olhar a saúde mental e criar respostas eficazes de apoio às pessoas -- Precisamos chegar a quem precisa.
Em estudos que contabilizam a venda de psicofármacos em muitos países, Portugal aparece no grupo de países que mais medicamentos se vendem para tratar Ansiedade e Depressão. E não nos precisamos comparar no que respeita ao acompanhamento psicológico quando pelo SNS podemos esperar mais de ano e meio para ter uma consulta de Psicologia -- sabemos que "há muita estrada para andar" até ultrapassarmos esta fragilidade de respostas no âmbito da Saúde Mental.
Não há saúde sem saúde mental.
Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde