Amado: "Não vamos pedir capital aos acionistas." E o BCP recuperou 200 milhões

Ações dispararam 15,4% depois de Nuno Amado tranquilizar investidores. "Se há coisa que temos é disciplina", garantiu o banqueiro
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Depois de oito sessões em perda, as ações do BCP fecharam a subir. A recuperação valeu-lhe, só ontem, um ganho de 200 milhões em capitalização bolsista. Para acabar com parte da especulação do mercado que antecipava um possível aumento de capital e que estava a penalizar as ações, Nuno Amado veio a público descartar qualquer operação.

"O BCP é superdisciplinado e não está a ser equacionada por nós qualquer operação relacionada com o Novo Banco que implique aumentos de capital dos nossos acionistas", afirmou o presidente do BCP. Em entrevista à Reuters, Nuno Amado salientou que o banco "sempre disse que iria analisar a venda do Novo Banco mas apenas porque, pela sua dimensão relativa no sistema, não lhe cabia outra alternativa, senão perceber quais as vias possíveis". "Os acionistas podem estar tranquilos pois o BCP não está a considerar uma operação ou quaisquer operações que impliquem aumentos capital", realçou o banqueiro. "Temos uma estratégia muito focada e disciplinada, e que fique claro: não há nenhuma intenção de pedir capital aos acionistas, nem para fazer uma fusão por fusão. Para ser sincero, até acho que não é um caminho viável."

Na Bolsa de Lisboa, os títulos fecharam ontem a disparar 15,4%, para os 2,55 cêntimos, com mais de 1,07 mil milhões de papéis a serem mudados de mãos. Com a maior subida em dois anos, o BCP recuperou 200 milhões de euros do seu valor de mercado só na sessão de ontem, contando agora com um market cap de 1,5 mil milhões de euros.

Apesar do desempenho muito positivo, a subida ainda não é suficiente para compensar as perdas dos últimos dias. O saldo continua a ser negativo, em 442,8 milhões de euros. Desde o arranque do ano que o banco não dá dinheiro aos investidores, uma vez que apresenta uma desvalorização de 48% em 2016.

Vários fatores têm estado a pressionar os títulos do BCP. Duas notas de análise desfavoráveis, os receios de aumento de capital, a saída de um índice de ações e a redução recente de posição da Blackrock contribuíram para a tempestade perfeita, arrastando a instituição. Mas, ao contrário do que aconteceu na semana passada, a decisão da CMVM de proibir a venda a descoberto (short selling) de ações do BCP entre ontem e hoje parece ter tido efeito.
Inverter o ciclo

As declarações de Nuno Amado sobre as intenções do BCP relativamente ao Novo Banco e sobretudo a clarificação aos acionistas sobre um eventual aumento de capital podem ser determinantes para o banco inverter o ciclo de perdas. Esses são dois dos fatores que os analistas contactados pelo DN/Dinheiro Vivo realçam como essenciais à recuperação do banco.

Para Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa, era necessário clarificar três coisas: "A necessidade de aumento de capital, a intenção relativamente ao Novo Banco e a situação do crédito malparado." Também Albino Oliveira defende que "há já bastante tempo que os investidores estão preocupados, não obstante o BCP continuar a dizer que não pretende avançar para uma operação de aumento de capital". Por isso, "o reembolso das obrigações CoCo ainda na posse do Estado e uma melhoria nos resultados do banco (permitindo a geração de capital de forma orgânica) poderiam revelar-se importantes", salienta o analista da Patris Investimentos. O BCP já pagou 2250 milhões de euros dos 3 mil milhões pedidos ao Estado e tem pendente um pedido para avançar já com mais 250 milhões, apesar de o empréstimo só se vencer em 2017.

Quanto ao Novo Banco, o analista da Partis defende que "será necessário maior visibilidade, por exemplo com a apresentação (ou não) de uma proposta de compra por parte do BCP durante as próximas semanas". Frederico Antão, da sala de mercados da corretora BIZ, é mais concreto: o BCP devia "afirmar perentoriamente que não vai comprar o Novo Banco e irá perseguir com determinação o downsizing e o corte de custos".

O "efeito de queda na ação foi preocupante e o BCP está a monitorizar, mas os investidores não devem recear, porque o banco está razoavelmente preparado para fazer face ao seu futuro próximo, e se há uma coisa que nós temos, é disciplina", garantiu Nuno Amado.

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