Alemanha reconhece genocídio arménio e turcos ameaçam retaliar
O Parlamento alemão reconheceu ontem o genocídio arménio, enfurecendo o governo da Turquia, país que admite a morte de cristãos arménios na I Guerra Mundial, mas recusa falar em genocídio. Ancara mandou chamar o embaixador alemão no país e prometeu que o voto dos deputados alemães não ficará sem resposta. O governo da Arménia, por seu lado, enalteceu a votação no Bundestag.
"Com um voto contra e uma abstenção esta resolução foi aprovada por uma maioria notável do Parlamento alemão", disse a seguir à votação o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, citado pela agência Reuters. Vários países da União Europeia, como por exemplo França, Itália e Polónia, já aprovaram resoluções semelhantes.
Na Alemanha a votação da resolução foi promovida pelos Verdes, mas teve o apoio dos sociais-democratas e dos conservadores, partidos aliados na grande coligação liderada por Angela Merkel. A chanceler não esteve presente na votação, por motivos de agenda. O mesmo aconteceu com o vice-chanceler e líder do SPD, Sigmar Gabriel, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier.
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Receosa do impacto que a aprovação desta resolução pode ter nas relações Berlim-Ancara, Merkel sublinhou que os laços entre os dois países são muito fortes. "É muito o que liga a Alemanha e a Turquia e mesmo que tenhamos opiniões diferentes sobre uma dada questão é muita a grandeza das nossas ligações, da nossa amizade, dos nossos laços", disse a chanceler em Berlim, numa conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. Tanto a Alemanha como a Turquia são membros da Aliança Atlântica.
Merkel deixou ainda uma palavra aos 3,5 milhões de cidadãos de origem turca na Alemanha. Centenas deles tinham-se manifestado no sábado em frente ao edifício do Reichstag para contestar a votação daquela resolução. "Eu quero dizer às pessoas com raízes turcas: não só são bem-vindos neste país como fazem parte dele", disse a chanceler, ciente também de que há cerca de seis mil empresas alemãs a operar em território turco. E de que a Alemanha e a União Europeia precisam da colaboração dos turcos para responder à grave crise dos refugiados, especialmente os vindos da Síria.
De visita a Nairobi, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse apenas que a resolução aprovada pelos alemães irá afetar as relações entre os dois países e que o governo irá discutir que medidas poderão ser tomadas por Ancara. "A melhor maneira de encerrarmos os capítulos negros da nossa própria história não é remexer na história dos outros países com decisões parlamentares irresponsáveis", escreveu no Twitter o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu.
O novo primeiro-ministro turco classificou o voto como "ridículo". Binali Yildirim considerou que na origem desta resolução se encontra um "lóbi arménio racista". Já o ministro dos Negócios Estrangeiros arménio, Edward Nalbandian, afirmou que esta votação é "um contributo de grande valor" para "o reconhecimento e condenação internacional do genocídio arménio".
Durante a I Guerra Mundial e a desagregação do Império Otomano centenas de milhares de cristãos arménios morreram. Houve deslocação de populações e massacres. A Arménia fala em 1,5 milhões de mortos mas a Turquia diz que o número é inferior. Ancara rejeita o uso do termo genocídio, defendido por alguns historiadores, mantendo que as mortes ocorreram em confrontos durante a I Guerra Mundial. E alega que muitos turcos também sofreram com aquele conflito. "Foi um evento normal que ocorreu em tempo de guerra em 1915", sublinhou o chefe do governo turco.
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