Anadia. Veterano regressa para defrontar antiga braço direito
Teresa Belém Cardoso ficará para sempre na história do município de Anadia como a primeira mulher a liderar o executivo da Câmara Municipal e à frente de um movimento independente. E é precisamente o fundador do MIAP (Movimento Independente Anadia Primeiro) que vai defrontar nas pró- ximas eleições autárquicas. Feitas as pazes com o PSD, Litério Marques, de 76 anos, decidiu candidatar-se pelos sociais-democratas a mais quatro anos de gestão, depois de em 2013 ter atingido o limite de mandatos.
Durante largos anos, a engenheira Teresa - como é conhecida - foi o braço direito de Litério Marques. Foi técnica, vereadora, vice--presidente da autarquia. E em 2013 apresentou-se como cabeça--de-lista do MIAP, fundado por Litério Marques. "Não havia ligação entre a estrutura local do PSD e o seu candidato. É uma situação aborrecida. E, além disso, havia a limitação de mandatos", diz o candidato social-democrata, justificando, assim, a criação do movimento.
Num concelho historicamente PSD, o eleitorado votou no MIAP, que venceu as eleições, embora sem maioria absoluta. Com 41,42% dos votos, foi feita uma aliança com o vereador eleito pelo PS, que entretanto manifestou que iria apoiar Teresa Cardoso no próximo combate eleitoral. Litério Marques, que durante 16 anos tinha sido presidente da autarquia, ficou como vereador até ao início deste ano, quando Teresa Cardoso lhe retirou os pelouros.
Em declarações recentes ao DN, a atual presidente, que desta vez não se mostrou disponível para falar, assumiu que há quatro anos não lhe "passaria pela cabeça esta reviravolta". "Acompanhei o professor Litério durante mais de 16 anos nas suas funções (desde presidente da junta à câmara). As pessoas que não aceitaram a nossa candidatura pelo movimento independente são hoje as mesmas que continuam à frente do partido e que propuseram a nossa expulsão. Jamais me passaria pela cabeça que ele aceitaria um convite por um partido que nos expulsou", afirmou.
Nos últimos meses, o candidato pelo PSD denunciou alegadas "irregularidades" que diz terem sido cometidas pelas pessoas que com- põem a câmara. "A melhor forma de defender o meu concelho deste tipo de pessoas é candidatar-me. Quero tentar acabar com coisas que são gravíssimas e com as quais não podia compactuar", avança ao DN. Ao candidatar-se, Litério Marques quer "pôr a nu situações que envergonham qualquer concelho".
Diz não ter "nada contra a atual presidente". "Acho é que ela não foi capaz de dominar aquelas pessoas ávidas do poder, pô-las nos eixos. Sempre trabalhou comigo, é uma ótima trabalhadora. Deve ter muita pena por isto estar a acontecer, mas é responsável", afirma.
Em causa, explica, estão diversas situações que, em alguns casos, podem até configurar crime. "Forjam documentos para justificar obras; adjudicam obras sem caderno de encargos; fazem-se empreitadas para coisas que nunca se fizeram", denuncia. O ex-presidente diz que há inclusive um vereador que "leva os carros da câmara para casa e anda ao fim de semana neles a passear com a família".
Garantindo ter documentos que provam as acusações que faz, Litério Marques diz que tem sido feita "muita caça ao voto com dinheiro público". "Fazem-se entradas para as casas, estradinhas... E o essencial não se faz. A senhora presidente deve ter gastado mais de cem milhões de euros. Não se vê uma obra", lamenta, manifestando-se confiante. "Se for capaz de fazer chegar às pessoas tudo o que se tem feito de mal no concelho, as minhas expectativas são ótimas."
Associações e animais
As associações são uma das prioridades do candidato do PSD: "É preciso avaliar o trabalho de cada associação e ajudá-las a ter um projeto que represente algo de signi- ficativo para o concelho. Muitas delas nem têm associados nem projeto e recebem subsídios." Outra é a construção de um canil: "Temos obrigação de ter um canil no concelho onde os munícipes possam deixar os animais."
Litério Marques diz que é urgente avançar com o acesso à autoestrada. "O desenvolvimento industrial é prioritário e tem de se fazer algo nesse sentido. Farei todo o esforço para que venhamos a ter a possibilidade de aceder às grandes distâncias de forma livre."
Mesmas políticas
Fátima Flores, que repete a candidatura de 2013 como cabeça-de-lista da CDU, diz que o facto de o partido não ter representantes na vereação e na Assembleia Municipal a impede de saber "muito do que se passa no concelho". "Num município tradicionalmente PSD, faz falta uma visão de esquerda sobre os assuntos mais prementes", destaca. Refere-se, por exemplo, às acessibilidades, aos transportes, ao ambiente e ao Plano Diretor Municipal, que, no seu entender, privilegia a construção urbana em detrimento da rural, levando à desertificação das aldeias.
Quanto ao mandato que agora termina, Fátima Flores não viu "uma diferença muito grande de atuação relativamente aos do PSD". No seu entender, a criação do MIAP foi mais uma mudança "de pessoas do que de políticas". Houve mais investimento na cultura, reconhece, mas "os vícios dos anteriores mandatos continuam".