O último discurso de Isaac Herzog, presidente de Israel, na sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos foi um sinal da proximidade dos dois países. Mostra também a compreensão da importância da cooperação futura para o fortalecimento de Israel frente aos desafios que enfrenta no Médio Oriente. A reação dos membros do Congresso dos EUA e o seu apoio às palavras do presidente Herzog são, obviamente, a prova da linha geral da política externa americana em relação a Israel..Mas, há um outro lado das relações entre os dois países. As últimas tentativas do governo israelita de reformar o sistema de justiça e estabelecer a supremacia dos eleitos no controlo judicial da atividade do governo estão a acontecer agora, contra a resistência dos milhares de israelitas que se manifestam contra há tanto tempo. Está muito claro que a administração do presidente dos EUA, Joseph Biden, não apoia a atual política do governo israelita..A chamada "reforma do sistema judicial" está a tornar-se o ponto de divisão na sociedade israelita, tão profundo que mesmo o potencial compromisso (na minha opinião impossível) entre o governo e a oposição pode não aplacar a raiva de milhares de israelitas. As manifestações prolongadas podem caminhar para a exigência da renúncia do governo de direita, formado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu após as últimas eleições. A coligação que formou entre o Likud e os partidos de extrema-direita entrará definitivamente em crise quando o primeiro-ministro tentar encontrar uma forma de acabar pacificamente com as manifestações. Até agora, ele está a chamar à agitação "um sinal da forte democracia israelita", a mesma afirmação feita pelo presidente Herzog no seu discurso ao Congresso dos EUA. Essa opinião ainda não minimizou as objeções de Washington aos planos do governo israelita, especificamente sobre a posição do Supremo Tribunal, as eleições de juízes e a política de colonatos na Cisjordânia. As palavras do presidente Biden são extremamente fortes, independentemente da explicação sobre a forma como os amigos falam entre si, e alertam para que a atual política do governo de Netanyahu terá sérias consequências, e já tem, (problemas nas negociações dos EUA com a Arábia Saudita sobre a normalização das relações com Israel)..A situação e os possíveis desenvolvimentos estão a tornar-se bastante claros. Se teoricamente o governo chegar a um compromisso com a oposição, ainda haverá reforma da justiça, talvez menor, mas real. A expectativa dos que se opõem não é a favor do compromisso, mas da mudança total da política. Se Netanyahu tentar desistir da reforma, os seus parceiros de coligação de direita podem deixar o governo e mandar o país para novas eleições. Mas, se o governo continuar a agir com as novas leis que minimizam o papel do Supremo Tribunal no controlo do Knesset, os manifestantes podem esquecer o sistema judicial e pedir a renúncia da coligação no governo. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelita tem de pensar no seu próprio problema, o seu julgamento por corrupção..Numa apreciação geral, já existem problemas suficientes para o governo dentro do país, bem como fora, na arena internacional, e isso não pode continuar. Ignorar as divisões na coligação política governante em Israel não é uma solução, independentemente da capacidade de alguns políticos funcionarem sob pressão por mais tempo..Os custos só irão aumentar enquanto o governo oferecer mais analgésicos e a situação se mantiver igual..Investigador do ISCTE-IUL e antigo embaixador da Sérvia em Portugal