Ameaça independentista catalã aproxima PSOE e PP
Num discurso a fazer lembrar os do antecessor, Artur Mas, Carles Puigdemont prometeu ontem em Barcelona implementar a declaração independentista na Catalunha, mesmo sabendo que esta foi anulada pelo Tribunal Constitucional em dezembro. O novo presidente da Generalitat explicou que os tempos não estão para "cobardes" e garantiu que será o líder "da pré-independência".
As palavras deste ex-jornalista - presidente da Câmara de Girona até Artur Mas ter decidido, no sábado, afastar-se para conseguir o apoio da CUP, um pequeno partido de extrema-esquerda cujos dez deputados conquistados nas eleições de 27 de setembro são essenciais para os independentistas conseguirem a maioria no parlamento - tiveram reação imediata em Madrid. E num momento em que o primeiro-ministro Mariano Rajoy, depois da vitória curta nas eleições de 20 dezembro, parece ele próprio incapaz de obter uma maioria de governo, o executivo do PP recebeu o apoio imediato do PSOE frente à ameaça secessionista catalã. O governo em funções pode contar com o PSOE para defender "a Constituição e a lei" porque Espanha precisa de "um executivo estável", garantiu o líder parlamentar socialista, Antonio Hernando. Este recusou falar de outra coisa a não ser da Catalunha e sublinhou que este apoio não tem nada a ver com as negociações para formar governo em Madrid.
Sánchez sob pressão
Mas no PP todos sabem que o acordo alcançado entre a lista Junts pel Sí e a CUP, dando à Catalunha um executivo que promete aplicar o calendário independentista, aumenta a pressão sobre Pedro Sánchez. O líder socialista, que na quinta-feira veio a Lisboa para um encontro com o primeiro-ministro António Costa e parece empenhado numa solução à portuguesa que passaria por uma "coligação de esquerdas" continua dependente do Podemos para chegar à chefia do governo. Mas o partido de Pablo Iglesias insiste em apoiar um referendo à independência na Catalunha; uma pré-condição às negociações que os socialistas recusam aceitar.
Numa intervenção ao fim do dia a partir da Moncloa. Rajoy lembrou que "Espanha é uma nação livre e europeia. Uma democracia consolidada e avançada. Conseguimos isso com o nosso esforço e vamos preservar o bem por que lutámos juntos". O primeiro-ministro garantiu que "temos mais instrumentos que nunca para defender a unidade" de Espanha. E já entrou em contacto com Sánchez e o líder do Ciudadanos Albert Rivera. Rajoy deve aproveitar a primeira sessão do novo parlamento espanhol, quarta-feira, para defender a necessidade de um governo de ampla maioria, que ofereça estabilidade a Espanha. O primeiro-ministro em funções já várias vezes referiu o interesse numa grande coligação que junte PP com PSOE e Ciudadanos.
O novo governo catalão, além de Puigdemont na presidência, vai ter três macroconselheiros, todos parte da lista da Junts pel Sí e cada um com uma área específica. Oriol Junquera, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), será vice-presidente e responsável pela Economia; Neus Munté, da Convergência Democrática da Catalunha (CDC, o partido de Artur Mas), fica com a área da Segurança Social e Raül Romeva, número um da Junts pel Sí, será responsável pelos Assuntos Institucionais e Externos.