Afinal o que são os caucus? E porque se gerou o caos no Iowa

Estado é tradicionalmente o primeiro a votar para escolher o seu candidato às presidenciais americanas. Mas desta vez uma aplicação gerou confusão no sistema de assembleias populares.
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"Este sistema não presta", esta foi a frase que muitos repetiram durante a madrugada de segunda para terça-feira no Iowa. Tudo porque o pequeno estado do Midwest, tradicionalmente o primeiro a votar nas primárias que definem qual o candidato às presidenciais de novembro nos EUA, cumpriu a tradição, realizando os caucus, as assembleias de cidadãos que escolhem os candidatos, mas um problema na aplicação que transmitiu os resultados à direção do Partido Democrata parece ter tido problemas, levando ao caos e adiando o anúncio dos resultados das primárias daquele partido.

Cinco horas depois do início da votação, o Partido Democrata continuava sem divulgar os resultados, com a organização a falar de "incoerências na compilação" e na necessidade de garantir "dados fidedignos", desmentindo qualquer irregularidade, como avançado pelo campo do presidente Donald Trump.

Apesar da ausência de resultados, vários candidatos reivindicaram a vitória. A começar por Bernie Sanders. "Quando os resultados forem anunciados, tenho a impressão que vamos assistir a um grande, grande êxito, aqui no Iowa", afirmou o senador do Vermont, favorito nas sondagens no estado que marca o arranque das primárias. "Este dia marca o início do fim para Donald Trump", sublinhou.

O antigo vice-presidente Joe Biden, que lidera as intenções de voto a nível nacional há meses, mostrou-se mais prudente, ao falar uma votação muito cerrada. "A aplicação que devia transmitir os resultados dos 'caucus' ao partido não funcionou", protestou a equipa de Biden, numa carta aos organizadores, na qual exigiu explicações.

Votar em escolas, ginásios ou igrejas

Mas afinal o que são os caucus? Ao fim do dia de segunda-feira, os eleitores do Iowa deslocaram-se até 1600 escolas, bibliotecas, ginásios ou igrejas para participar nas assembleias de cidadãos e escolherem o seu candidato. Depois de muita discussão e mudanças de grupo de apoio a candidatos, a contagem de votos é feita através da contagem de cabeças ou por mão no ar. Um sistema muito diferente das primárias nos restantes estados, como o New Hampshire, que escolhe o seu candidato no dia 11, onde os eleitores vão às urnas e votam em segredo.

A própria origem da palavra caucus não é clara. Uns acreditam que deriva da palavra cawaassough, "orador ou falante" na língua dos índios Algonquian. O American Heritage Dictionary sugere que caucus terá origem no latim e identifica um objeto para beber. A verdade é que terá começado a ser usado com o sentido moderno nas colónias britânicas na América do Norte. Numa entrada do seu diário datada de fevereiro de 1763, John Adams descreve um "caucas", uma sala cheia de fumo onde os candidatos a um cargo público são selecionados em privado.

Problemas na aplicação

As "inconsistências" nos resultados descritas pelo Partido Democrata terão sido provocadas por problemas na aplicação móvel usada para comunicar as votações das várias assembleias. Os ativistas do partido descarregaram a app para os seus telemóveis pessoais através dos quais deviam transmitir os resultados no seu caucus.

A app terá sido desenvolvida pela empresa Shadow Inc. liderada por três antigos colaboradores de Hillary Clinton, a ex-primeira dama e candidata às presidenciais de 2016. Os responsáveis pela empresa já pediram desculpas. "Lamentamos sinceramente o adiamento na divulgação dos resultados dos caucus do Iowa e a incerteza que isso causou nos candidatos, nas suas campanhas e nos eleitores democratas", escreveram no Twitter.

Uma fonte do Partido Democrata afirmou à CNN que o problema na aplicação estará relacionado com um erro de codificação que só terá sido descoberto uma vez que os dados começaram a ser transmitidos.

Não foi a primeira vez que os partidos usaram uma aplicação no Iowa. Em 2016, tanto os republicanos como os democratas recorreram a uma app desenvolvida pela Microsoft para comunicar os resultados.

"Início atribulado" e falta de sono

Já na estrada e em campanha no New Hampshire, que candidatos democratas lamentaram estes problemas. A senadora Elizabeth Warren garantiu estar a "sentir-se bem", apesar da confusão. Num comício, afirmou: "Voltámos do Iowa. Uau. Mas eis o que sabemos: é que temos uma corrida a três no topo. E nós os três vamos dividir a maioria dos delegados do Iowa. Sinto-me bem". Mas admitiu: "Foi um início atribulado".

Já Bernie Sanders mostrou-se "desiludido" com a forma como decorreu a noite no Iowa e garantiu estar a falar "por todos os candidatos, todos os seus apoiantes e pelo povo do Iowa". Questionado sobre se tinha dormido bem, o senador do Vermont retorquiu: "pouco".

"Desastre sem atenuantes", diz Trump

Donald Trump já ironizou o que chamou de "desastre sem atenuantes" das primárias democratas de Iowa. "Nada funciona, assim como quando eles geriam o país", escreveu o presidente no Twitter perante a demora da publicação dos resultados.

Quanto ao vencedor dos caucus, o presidente destacou que "a única pessoa que pode reivindicar uma grande vitória em Iowa na noite passada é Trump".

Se do lado republicano, Trump foi o grande vencedor, não tendo dificuldades em bater os restantes rivais: o empresário Rocky de la Fuente, da Califórnia; o ex-congressista Joe Walsh, do Illinois; o ex-governador de Massachusetts Bill Weld.

Do lado democrata, restam 14 candidatos. Biden, Sanders e a senadora Elizabeth Warren são os favoritos a ganhar a nomeação, mas o mayor de South Bend, Pete Buttigieg, está entre favoritos no Iowa.

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