A Agência Portuguesa da Energia (ADENE) admite existir "uma preocupação" ao nível europeu com o risco de rutura de abastecimento de gás no próximo inverno devido aos problemas no fornecimento russo, salvaguardando existir "mais do que uma alternativa".."Existe claramente a preocupação e existe claramente o interesse em que em que isso não aconteça", declara o presidente da ADENE, Nelson Lage, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas..Numa altura em que a ADENE preside à Rede Europeia de Energia (EnR), composta por 24 agências de apoio aos governos na Europa, o responsável estima que, em termos europeus, haja "mais do que um plano de contingência, mais do que uma alternativa, e estará certamente pensado mais do que um cenário".."Temos as instituições e temos os vários países a pensar naquilo que serão as suas necessidades para o próximo inverno", mas esta situação revela que "é preciso haver complementaridade, não pode haver isolamento, e temos que ter em mente que no espaço europeu, como um único espaço de energia, se deve poder tirar partido daquilo que é o 'mix' energético que temos na Europa, que é bastante diversificado", salienta..De acordo com Nelson Lage, "a Europa está claramente a apostar naquilo que é a questão das fontes de abastecimento e aí está, obviamente, a negociar por um lado com outros países de África e com os Estados Unidos, [...] numa lógica de tentar garantir que o fornecimento de gás esteja garantido por outras vias", estando ainda a "apostar naquilo que é a diversificação" dos recursos de energia.."E isso é um trabalho que países como Portugal podem contribuir, por serem países que já estão mais avançados naquilo que é a aposta nas energias renováveis e nos resultados que obtiveram", podendo a "energia renovável disponível suprir estas necessidades no inverno", acrescenta o presidente da ADENE..No caso de Portugal, o país está ainda "a implementar medidas" para evitar cenários de rutura, embora esteja "muito mais bem posicionado por ter uma dependência menor do gás russo", adianta Nelson Lage à Lusa..Em meados de maio, a Comissão Europeia alertou para o risco de uma "grave rutura de abastecimento" de gás no próximo inverno na UE, devido aos problemas no fornecimento russo, propondo mais armazenamento e admitindo o recurso ao mecanismo de compras conjuntas..Ao mesmo tempo, a instituição solicitou aos países da UE que atualizem os seus planos de contingência, peçam aos operadores de transporte que acelerem medidas técnicas para aumentar o fluxo e ainda que realizem acordos de solidariedade, já que só 18 dos 27 países têm infraestruturas para armazenar gás natural..A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já veio entretanto garantir que a UE "está preparada", procurando alternativas à Rússia e reforçando o armazenamento comunitário..A guerra na Ucrânia, causada pela invasão russa do país no final de fevereiro passado, agravou a situação de crise energética em que a UE já se encontrava..As tensões geopolíticas devido à guerra da Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros..Em Portugal, o gás russo representou, em 2021, menos de 10% do total importado..A ADENE é uma agência pública, sob a tutela do secretário de Estado do Ambiente e da Energia e do Ministério do Ambiente e da Ação Climática, para apoiar políticas públicas em Portugal no setor energético..A EnR é uma rede voluntária com 24 agências de energia nacionais na Europa, responsáveis pelo planeamento, gestão ou revisão dos programas nacionais, que visa ainda apoiar a tomada de decisões políticas ao nível europeu. Desta rede fazia ainda parte a Rússia, que foi expulsa aquando da invasão da Ucrânia em fevereiro passado.