A três dias das eleições alemãs, os candidatos ou líderes dos sete partidos com representação no Bundestag participam hoje no último debate televisivo - transmitido pela ARD e ZDF. Apesar de a corrida à sucessão de Angela Merkel ser oficialmente a três, entre Armin Laschet (CDU/CSU), Olaf Scholz (SPD) e Annalena Baerbock (Verdes), dois dos restantes três partidos - os liberais do FDP ou a esquerda do Die Linke - podem ter uma palavra a dizer numa futura coligação de governo. Só uma aliança com a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) continua fora dos planos de qualquer dos outros partidos..O debate é por isso uma última oportunidade para atrair o voto dos indecisos - quatro em cada dez eleitores ainda não escolheram em quem vão votar no domingo, segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Não temos o atual titular a concorrer. Temos três em vez de dois partidos a tentar chegar ao cargo de chanceler. E não é muito claro, ou melhor, está longe de ser claro, que coligação de governo podemos ter. Por isso entendo que é mais difícil decidir", disse o professor de Política da Universidade de Mannheim, Thomas Gschwend, à emissora estatal Deutsche Welle..Além disso, nenhum dos três candidatos à sucessão tem o carisma de Angela Merkel, há 16 anos no poder. Diante da queda do candidato da aliança conservadora da CDU/CSU, a chanceler envolveu-se mais na campanha - despedindo-se na terça-feira à noite do seu círculo eleitoral (que ganhou desde 1990) com um comício em Stralsund, na costa do Báltico. Merkel disse que Laschet vai "lutar apaixonadamente" para "garantir a prosperidade nos próximos anos e tornar a Alemanha segura", apelando aos eleitores para darem o seu voto aos conservadores..Desde agosto que Laschet, de 60 anos, não surge à frente nas intenções de voto (é segundo com 22%), tendo começado a cair acentuadamente desde julho. Não terá ajudado o facto de, nesse mesmo mês, ter sido apanhado a rir-se durante um discurso do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, numa cidade afetada pelas cheias que mataram quase 200 pessoas - incluindo no estado que governa desde 2017 (Renânia do Norte-Vestefália). Apontado como o candidato da continuidade, Laschet aposta no seu currículo (também foi deputado e eurodeputado) e recuperou algum terreno perdido nos últimos dias. Resta saber se tem tempo. No debate desta quinta-feira, estará também o líder da CSU (os aliados bávaros da CDU), Markus Söder, preterido na escolha para candidato a chanceler da aliança..No passado domingo, o frente-a-frente foi a três. O debate ficou marcado não por ataques cruzados, mas por um alvo claro, Laschet, com uma aproximação óbvia entre o candidato do Partido Social-Democrata (SPD, que tem à volta de 25%) e a dos Verdes, que em maio chegou a estar na liderança da corrida. "A CDU deve ir para a oposição. Representa as políticas do passado", disse Baerbock. "Não faço segredo do facto de que idealmente gostaria de formar um governo com os Verdes", indicou Scholz, atual ministro das Finanças e vice-chanceler de Merkel..Os dois partidos governaram juntos de 1998 a 2005, sob os comandos do chanceler Gerhard Schroeder. Na altura, os Verdes eram um partido muito mais pequeno (tinham menos de 10% dos votos a nível nacional) e com menos força do que agora, surgindo nas sondagens com mais de 15% das intenções de voto - em maio estiveram próximo dos 30%. Baerbock, de 40 anos, é a primeira candidata dos Verdes a entrar oficialmente na corrida a chanceler. Até agora, a luta tinha sido sempre a dois, entre a CDU/CSU e o SPD..A nomeação da colíder (inicialmente apontada como sendo menos popular do que o parceiro de liderança Robert Habeck) pareceu impulsionar o partido. Mas rapidamente ficou debaixo dos holofotes e isso levou ao destapar de acusações de plágio no seu último livro e de exagerar no seu currículo. Aos poucos tem vindo a cair nas intenções de voto, com Scholz a acabar por se transformar no favorito..O candidato do Partido Social-Democrata (SPD), de 63 anos, muitas vezes comparado a um robot devido à falta de carisma, quer seguir os passos da chanceler: ela própria considerada uma política sem carisma e uma outsider dentro do seu partido até ser eleita..Apontado como o vencedor dos três debates televisivos, Scholz tem a missão mais fácil nesta quinta-feira: só tem que repetir a prestação que tem tido até agora. Na segunda-feira, passou um teste potencialmente complicado, quando respondeu em pessoa (e não por videoconferência, como era esperado) numa comissão parlamentar ao porquê de os funcionários do seu ministério não terem transmitido à Justiça as informações sobre uma suposta operação de lavagem de dinheiro. O caso tem sido citado várias vezes por Laschet, à procura de encurtar a distância para Scholz..As sondagens apontam para um Parlamento alemão mais dividido e na hora de conquistar uma maioria não importam só os maiores partidos. Os liberais de FDP, liderados por Christian Lindner desde 2013, estão habituados a ser os "fazedores de reis" - já fizeram coligações com os conservadores e com o SPD. Lindner, de 42 anos, prefere agora aliar-se a Laschet, dizendo que defenderá essa hipótese mesmo se a CDU/CSU ficar em segundo lugar. A ideia seria formar uma coligação "Jamaica" (pelas cores dos partidos), que incluiria os Verdes, algo que Merkel já tentou fazer em 2017 mas falhou porque o FDP se queixou de ter sido posto de lado durante as negociações. Surgem com 12% das intenções de voto..Mas o Die Linke, coliderado por Janine Wissler e Susanne Hennig-Wellsow, poderá também ter uma palavra a dizer no futuro governo, numa eventual aliança à esquerda com o SPD e os Verdes. O problema passa pela política externa que defende, nomeadamente, a saída da NATO e uma aproximação à Rússia, sendo que um compromisso com a aliança atlântica é uma das condições exigidas pelos potenciais parceiros para um qualquer diálogo. O Die Linke tem à volta de 7% das intenções de voto..Há ainda a extrema-direita, estável nos 11% nas últimas sondagens, mas ninguém quer aliar-se com o partido de Jörg Meuthen e Tino Chrupalla. Nestas eleições, a AfD perdeu o fôlego com a ausência da sua grande adversária e principal alvo: a própria Merkel..susana.f.salvador@dn.pt