Angus MacLane sobre Buzz Lightyear: "Queria que todo filme fosse sobre nostalgia"
Um spin-of do universo Toy Story com o "rival" astronauta e explorador intergaláctico Buzz Lightyear. Mas, atenção, neste filme de Angus MacLane, Buzz é mesmo de carne e osso, não é um brinquedo. No começo surgem títulos a informar que vamos ver o filme que Andy, o menino de Toy Story, viu em 1995 e que devido a esse visionamento quis como brinquedo um boneco de Buzz. E o filme em questão é uma história de sobrevivência deste piloto destemido e ranger que num planeta hostil tenta encontrar a solução para através de um cristal atingir a velocidade anos-luz que permita salvar todos os humanos presos nessa colónia. Mas cada vez que voa para tentar o salvamento, os anos passam na base e ele volta com apenas mais quatro minutos de vida. Será sempre assim até se aliar à neta da sua colega e comandante, que juntamente com dois "loosers" formam uma brigada de salvação improvável...
De Los Angeles numa conferência por Zoom, o DN chega à fala com Angus MacLane, o realizador escolhido pela Pixar para dirigir esta aventura assumidamente sci-fi, mesmo sem dispensar algumas fórmulas nestes produtos de animação, em especial os "side-kicks", encarregues de fornecer o pêndulo humorístico. "Realizar filmes para a Pixar é um trabalho de sonho! E sempre gostei de cinema. Quando era miúdo, em 1979, vi um filme que mudou a minha vida, o Star Wars, de George Lucas! A partir daí só quis brincar com esse universo, todos os meus desenhos remetiam para essas personagens. Star Wars tornou-se a minha religião e durou anos! A partir daí tornei-me fã dos clássicos da ficção-científica. Depois, vi em 1995 outro filme que mudou a minha vida, Toy Story. E fiquei sempre curioso acerca do Buzz, em especial do filme em que ele era a personagem central. Pensei sempre, porque não fazer esse filme? E foi isso que agora fizemos! Este é o filme que mudou a vida do Andy, é o Star Wars desse miúdo", começa por contar o realizador.
Depois de Soul e Turning Red- Estranhamente Vermelho apenas terem tido estreia na Disney Plus, este é o primeiro filme da Pixar após a pandemia a estrear nas salas. Apesar de ser uma obra com críticas nos EUA nada favoráveis, são muitos os analistas que acreditam ser um bom teste para perceber se a Pixar ainda é um estúdio com o habitual toque de Midas. Se é verdade que este é um personagem muito amado por diversas gerações, a própria estrutura do filme tem alguns handicaps: um imaginário de "sci-fi" talvez algo datado e com códigos de homenagem a série B que escapam ao público mais infantil, bem como algum atabalhoamento narrativo nas questões espaço-temporais - será que faz sentido vender este divertimento como um Interstellar animado? Seja como for, Angus tem uma teoria sobre o aspecto das referências cinéfilas: "o que não quis foi parodiar nada, apesar de haver algumas referências que têm algo de sátira. Quis que a plateia sentisse que está a ver um filme espacial divertido. Na essência, é uma viagem de aventuras divertida. O pessoal da sci-fi vai dizer que o gato robot tem algo do HAL, do 2001- Odisseia no Espaço, mas para mim é apenas um simples robot".
E é nessa cadência de "filme de aventuras" sem grandes pausas para momentos de emoção que Buzz Lightyear se aguenta melhor, tudo isso condimentado com a "última palavra" de animação digital e efeitos. Nesse sentido, há que aplaudir o ritmo e a velocidade do filme. "O que é importante nestes filmes do Toy Story são as personagens e as mensagens que queremos fazer passar! Este não deixa de ser um ponto de viragem mesmo tentando parecer um clássico. Enfim, é uma combinação dessas duas intenções! Como cineastas, tentámos que este filme tivesse aquela verdade universal habitual. Queremos que tenha um valor para as crianças... Lembro que o Toy Story foi o primeiro filme de animação CGI da história! Se não fosse a sua narrativa tão sólida não teria tido tanto sucesso... Aqui na Pixar a premissa é sempre fazer o filme que nos dá mais vontade de ver...E não podemos escrever piadas para os putos, eles crescem! O humor tem de ser compreensível para nós, adultos...Eu e o meu argumentista tentámos sempre encontrar a solução mais divertida. O que nos fizesse rir mais entrava!", admite o realizador que também confessa um dos seus outros objetivos: "queria que todo filme fosse sobre nostalgia. Esse é o meu ponto de partida, embora quisesse também criar uma nova história. Repito, a ideia é que esta nova história pudesse igualmente ser vista com um certo classicismo, enfim, uma combinação de nostalgia com modernidade..."
dnot@dn.pt