A ciclovia da Almirante Reis vai manter-se, mas com nova alteração que se traduz num regresso a um formato muito próximo do original. A intenção da Câmara de Lisboa passa agora por criar uma ciclovia bidirecional no sentido descendente da avenida (Areeiro/Martim Moniz), que ficará apenas com uma faixa de rodagem, enquanto o sentido ascendente passará a ter duas vias para carros..A solução apresentada na noite de quarta-feira numa sessão pública no Fórum Lisboa - e que não foi dada como fechada - é semelhante à versão inicial da ciclovia, que tinha duas vias, mas no sentido ascendente da avenida. Um desenho que viria a ser alterado cerca de seis meses depois para a versão atual, com uma faixa em cada sentido, dos dois lados do separador central. Na campanha eleitoral, Carlos Moedas tinha prometido acabar com a ciclovia da Almirante Reis, que sempre qualificou como mal desenhada e mal estruturada..O novo modelo foi apresentado pelo arquiteto paisagista João Castro, que tem conduzido as sessões de participação pública sobre a Almirante Reis. Na reunião desta quarta-feira, sem a presença de Carlos Moedas ou do vereador da mobilidade, Ângelo Pereira, a solução da ciclovia bidirecional foi apresentada como "provisória e expedita", "promovendo maior escoamento do tráfego" e "diminuição dos níveis de poluição". Por outro lado tem a desvantagem de não ser "uma solução urbana estruturante, linear e simétrica, e esteticamente consistente"..Almirante Reis. O que fazer com esta avenida?.O arquiteto avançou também que as duas faixas dedicadas aos transportes públicos - uma em cada sentido - devem passar a ser de velocidade máxima de 30 quilómetros/hora. Em ambos os casos será possível entrar na pista ciclável, mas com separadores que obrigam a circular devagar. Esta solução provisória, garantiu João Castro, "não altera qualquer lugar de estacionamento, de cargas ou descargas na rua" e pode ser implementada "sem recorrer a grande obra", no prazo de "seis a sete meses"..Miguel Pinto, primeiro signatário da petição pública Avenida Almirante Reis, pela manutenção da ciclovia e um processo participado sobre o futuro, que reuniu quase três mil assinaturas, considera que esta iniciativa "cumpriu os seus principais objetivos", na medida em que se mantém a rede ciclável na avenida e em que se perfila uma intervenção em maior escala em todo o espaço da Almirante Reis, uma intenção já anunciada por Carlos Moedas. Sobre o modelo avançado esta quarta-feira sublinha que o mais importante é que "permite manter a ciclovia". "Tem subjacente uma prioridade aos carros, mas é um passo positivo face ao que foi anunciado antes das eleições", sublinha. Quanto ao outro ponto defendido pelos peticionários, que passa por lançar uma "discussão que permita repensar a Almirante Reis de uma forma mais integrada", que se "preocupe com os espaços públicos e os espaços verdes" - uma avenida "para estar e não para atravessar" -, Miguel Pinto assinala que a câmara abriu a porta a este debate e que agora é preciso garantir a participação pública dos lisboetas nesta discussão..Para Miguel Gaspar, atual vereador do PS e detentor da pasta da mobilidade no anterior executivo, "a ciclovia da Almirante Reis ganhou". "São boas notícias", diz ao DN, e um "recuo do presidente da câmara face às suas declarações anteriores"..Miguel Gaspar lembra que o desenho que agora é avançado foi o primeiro proposto pelo anterior presidente da autarquia, Fernando Medina - uma via bidirecional no sentido descendente. O modelo nunca passou do papel, acabando por ser alterado após a consulta pública sobre a ciclovia, passando então para a via ascendente que, essa sim, foi já implementada. Segundo Miguel Gaspar, a mudança deveu-se sobretudo à questão da circulação das ambulâncias que se dirigem ao Hospital de São José, que "usam mais o sentido descendente". Antecipando que "vai aumentar o conflito entre as bicicletas e as ambulâncias" - que poderão aceder ao espaço da ciclovia para contornar os carros, numa faixa que ficará mais apertada do que atualmente -, o vereador socialista diz que esta é uma "situação que tem de ser avaliada e acautelada" e diz esperar agora pela "fundamentação técnica a apresentar pela câmara"..Para o PCP a proposta apresentada "é mais uma que se limita a refazer temporariamente o tráfego da Almirante Reis com a introdução de uma outra versão experimental da ciclovia, quando o que a avenida precisa há muito é de um projeto de requalificação consistente". Já o BE Lisboa sublinhou, em comunicado, que esta é uma "enorme vitória da sociedade civil lisboeta e uma derrota de Carlos Moedas, que há um ano afirmava que a ciclovia é para acabar". O Livre defende que a "proposta apresentada não é melhor que a solução atual" - "já esteve em cima da mesa, foi discutida com a população e foi alterada por ter vários erros", "dá mais espaço aos carros e não resolve problemas estruturais"..O futuro da Almirante Reis, no que se refere à ciclovia e a uma posterior intervenção mais ampla, deverá ser detalhado no decorrer da próxima semana..Com Lusa.susete.francisco@dn.pt