Ariana Calcanhotto tem um disco novo. Chama-se Margem e reflete muito sobre o mau estado da parte líquida do nosso planeta. É o caso da faixa Oguntê, para a qual a compositora não tinha plano nenhum: "Estava com a televisão ligada e apesar de não estar a prestar atenção ouvi um pescador dizendo para um repórter isto: 'Essa obra de arte de Deus.'" Estava encontrado o ponto de partida para um dos três singles que desvendaram o novo trabalho da cantora..Oguntê nasce dessa frase apanhada no ar e Adriana Calcanhotto conta como foi durante a entrevista que deu ao DN para falar deste seu novo disco: "Voltei a ver a reportagem. Era um pescador maravilhado com o fenómeno de cardumes de sardinhas na praia da Barra (perto do Rio de Janeiro). Aquilo não acontece mais, acontecia há muito tempo e parou de acontecer, e o pescador era jovem e estava maravilhado com uma coisa que deixou de existir por causa dos homens. E então ele usa essa expressão: obra de arte de Deus." Que encaixava melhor do que nada no que andava a pensar: "A condição dos oceanos." Ou seja: "Esse lixão que os oceanos viraram e que agora preocupa as pessoas porque deram-se conta de que estão comendo o plástico que está dentro dos peixes.".A capa de Margem é um reflexo a 100% dessa preocupação. Em tons dramáticos, Adriana está dentro de água, cercada por dezenas de garrafas e outros detritos que se encontram habitualmente e cada vez mais no mar..Uma Adriana Calcanhotto que não se fica por essa imagem no conjunto daquelas que a exibem de forma diferente como acontece nos vídeos das músicas já possíveis de ver. Há um clipe - usemos este termo brasileiro já que a conversa não vai ser 'traduzida" - em que a cantora rapa o cabelo em frente ao espelho. E outro em que se pinta de um azul de mar sobre a pele branca como uma areia cristalina de uma praia paradisíaca..Mas é a colocação da voz e o encantamento das palavras que são cantadas que surpreendem neste último fôlego discográfico, afinal Adriana vai anunciar lá para o fim do encontro que Margem é o seu último disco. Acrescenta: "por contrato", para explicar que a carreira não acabou, só a combinação em vigor com a editora. Há temas inesperados, como um fado em que um verso diz "era para ser canção de amor" e não foi só isso. A bem dizer, o novo disco acaba num instante..Todas as pessoas criaram lendas em torno de cantores. Que lendas existem em torno de si? Para mim, essa pergunta é difícil... Tenho ouvido coisas muito interessantes e uma vez que escolhi dedicar a vida a esta aventura já tive pessoas que vêm dizer-me que as minhas canções estão na vida delas. E contam histórias: tem canções suas na nossa vida, ou um casal que diz "aquela foi a nossa canção no namoro e agora os nossos filhos estão a ouvir essa sua canção". Ouço também de alguns alunos do curso que dou na Universidade de Coimbra - Como Escrever Canções -, que vão parar na minha aula por se terem identificado de alguma maneira com as minhas canções. Isso é muito interessante, o facto de estar na vida das pessoas tanto quanto algumas canções fizeram a minha vida..Tem alunos portugueses e brasileiros. Fala de nomes como Oswald de Andrade e outros que tais. Os seus alunos conhecem essas figuras? A maioria sim, mas inicio com Homero e Safo, desde o começo da canção, porque muitos deles não sabem que esses poemas eram canções; depois, os trovadores medievais, os da Galiza e da Provença, também os compositores brasileiros de agora, do rap, do hip hop. Quanto eles sabem do assunto desconheço, mas vou sempre pedindo para lerem e ouvirem para conhecerem sempre mais..Há uma canção antiga do Fagner, que também cantou, chamada Traduzir-se e que era sobre um poema de Ferreira Gullar. Esse poeta também surge e é reconhecido nas suas aulas? Não sei se é reconhecido. Em jovem eu ouvia uma rádio que tocava só música brasileira, tipo a vossa África, e escutava as canções que tocavam na época, no final dos anos 1970. Era de muita qualidade e essa rádio tocava os lançamentos do momento: os de Chico Buarque, Caetano, Luís Melodia... Era um repertório incrível. Quando ouvi Traduzir-se na rádio foi como se caísse um raio na minha cabeça e lembro-me de pensar: eu daria a minha vida para fazer isso. E de facto dei. Por isso quando alguém vem dizer que "as suas canções estão na minha vida" parece que se realizou de alguma forma aquele momento de estar a ouvir o Fagner cantar Ferreira Gullar. Eu não sabia quem era Ferreira Gullar, um poeta que dava muitas entrevistas, que era um homem do povo e ia à TV Educativa falar, que ia aonde o chamassem - isso foi muito importante para o Brasil. Ele falou essas coisas durante muitos anos, respondia às mesmas perguntas com uma paciência incrível e eu ouvi esse homem dizer coisas que mudaram a minha vida várias vezes e por causa disso aproximei-me da sua poesia. Agora, se a poesia daquele homem não fosse musicada talvez eu e milhões de pessoas não o conhecêssemos - algumas centenas de pessoas leem poesia no Brasil mas milhões ouvem rádio! Faço questão que os meus alunos entendam como é a transmissão de alta poesia através da música, uma coisa que acontece no Brasil e acontecia na Grécia..Ainda por cima o Traduzir-se era cantado com aquela voz de cearense de Fagner! E eu morava em Porto Alegre, o Ferreira Gullar é do Maranhão e o Fagner é do Ceará....Já falou em rádio duas vezes. Foi o primeiro meio para se aproximar da música? Os meus pais ouviam numa vitrola coisas sofisticadissimas. O meu pai era muito curioso, era baterista de jazz e gostava de cool jazz, ouvia Chet Baker e Miles Davis. A minha mãe ouvia música erudita porque era coreógrafa. Mas eu ouvia rádio também no rádio no carro quando ela me levava para a escola, mas a experiência máxima era em casa com as babás [amas] a ouvir a Jovem Guarda. Foi na rádio que eu descobri esses cantores da palavra e me deslumbraram mais do que a Jovem Guarda. Não é que eu não gostasse deles, mas havia uma diferença. Era o Ferreira Gullar, não era o Wanderlei Cardoso. Não quero hierarquizar, mas quando ouvia o Roberto Carlos não caía um raio na minha cabeça!.Nem com As Curvas de Santos! Era linda mas nunca pensei: eu daria a minha vida por isso..Já foram libertados três singles: Lá Lá Lá, Oguntê e Margem. Os dois primeiros têm um ritmo diferente de Margem, que parece fruto de muito tempo e trabalho de composição. É assim? Sim, levou muito tempo e são bem diferentes. Este disco Margem começou no meio do Maré [o sétimo álbum de estúdio lançado em 2008] e como algumas canções acabaram por não entrar nele recuperei algumas - achei que não estavam bem cantadas e que eu não estava à altura do que as canções mereciam. Margem é um projeto de canção em que se pensa essa coisa da identidade e de quem sou eu, essa velha pergunta sobre a condição humana que quando tenho de responder é já a cantora, gaúcha e brasileira, que o faz. Se Platão aparecesse aqui com essa pergunta, eu daria para ele o meu passaporte. E a canção é sobre isso. Portanto, demora para fazer uma canção dessas, até porque tenho tentado muito fazer canções sem a guitarra para tentar caminhos melódicos que não sejam limitados pela minha limitação no instrumento. Então punha um loop de uma batida de que gosto muito, de bossa nova bem explícita, e ficava a compor. Sabia que era Margem, mesmo que durante muito tempo pensasse usar Margen, com n, mas a ideia da condição marginal de que gosto muito, sobretudo porque em função da maré a margem não é fixa. Aí, comecei essa canção com toda a calma porque não tinha compromisso com nada. Já com Oguntê não tinha plano nenhum. Depois de ter ouvido o pescador maravilhado com os cardumes de sardinhas que reapareciam na Barra, falei do lixão dos mares. Até há pouco as pessoas olhavam os oceanos como se fossem fora de nós, exatamente como a situação da atmosfera com o lixo de satélites. É essa ideia de fora que é mais chocante..A de estarem à margem? Sim, e aí caem os aviões, as crianças morrem encalhadas como as que vemos nas imagens que a comunicação social nos mostra, as baleias, aquele menino na Turquia, os refugiados nos botes - uma coisa horrorosa. Isso que a gente não vê é inimaginável e essa canção, não sendo de contestação, acabou como de constatação..Em Lá Lá Lá há surf... Também, mas o Lá Lá Lá fala da vontade da natureza. Vamos considerar que a onda sabe que vai quebrar, então porque é que ela levanta. É uma ideia de Schopenhauer, qual é a vontade da natureza, ou de Lucrécio em Da Natureza das Coisas, que é um livro tão impressionante e que por causa da Igreja Católica poderia nem ser conhecido - foi por um triz que um maluco colecionador o salvou. E tem essa coisa da linguagem na canção, pois dizemos muitas vezes lá lá lá, ou no palco quando se esquece a letra e substitui-se com isso. O samba usa muito isso porque lá lá lá é mais poderoso do que parece. Também é o nome de uma nota musical. Enfim, é mais rico do que muitas vezes pode parecer. Foi outra canção que fiz com um clap eletrónico numa batida de samba de roda da Baía e fiquei a cantar numa brincadeira com as sílabas..E depois tem o tema 7, Era para Ser, que é muito português! Muito fado. Surgiu assim: acordei com esse verso "era para ser canção de amor e era o amor", é engraçado porque muda de musa durante a canção. Tipo não tenho nada que ver com isso, o amor. O amor muda, não posso fazer nada..O som é fado. Tem que ver com estar a viver uma parte da sua vida em Portugal e querer piscar o olho ao fado? Mas é uma piscadela apenas, não estou arriscando a fazer fado. Eu ouço fado, adoro os artistas de fado, mas sei onde não posso me meter..Disfarça bem, até se pode pensar que é uma nova fadista... Não, pelo amor de Deus, é uma canção influenciada e acho que tem essa desfaçatez de dizer assim não posso fazer nada..Usa essa expressão lixão dos oceanos e a capa do disco é exatamente isso. Não podia ser diferente? Tinha outras possibilidades de capa mas eu vi que era incontornável; não poderia mostrar um mar paradisíaco, "um mar que já não é" como diria o Chico Buarque, um mar que já não há como o do tempo do Caymmi, aquele mar turístico para o qual queremos ir passar as férias. O mar que temos não é esse e achei que era sobre isso que este disco devia falar..Quando recorda canções de outros tempos é porque gostava de ter sido cantora nos finais dos anos 1970 e início de 1980? Não, não sou nostálgica. Gosto do meu tempo e com todas as dificuldades que ele tem. Se tivesse vivido no final dos anos 1970 teria vivido numa ditadura, não teria internet nessa época - acho que é um grande privilégio ter vivido parte da minha vida sem internet e como é agora -, e também vivi uma virada de milénio. Eu sei que sempre teremos problemas enquanto formos humanos..A ditadura que viveu então é bem diferente da atual que o Brasil está a viver? Sim, porque agora temos oportunidade de evitar..Mas ninguém conseguiu evitar a onda Bolsonaro. Ninguém, mas ainda podemos evitar o pior. Uma pessoa que pretende acabar com o curso de Filosofia está a revelar-se e acho que não podemos ficar parados..Os brasileiros vão ultrapassar esta situação no seu país? Tenho a impressão de que a história é cíclica e se aprendêssemos com ela teríamos parado ainda na guerra de Troia. Não teria havido mais guerra! Entendo que um governo (o anterior, do PT) que tirou pessoas da linha da miséria - quem não comia passou a comer, os que comiam mal passaram a comer iogurte, os que não viajavam passaram a andar de avião, os que não estudavam e foram para a universidade - não fosse possível passar sem uma reação. Mas não precisava de ser neste nível de ignorância. Então, temos de agir e reagir, é óbvio que precisa de acontecer alguma coisa. Não acho que uma coisa assim possa durar muito tempo, não se sustenta uma nação deste modo..Neste disco não há uma mensagem política muito clara. Não era necessário? Foi construído antes [de Bolsonaro]. Nunca poderia imaginar, jamais. Sabia que teria uma resposta porque sempre foi assim. Lembro-me muito do Brasil quando Trump foi candidato a candidato e isso era considerado uma piada, mas essa situação é muito perigosa porque ficamos ah ah ah mas tem muita gente que aproveita..Hoje vive mais em Portugal do que no Brasil... Meio a meio..A fase Portugal vai acabar? De jeito nenhum, acho que vai continuar sendo assim. A relação com Portugal é cada vez mais profunda, já são muitos anos desde que cá vim a primeira vez e tem também a relação específica com a Universidade de Coimbra, uma instituição que viu o Brasil nascer, bem como todas as suas ondas de independência do país, e sempre foi cúmplice. Todos os dias eu ando por aqueles corredores onde estiveram Cláudio Manuel da Costa, José Bonifácio ou Gonçalves Dias. A universidade tem uma maneira de ver o Brasil que não posso ter estando lá..Não esperava dar um concerto na Biblioteca Joanina? Não esperava nada disso. Eu abandonei a escola para fazer a minha aventura na música, portanto dar aulas na Universidade de Coimbra é uma coisa especial que me aconteceu e a que eu sou muito grata. Além de que, vindo de uma família de professores, descobri que dar aulas é uma forma de estudar. Que é a coisa que eu mais gosto de fazer. Enquanto me deixarem ficar lá eu não vou sair..Qual o papel que tem nas aulas, de cantora ou de professora? Nesse ano não cantei....E a frequência não diminuiu? Não e neste ano dei aulas noutro curso, de Estética e Crítica Musical, mais uma aula aberta de canção de protesto, que no Brasil se chama é de protesto e aqui de intervenção, dei aulas na Universidade do Porto e no próximo ano vou colaborar no Centro de Estudos Sociais. Não vou ficar restrita à Faculdade de Letras, estou-me esparramando..O nome de Geraldo Vandré apareceu nessas aulas? Sim, do Vandré, de Zeca Afonso, de Adriano Correia de Oliveira e de José Mário Branco, que pega num poema de Camões e faz uma coisa muito interessante..Esta experiência em Coimbra está a ser boa... Muito boa, às vezes tenho de me beliscar porque lida-se com uma coisa que não está a acontecer no Brasil, que é o sentido da excelência e o prazer na transmissão de conhecimentos. Estou com um professor, faço uma pergunta tola e os olhos dele brilham. O meu professor de Arqueologia começa a falar dos romanos e recebo a resposta com paixão. É um presente que jamais imaginei que me pudesse acontecer..Espantam-se por ter uma professora brasileira? Acho que a universidade ao convidar uma pessoa que não é da academia para dar aulas quer mostrar que tem um outro lado. Dizem que nós os brasileiros somos a alegria da Universidade de Coimbra, ora uma vez que o Oswald de Andrade disse que a alegria é a prova dos nove, isto prova a nossa identidade brasileira e toda a sua teoria. Eu sou A Mulher do Pau-Brasil na universidade..O vídeo de promoção deste disco mostra o seu atual visual com o cabelo rapado. É provocação ou questão estética? Eu conheci esse menino [o realizador], Murilo Alvesso, que é bem mais jovem do que eu mas temos uma identificação em relação ao cinema. Gostamos das mesmas coisas, de cineastas e das ideias, e por causa disso consegui fazer coisas que são difíceis. Por exemplo, raspar o cabelo ou pintar a cara com tinta azul. São coisas que só dá para fazer uma vez e não tem outro take quando se raspa o cabelo. É um tipo de filmagem que não tem truque cinematográfico ou edição, é o que a câmara capta e é quem está atrás dela. Claro que raspar a cabeça tem uma mensagem de renovação, mas é o ato em si de o fazer e não poder refazer que torna aquilo o que é naquele momento em que se regista. Isso resulta da nossa interação, de eu e esse menino gostarmos das mesmas coisas no cinema e, como vocês dizem muito aqui, veio a calhar neste momento deste disco..Não teria feito isso há cinco discos? Acho que não, tem que ver com o meu momento e o meu encontro com ele..Vamos ao disco. Que canções são compostas por si?Margem é, Oguntê é, Lá Lá Lá é, Dessa Vez é; a segunda, Os Ilhéus, é um poema do Antonio Cicero que é lindo, Príncipe das Marés não....Na faixa Príncipe usa sons árabes pouco habituais... É uma cítara que tem esses sons que o Ocidente não usa. Não é como no piano, em que o som ou é preto ou é branco, a cítara faz tudo..O álbum foi gravado no Brasil? Sim, é gravado nos intervalos das apresentações de A Mulher do Pau-Brasil com a mesma banda..Ouve a língua portuguesa durante metade do ano em poesia e canções. Até que ponto os letristas e poetas portugueses a influenciam nestas metades dos anos? Não quero não ser influenciada. Aqui falo essa língua daqui e não quero perder essas palavras que existem. Adoro falar português europeu e falar português do Brasil, mas nos lugares certos porque lá não me faço compreender..Em tempos falou do primeiro livro que leu, de Clarice Lispector... ... A Mulher Que Matou os Peixes....E do susto que teve com a primeira frase do livro: "Fui eu essa mulher." O mundo continua a surpreendê-la ou já viu tudo? Se tudo der certo não vi tudo, como escritores que fazem esses raios cair sobre nós! Eu concordo com o Eduardo Lourenço, de que as nossas referências são os nossos livros. Não me interessa mais estar a descobrir outros novos. Os raios que caem na minha cabeça são os dos mesmos livros. Agora estou interessada em reler a Ilíada e a Odisseia traduzidos pelo Frederico Lourenço e com as notas. Nunca se lê o mesmo livro e as notas contextualizam o livro..Ofereceram-lhe uma capa negra em Coimbra. Usa-a ou está no roupeiro? Sim, uso, até fui pendurando na capa todas as coisas que eu ganho. Bilhetes, prendas, tanto que ela virou uma instalação. Ela está ainda mais diferente porque fiz uma apresentação no Jardim Botânico para crianças e no final deram-me uma outra capa vermelha, toda bordada com desenhos que eles fizeram. Então, costurei essa como forro da capa negra e ficou uma instalação cheia de coisas por fora e os bordados delas por dentro. As pessoas até já me dão coisas para pôr na capa!.Isso faz lembrar alguém no Brasil que estava num hospital psiquiátrico e tinha uma capa assim... ... Artur Bispo do Rosário... Já que tocou no assunto, ele fez muitos trabalhos com coisas que recolhia, mas essa sua capa mais conhecida era uma mortalha. Quem é que tem o direito de não o enterrar com aquilo e pendurá-la num museu como fizeram? E dizer isto é arte, quando ele disse que era a sua mortalha. É lindíssima e ele passou anos a fazer a própria mortalha e alguém não o enterra como queria. Tenho um problema com isso..Voltemos aos poetas e letristas portugueses. Nunca sentiu vontade de os cantar? Já cantei umas coisas e musiquei alguns poemas, mas acho que não fica bem eu cantar no português de Portugal. Fica forçado..O Camané cantou Tom Jobim e ficou ótimo. Mas o Camané é um caso à parte, ele até pode cantar a lista telefónica..Este é o seu 18.º álbum... Mentira! Então chega! Acho que não vou gravar mais..Quem não grava esquece... Quem grava discos também fica esquecido. Mais cedo ou mais tarde..Ainda se ouvem as canções do Cartola! Este é meu último álbum por contrato..Margem.Adriana Calcanhotto Sai no dia 7 de junho Concertos no Teatro Tivoli de Lisboa a 16 de novembro e na Casa da Música no Porto a 19