Adolescentes de Porto, Lisboa e Viseu recriam peça de dança de Clara Andermatt

Três grupos de adolescentes de Porto, Lisboa e Viseu, com e sem formação em artes performativas, recriaram uma peça da coreógrafa Clara Andermatt na primeira edição do projeto P.E.D.R.A., cuja versão final estreia-se no sábado, no Porto.
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O "Projeto Educativo em Dança de Reportório para Adolescentes" (com o respetivo acrónimo de P.E.D.R.A.), desenvolvido em simultâneo ao longo de vários meses por grupos no Porto, em Lisboa e em Viseu, de jovens entre os 14 e os 18 anos, vai na primeira edição e será apresentado no âmbito do Festival Dias da Dança, a decorrer no Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia até dia 13 de maio.

Depois de uma apresentação dos jovens lisboetas, a 20 de abril na Culturgest, e de Viseu, no mesmo dia no Teatro Viriato, espaços coprodutores com o Teatro Municipal do Porto, os portuenses são os últimos a subir ao palco, pelas 15:00 de sexta-feira, no Teatro Campo Alegre.

No sábado, pelas 19:00, no mesmo local, serão apresentados os três exercícios pela primeira vez, com a junção dos grupos orientados pelos coreógrafos Amélia Bentes (Lisboa), Romulus Neagu (Viseu) e Cristina Planas Leitão (Porto).

O primeiro P.E.D.R.A. parte de Clara Andermatt e da peça "So Solo", primeiro trabalho a solo da coreógrafa lisboeta, estreado em 2009.

O grupo do Porto é o último a apresentar o exercício final e conta com seis raparigas entre os 14 e os 17 anos que vão abordar temas como o envelhecimento, a morte ou a solidão, de um ponto de vista mais leve, combinando adolescentes muito diferentes e, em alguns casos, sem nunca terem pisado um palco.

Se Vanessa Ferreira, de 17 anos, é aluna na Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE) e pratica danças de salão, Maria Diogo, de 14 anos, é das mais jovens do grupo portuense e soube do projeto pela mãe, professora de dança e teatro, como contaram à Lusa.

Beatriz Costa também tem 14 anos e não tem experiência na área, enquanto Alice Ferreira, de 17 anos, estuda Humanidades na Escola Secundária Aurélia de Sousa e queria "manter a ligação ao mundo artístico".

O grupo inclui ainda Dalila Pereira, de 16 anos, aluna de Cenografia e Figurinos no ACE e praticante de dança "há muitos anos", e a colega de curso Beatriz Coelho, de 17.

Cristina Planas Leitão explicou à Lusa que Clara Andermatt deu "muita liberdade" a cada um dos grupos para abordar "So Solo", sendo que o processo no Porto foi "muito colaborativo", por vontade de ambas as partes, e deu origem a um "trabalho muito híbrido", entre o teatro e a dança.

O resultado final é um exercício de meia hora que precede a apresentação dos três trabalhos finais, mas o importante, explicou a coreógrafa portuense, foi "o processo" de trabalho e criação com as seis adolescentes, "muito diferentes umas das outras", que trouxeram ideias, entusiasmo e até adereços para a construção do espetáculo.

Por outro lado, a mistura de várias jovens de "escolas diferentes, meios diferentes, famílias diferentes, ideias do palco e da dança diferentes" criou algumas complicações, o que foi gerido com a abertura do processo e "a criação de responsabilidade através do grupo".

"So Solo" revisita, considerou Cristina Planas Leitão, "quase todos os temas da Clara", da "obsessão" ao "uso da voz" e a uma "dança não propriamente codificada", além da "ideia de envelhecer e a utilização de elementos de "Cio Azul" ou "Polaroid", trabalhos anteriores.

A forma de encarar a reinterpretação e desconstrução do trabalho de Andermatt começou pela combinação da realidade das jovens com esse imaginário mais "negro e denso", do uso de plasticina aos telemóveis e outros elementos, num processo de "associação atrás de associação".

"É, no fundo, uma reinterpretação à base das nossas impressões. (...) É muito sobre obsessão, solidão, envelhecimento, morte. A forma como a reinterpretamos foi quase infantil, os assuntos sérios em que pegamos são gozados ou vistos como sátira, porque não temos o conhecimento profundo desses assuntos. Foi a forma como pegamos nesta peça tão profunda, com assuntos não tão familiares para nós, e a transpusemos para a nossa realidade", revelou Alice Ferreira.

O contraste entre o envelhecimento e a infantilização é sentido mais pelo grupo, explicou a coreógrafa, que ainda assim sempre viu "na peça original um recreio, onde a Clara envelhece ao longo da obra", e surgiu como "uma forma de abordarem o tema de forma mais leve".

"Desde o início que foi 'ok, tens o espetáculo, o que é que gostas, o que é que te chama mais a atenção, o que é que te toca mais?'. A partir daí, começámos a criar e a trabalhar com a Cristina a partir da peça. (...) É muito pelas nossas ideias, e tem sido muito bom", afirmou Dalila Pereira.

Vanessa Ferreira vê a experiência da primeira edição do P.E.D.R.A. como um processo que "é como se não tivesse fim", numa experiência artística e interpessoal de "grande aprendizagem mútua" que todas reconhecem querer dar continuidade, em cima do palco ou no lado da plateia.

"O que para mim é mais importante num projeto como este é o processo e incutir nelas a vontade de verem e participarem em mais espetáculos, e este grupo tem muita vontade disso", resumiu Planas Leitão.

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