Annette Bening, a primeira atriz favorita aos Óscares
A nostalgia do final dos anos 1970, a década que mudou muita gente. Esse é o ponto de partida para 20th Century Women, de Mike Mills, filme que acaba de ser aclamado no Festival de Nova Iorque e ganhou data de estreia nos EUA após uma receção crítica muito entusiástica. Se o anterior de Mills, Beginners - Assim é o Amor, era o filme que tinha de dar o Óscar de melhor ator (secundário) a Christopher Plummer (em 2010), este é já o primeiro filme deste ano que parece estar na linha da frente para a campanha de melhor atriz, a protagonista Annette Bening.
A atriz já nomeada várias vezes, quatro, na verdade, é neste momento a primeira grande favorita para arrecadar o prémio de melhor atriz na chamada awards season de 2016/17.
Desde que 20th Century Women foi exibido esta semana em antestreia mundial no Festival de Nova Iorque logo ganhou estatuto de filme com a interpretação feminina do ano. Muitos dizem que é quase impossível Benning não ser a atriz escolhida na cerimónia de entrega dos prémios da Academia, sobretudo depois de já ter sido nomeada quatro vezes (a saber: Anatomia de um Golpe, em 1991, em 2000 Beleza Americana, em 2004 A Paixão de Júlia e, finalmente, em 2010 Os Miúdos Estão Bem).
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Uma atriz que tem um capital de realeza raro em Hollywood e que muitos acreditam que está na hora do reconhecimento mais institucional, o que não deixa de ser curioso para alguém que fez sempre uma carreira sem estratégias ou golpes de marteking para a conquista do ouro da Academia. Benning sempre pareceu um corpo livre no sistema de Hollywood, mesmo quando foi estrela de filmes mais mainstream como Uma Noite com o Presidente (1995), de Rob Reiner, ou O Regresso de Henry (1991), de Mike Nichols.
Na verdade, a realeza e o fascínio de Benning nunca passaram pelos Óscares nem pela sua aliança romântica com Warren Beatty. Público e imprensa adotaram-na incondicionalmente desde o seu primeiro papel relevante em 1989, Valmont, pelas mãos de Milos Forman.
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Em 20th Century Women, a atriz, com 58 anos, interpreta uma mãe californiana dos anos 70 que tenta educar um filho adolescente sem figura paternal. Segundo grande parte da imprensa presente no New York Film Festival, Mills consegue um triunfo emocional forte, sobretudo na personagem de Benning, tão complexa como frágil. Uma personagem sem lugares comuns.
Annette Benning pode estar na pole position para os prémios da próxima temporada, mas não está só. O verão mostrou a todos que Florence - Uma Diva Fora de Tom, de Stephen Frears, tem uma Meryl Streep em forma assombrosa. Streep só tem o problema de ser a atriz viva com maior número de nomeações aos prémios da Academia. Só um escândalo ou concorrência de excelência podem tirar mais uma nomeação à atriz de África Minha.
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Benning também poderá ter competição à altura se a Academia quiser ser mais etnicamente diversa e aí temos sempre Ruth Negga em Loving, de Jeff Nichols, e Viola Davis em Fences, de Denzel Washington, neste caso outra atriz com contas a ajustar com a Academia.
Ainda assim, não é de excluir este ano que nesta temporada de prémios haja um efeito exterior: Isabelle Huppert. A atriz francesa tem dois papéis fortíssimos e que nos EUA estão a ser muito alavancados: Elle, de Paul Verhoeven, e O Que Está para Vir, de Mia Hansen-Love, sendo este último a aposta mais segura. As suas rivais Juliette Binoche e Catherine Deneuve já foram também nomeadas (Binoche chegou mesmo a ganhar o Óscar de atriz secundária em O Paciente Inglês) - não é, portanto, uma "anormalidade" tão notória. Seria bastante justo.
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A hipótese Huppert, cada vez a ganhar maior terreno, poderá afastar Sônia Braga da corrida. A brasileira tem recebido elogios fortíssimos desde que Aquarius passou em Toronto, mas a excentricidade estrangeira só consegue dar boleia a uma atriz que não tenha um papel em inglês...
Benning pode ser a favorita nesta corrida, mas há ainda Emma Stone em La La Land, Amy Adams em Arrival - O Primeiro Contacto; Rebecca Hall em Christine e uma espantosa Natalie Portman em Jackie. É ainda prematuro eliminar as possibilidades de Rachel Weisz em Denial, de Mick Jackson, filme de tribunal sobre o Holocausto.
Por fora, sem ainda ninguém ter visto nada, os rumores vão igualmente parar ao nome da eterna candidata Jessica Chastain em Miss Sloane, de John Madden, e a Taraji P. Henson, em Elementos Secretos, de Theodore Melfi. Se surgirem surpresas, as interpretações joker poderão ser as de Tilda Swinton como rocker afónica em Mergulho Profundo e Emily Blunt como a alcoólica voyeur em A Rapariga no Comboio (não deixaria de ser algo injusto mas a atriz inglesa é muito estimada pelos seus pares na América). É caso para se pensar que a corrida de melhor atriz para 2017 está ao rubro... bem como a de Melhor Filme.