Vasco Pulido Valente disse, e bem: "Cá fico à espera das bofetadas." Porque as palavras são isso, palavras. Enquanto palavras, as bofetadas são palavras, não mais. As bofetadas não se prometem, dão-se e, até prova em contrário (serem dadas), são palavras. Mas podem ser erradas, como foram, neste caso, as de João Soares. Nesta edição temos a foto do último duelo em Portugal, 1925. O jornalista do DN escreveu: "Levávamos aquela boa disposição de sempre, a habitual dos espectadores de duelos, de antemão sabendo que ao fim havia de se dar um aperto de mão reconciliador. Um duelo! A costumada comédia..." Palavras... O azar é que, daquela vez (é o problema por vezes das palavras), um dos duelistas morreu de ataque cardíaco. Quer dizer, as palavras, apesar de palavras, podem ter consequências. Dito isto (e porque só estamos no domínio do dizer), o que mais impressiona no episódio das lamparinas prometidas é o palavrório que desencadeou. Demissão! - não se fez por menos. E culpa acrescida por vir de um ministro da Cultura! - supina estupidez. Exatamente por ser de um ministro da Cultura e para dois cronistas, "um par de bofetadas" ganha o estatuto de poder ser dito que não teria, por exemplo, um inspetor do SEF falando a um homem sem passaporte. Aquela conversa Soares-VPV-Seabra é, que diabo, entre iguais. Eu seria ainda mais breve que VPV e responderia ao ministro, assim: "Circunlóquio!" Ou talvez: "Perfunctório!" Palavras, enfim.