Desde junho passado quatro estrangeiros conseguiram escapar ao controlo das autoridades do aeroporto de Lisboa e entrar ilegalmente em Portugal. Dois são cidadãos marroquinos e dois são argelinos - ambas nacionalidades consideradas de risco - que faziam escala e fugiram a partir da zona internacional do aeroporto, onde ficam a aguardar os passageiros em trânsito para outros voos. Até hoje não foram apanhados pela polícia..A situação é tanto mais grave quanto ao facto de dois destes casos - o último ontem noticiado pelo JN - terem acontecido depois da tentativa de fuga dos quatro argelinos, no final de julho e depois de, na sequência disso, o ministério da Administração Interna (MAI) ter acionado um Grupo de Trabalho, que juntou polícias e secretas, para tomar medidas de prevenção. O MAI diz que as medidas de segurança implementadas são "confidenciais" e não comenta o seu evidente fracasso..Este Grupo de Trabalho, salienta o MAI, formado apesar de "o protocolo de segurança ter funcionado no episódio de tentativa de imigração ilegal de quatro cidadãos de nacionalidade argelina, em julho" é composto pela PSP, SEF, PJ e SIS e tem como função analisar "as condições de segurança das infraestruturas aeroportuárias, nomeadamente face ao aumento de passageiros e à reorganização de escalas aéreas, que possam contribuir para tentativas de imigração ilegal". Em resultado das "conclusões" desta equipa, sublinha ainda o MAI, "foram, em coordenação com as entidades competentes e com o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, decididas medidas com vista à redução do risco de imigração ilegal"..E quem assume responsabilidade pela reincidência de quebras repetidas de segurança? Ninguém. O DN questionou todas as entidades com obrigações nessa matéria no aeroporto Humberto Delgado e nenhuma assumiu a responsabilidade. E são várias: a PSP, responsável pela manutenção da ordem pública, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a quem compete o controlo documental dos passageiros, a ANA - Aeroportos, que dirige o Plano de Segurança, e a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), que supervisiona e audita esse sistema de segurança. A outra polícia com presença no aeroporto, a GNR, apenas tem responsabilidade no controlo de mercadorias..Responsáveis policiais ouvidos pelo DN lembram que este aeroporto é uma "infraestruturas crítica" e que, depois dos atentados terroristas de Istambul e Bruxelas, está sujeito a um reforço de segurança pela PSP. Embora nestes casos de fugas não tenham sido identificadas ligações destes estrangeiros a grupos terroristas, a probabilidade deste modus operandi poder ser usado também por um operacional do daesh ou da alqaeda não pode ser descartado..As quatro fugas distribuíram-se por três meses: uma em junho, de um marroquino proveniente de Casablanca, com destino para o Brasil; outro em julho, com a mesma nacionalidade e rota; e dois argelinos em setembro, um a 22 outro a 27, entretanto noticiada pelo JN. Sobre estes argelinos, as autoridades sabem que já tinham pedido vistos para outros países da UE (este último para Espanha, Malta e França), mas que foram recusados. Para fazerem escala em Portugal estas nacionalidades não precisam de vistos de trânsito, ao contrário de outras também de risco como a senegalesa, a nigeriana ou a eritreia..Confrontado pelo DN em relação às quatro fugas em quatro meses, o SEF confirma que "as ocorrências estão devidamente identificadas" e que está em causa "um modus operandi já referenciado pela generalidade das polícias e/ou serviços de imigração dos estados-membros da UE nas rotas da imigração ilegal"..O SEF diz que o "incidente" de terça-feira está a ser "devidamente investigado". A ANAC diz o mesmo.