Comerciante e artesão habilidoso, Jonathan Fairbanks deixou a sua Inglaterra natal em 1633 para cruzar o Atlântico rumo à Colónia da Baía de Massachusetts, nos territórios nordeste dos atuais Estados Unidos da América. Jonathan, a mulher Grace, e os seus seis filhos, juntaram-se, corria 1836, aos membros fundadores da comunidade de Dedham, não mais de 200 almas. Já como proprietário de terra, o casal Fairbanks alargou o negócio da construção de máquinas de fiar para a produção agrícola e erigiu a sua casa. Volvidos perto de 400 anos, oito gerações habitaram a casa que, hoje, é reconhecida como a estrutura em madeira mais antiga dos Estados Unidos. A Fairbanks House viu-lhe atribuído o estatuto de museu e também monumento aos pioneiros que se estabeleceram no território. Antes, houve que determinar com precisão a data da construção do edifício. A resposta chegou de um dos pilares de madeira que serve de suporte à construção. Entre 1637 e 1638, Jonathan Fairbanks embrenhou-se na floresta e abateu os carvalhos para a edificação da casa. Madeiras que mantinham a impressão digital do seu berço natural. A resposta à pergunta, "quantos anos tem a casa Fairbanks?", residia nos anéis de crescimento da árvore e ao método científico que os lê, a dendrocronologia..Há muito que a existência de anéis concêntricos na secção transversal dos troncos constituía uma evidência sem, contudo, merecer mais do que a mera observação. A concretização de um método credível de datação, a partir dos anéis das árvores, chegou pelas mãos de um astrónomo norte-americano, nascido em 1867..Andrew Ellicott Douglass, fundador em 1937 do Laboratório de Pesquisa de Anéis de Árvores, na Universidade do Arizona, estabeleceu a correlação entre as mudanças na atividade solar e como estas afetam os padrões climáticos na Terra. Padrões que deixam uma "assinatura" no crescimento dos anéis das árvores, como o percebeu Douglass..Em síntese, o crescimento das árvores, ocorre num estrato de células abaixo da casca. Nas regiões temperadas, o lenho adquire diferentes tonalidades, em resposta às variações ambientais ao longo de um período determinado, em regra o ciclo que completa as quatro estações do ano. Anéis mais largos correspondem a anos com estados do tempo ideais, anéis mais estreitos resultam, por exemplo, de períodos de seca. A soma dos anéis anuais de crescimento permite determinar a idade da espécie arbórea. O que nem sempre é um facto adquirido. Secas estivais podem levar à formação de vários anéis num mesmo ano e algumas espécies de árvores apresentam ausência de anéis ou anéis erráticos. Um crescimento que, sabemos hoje, permite a leitura de inúmeras variáveis ambientais do passado, como a temperatura, pluviosidade, fogos e a sua frequência, pragas de insetos, padrões de circulação atmosférica e mesmo o movimento dos glaciares..Anéis concêntricos que, no século III a.C., intrigavam o filósofo e botânico grego Teofrasto. Volveriam perto de dois mil anos, até ao século XVIII, para que dois franceses, Henri Louis Duhamel du Monceau e George-Louis Leclerc de Buffon, ambos com interesses na investigação com fins agrícolas, estabelecessem a relação entre os ciclos das colheitas, mais ou menos prósperos, e a largura dos anéis das árvores..Nos cem anos seguintes, as respostas do passado inscritas nos anéis das árvores, ocuparam o labor de homens que mantinham os seus interesses longe da botânica, como o norte-americano Alexander Catlin Twining, inventor de um método para produzir gelo artificial comercializável e o inglês Charles Babbage, engenheiro tido como pai da computação moderna. O primeiro, defendeu em 1833 que a cronologia inscrita nos anéis de diferentes árvores, numa mesma região, poderia estabelecer um padrão local para o clima; o segundo, propôs, em 1835, a aplicação da datação dos anéis das árvores ao estudo das mesmas encontradas em trufeiras europeias..As bases para a moderna dendrocronologia teriam aplicação prática nos áridos territórios do sudoeste da América do Norte. Em 1909, o antropólogo Clark Wissler, ao serviço do Museu Americano de História Natural, sediado em Nova Iorque, cuidou de determinar a idade de ruínas da civilização Anasazi no Novo México, com base em estruturas de madeira remanescentes. Empresa que envolveu na década seguinte os esforços de Andrew Ellicott Douglass e o método de datação que vinha a desenvolver desde 1901. A conclusão para o estudo chegaria em 1929, já sob a égide de um trabalho publicado na revista National Geographic. As ruínas dos construtores de cidades Anasazi datavam do século XII ou XIII, assim o ditava a dendrocronologia..A madeira, nobre material, tornava-se eloquente, pois utilizada numa infinidade de artefactos. A dendroarqueologia, nascida na década de 1980, assumiu-se como um método científico para determinar o intervalo de tempo exato de um período em que a madeira foi cortada, transportada e usada para a construção. Edifícios, mobiliário, pintura em painel (ver caixa), instrumentos musicais, viram a sua origem resgatada a um passado nebuloso, através da leitura dos anéis da madeira que serviu à sua construção..Já no final do século XX, os vestígios do Forte Navan, estrutura erigida na Idade do Ferro irlandesa, revelaram uma história multimilenar. Um, entre os 200 postes de madeira encontrados sob o solo, trouxeram para o presente a memória de um carvalho derrubado no ano 95 a.C..A dendrocronologia desempenha um papel importante na história da arte, na datação de pinturas em painel e na proveniência da madeira que lhe está na origem. Em 1916, a National Portrait Gallery, em Londres, adquiriu a pintura a óleo sobre painel, "Maria, Rainha dos Escoceses"..Por séculos, tomou-se a obra como uma cópia do século XVIII, a partir de uma miniatura perdida do mesmo retrato existente em Florença. Em 2005, a dendrocronologia, a par de outros métodos de datação, determinou a idade real da pintura: a peça em madeira que lhe serviu de base, provinha de uma árvore abatida no século XVI. A obra é agora aceite como um original.. dnot@dn.pt