Adufeiras põem Cem Soldos a cantar "lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar"

O segundo dia do festival Bons Sons começou com um concerto das Adufeiras do Paúl na igreja da aldeia
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"Não somos artistas, somos gente do povo e cantamos com alma." Assim que Leonor disse isto, o público que enchia a igreja de Cem Soldos, aldeia a cinco quilómetros de Tomar, soltou um aplauso tremendo. E ainda o concerto não tinha começado. As Adufeiras do Paúl atuaram no festival Bom Sons ao início da tarde no altar, entre uma figura de Jesus Cristo e outra de Nossa Senhora, e adaptaram o seu espetáculo ao local. "Normalmente gostamos de teatralizar um pouco mais as nossas músicas, pedimos mais a participação do público e às vezes até dizemos umas asneiritas...", explica Leonor, a carismática porta-voz do grupo.

Leonor entrou para o rancho folclórico da Casa do Povo do Paúl quando tinha 12 anos. "Mas só aos 15 é que comecei a tocar adufe", faz questão de frisar. "Não é difícil aprender, é uma questão de persistência." Esta professora do ensino básico, hoje já com 60 anos, foi a grande impulsionadora do grupo das Adufeiras, há mais de dez anos. "Achava que era importante porque havia cada vez menos pessoas a tocar adufe, então juntámos um grupo de pessoas e começámos a fazer recolhas musicais e a ensinar os mais pequeninos", conta. Hoje, o grupo das Adufeiras tem mais de 20 elementos (no festival Bons Sons só estiveram 12) e são muitos os miúdos da terra - raparigas e rapazes - que também tocam o instrumento.

As Adufeiras do Paul puseram o público a cantar com o mesmo entusiasmo Milho verde, de Zeca Afonso, e a canção infantil Lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar. Entre lenga-lengas infantis, músicas tradicionais, de romaria ou de trabalho, as Adufeiras apresentaram numa hora um pouco da variedade do seu repertório, as vozes estridentes acompanhadas pelo adufe mas também por pedras ("as pedras do rio, onde dantes se lavava a roupa") ou até pelo som do milho nas peneiras, numa música que falava do ciclo do pão.

Ainda no dia anterior o grupo masculino Alentejo Cantado tinha cantado naquele mesmo sítio Ao passar a ribeirinha, e agora as mulheres do Paul cantam a mesma música de uma forma completamente diferente. É assim no palco programado pela Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, de Tiago Pereira, que apresenta, todos os dias, projetos de música tradicional.

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