Afinal quantas cartas há a pedir a demissão de May? Nem a mulher de Graham Brady sabe

O processo no interior do Partido Conservador para afastar um líder é secreto e o único que sabe se já há as 48 cartas necessárias para pedir a moção de censura é o líder do Comité 1922. Que diz que há deputados que mentem em relação a ter enviado uma.
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"Nem lhe digo quantas vezes me fazem essa pergunta por dia. Fazem no supermercado, quando vou a andar na rua..." A pergunta à qual Graham Brady se referia na entrevista à BBC é aquela que vai ditar o futuro da primeira-ministra britânica. Afinal, quantas cartas há a pedir a demissão de Theresa May da liderança do Partido Conservador? Brady, o líder do Comité 1922 (o grupo parlamentar dos tories que não têm cargos no governo), nem à mulher (que é a sua assistente parlamentar) disse a resposta.

São precisas 48 cartas endereçadas a Brady para desencadear uma moção de censura à liderança de May nos tories. Um valor que o líder do Comité 1922 confirma apenas não ter sido alcançado. Publicamente, pelo menos 21 deputados conservadores disseram ter escrito uma carta. Contudo, Brady diz que há oito anos que desempenha este cargo e que no passado já houve deputados que mentiram sobre entregar a sua.

Pessoalmente, Brady - que alguns apelidam de "o mais poderoso deputado conservador do qual você nunca ouviu falar" - diz acreditar que uma moção de censura não iria ajudar a situação atual. Um grupo de deputados favoráveis ao Brexit criticou o acordo alcançado entre Londres e Bruxelas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e lançou o desafio à liderança de May na quinta-feira.

Mas, até domingo, só 21 deputados conservadores tinham anunciado publicamente ter pedido a demissão. O processo é secreto, daí a relutância de Brady em divulgar o número. Se existirem as 48 cartas, segue-se a moção de censura à liderança dos tories: 158 votos contra entre os 315 deputados do partido no Parlamento implicam a saída de May de líder do Partido Conservador e consequente do número 10 de Downing Street. E lança uma corrida à liderança.

Mas Brady criticou aqueles que alegam que ele já tem as cartas e ainda não o revelou. "Obviamente não iria jogar jogos com isto. É fundamental que as pessoas confiem na minha integridade em relação a isto", disse à BBC.

Semana crítica de negociações

A própria May, numa entrevista à Sky News, lembrou que a tentativa de a afastar da liderança partidária (e consequentemente da liderança do governo) poderá atrasar o Brexit. E avisou que não vai deixar que o desafio interno a distraia de uma semana crucial de negociações com Bruxelas.

"Os próximos sete dias vão ser críticos. Eles são sobre o futuro deste país", disse May. "Não me vou deixar distrair deste trabalho importante", indicou. "Uma mudança de liderança, neste momento, não vai tornar as negociações mais fáceis. O que vai fazer é criar o risco de que atualmente possamos atrasar as negociações e que o Brexit seja atrasado ou acabe sem efeito por causa disso", acrescentou.

Entretanto, em Bruxelas, o negociador da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier, admitiu a possibilidade de prolongar o período de transição até finais de 2022, uma ideia que será debatida na cimeira de líderes do próximo domingo, para aprovar o esboço do acordo de saída.

Segundo a agência noticiosa Efe, que cita fontes diplomáticas, esta proposta permitirá continuar a aplicar a legislação comunitária em território britânico até essa data e terá obtido uma reação positiva pelos embaixadores dos 27 países da União, reunidos em Bruxelas para analisar o acordo preliminar.

"Os Estados membros admitem que pretenderam algumas alterações mas consideram o texto equilibrado, um bom ponto de encontro e que respeita princípios básicos. Não existe o desejo de reabrir as negociações para um segundo acordo", indicaram as mesmas fontes.

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