Agora, quando "o mar está flat" é que dá mais prazer surfar

A tecnologia do hydrofoil aplicada ao surf é uma evolução desta modalidade, em todas as suas vertentes, com resultados surpreendentes. Na sua mais tecnológica versão, o e-foil, permite "voar" sobre a água mesmo quando esta está "espelho".
Publicado a
Atualizado a

Houvesse há 180 anos os materiais que existem hoje em dia e, muito possivelmente, o DN teria dado a notícia de Alexander Graham Bell ter patenteado uma prancha de surf que "voava" sobre a água.

O inventor do telefone foi um dos especialistas da segunda metade do séc. XIX que pesquisou ativamente a aplicação da tecnologia do hydrofoil -- já conhecida no seu tempo -- para embarcações. Aliás, o seu engenheiro-chefe Casey Baldwin foi pioneiro no desenvolvimento desta tecnologia, trabalhando sobre conceções do inventor italiano Enrico Forlianini.

Assim, nesta altura já se sabia como se podia aplicar a um qualquer veículo aquático uma estrutura tipo barbatana para que, com a velocidade, esta o elevasse, reduzindo o atrito da água e, desta forma, aumentasse substancialmente a velocidade do mesmo.

Com o fascínio que a invenção havaiana que remontava pelo menos ao século XII e que o mundo viria a conhecer como surf -- que tanto fascinou autores como Mark Twain ou Jack London, contemporâneos de Bell --, viria a provocar, quem sabe se o salto lógico de aplicar o hydrofoil às pranchas não teria acontecido logo na altura?

Mas não era possível. Foi mesmo preciso esperar que a engenharia de materiais evoluísse de forma a acompanhar a imaginação dos inventores.

Pudesse Bell imaginar a revolução permitida pela fibra de carbono (ou mesmo a fibra de vidro), pelos motores elétricos -- e as baterias de lítio -- e pela digitalização...

Juntando isto tudo, a dupla pai e filho Nick e Michael Leason, sediados em Porto Rico, criaram a eFoil: uma prancha de surf que, literalmente, eleva a modalidade acima da água. Simplificando: pegaram na prancha e no hydrofoil e juntaram-lhe ainda um motor elétrico controlado remotamente por Bluetooth.

YouTubeyoutubei9yCe6ibhzU

A empresa da família é a Lift Foils, que vende as suas pranchas diretamente através do seu site liftfoils.com. Os preços rondam os 11 mil euros, o que inclui prancha, bateria, foil e comando.

Parece-lhe muito caro? Calma. A concorrência não esteve parada. A empresa Portugal Foils traz para o nosso país a Flyer One, cujo modelo mais sofisticado, a Kevlar, custa oito mil euros. Pode marcar uma volta com ela no site antes de a comprar... E sempre lhe serve para experimentar. Aliás, se comprar não é opção para si, pode simplesmente contratar umas voltinhas.

Certo é que estas pranchas literalmente voam sobre a água, mesmo quando esta está totalmente parada. Aliás, pode mesmo argumentar-se que ela funciona melhor exatamente quando o mar está "flat".

E há ainda mais barato. Na Decathlon existe uma Takuma eFoil Cruising por menos de seis mil euros. São as muitas vantagens da economia de mercado.

Se a ideia lhe agrada mas quer só ter umas aulas, ou falar com aficionados, a página do Facebook do eFoil Portugal pode ser um bom ponto de partida para se juntar a esta comunidade.

Mas antes ainda da invenção do pai e filho Leason já a aplicação de um foil a uma prancha era algo que se praticava. E todas as modalidades podem ganhar com isso: ao reduzir drasticamente a superfície em contacto com a água, e consequentemente o atrito, consegue-se uma maior velocidade mesmo quando as circunstâncias no momento de outra forma não o possibilitariam -- ou seja, mais rapidez com ondas menos fortes ou menos vento.

O foil (não motorizado) pode assim ser aplicado ao surf, ao windsurf, ao kitesurf, etc.

Para isso o ideal será comprar pranchas especificamente adaptadas para o efeito... Ou será que não?

Primeiro as más notícias: não o faça.

Não é que não seja possível. Provavelmente até o pode fazer. A questão é se o deve fazer. O risco que corre é de estar a dar cabo de uma prancha de surf perfeitamente boa para ficar com uma prancha medíocre que, a qualquer momento, até se pode partir.

Isto porque o foil vai obrigar a sua prancha tradicional a suportar todo o peso no último quarto traseiro e, estruturalmente, ela não foi concebida para isso.

Não quer dizer que não funcione... Mas existe sempre o risco de, no limite, ela se quebrar durante a prática do surf.

Claro que se quiser mesmo arriscar...

Existem no mercado kits de transformação de pranchas tradicionais para pranchas de foil . A F-One Portugal tem um à venda por apenas 35 euros. Após instalar o kit, é escolher um foil, aplicá-lo na prancha e ir para a água... Mas depois não diga que não o avisámos!

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt