As bandeiras a meia haste nas duas sedes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) na cidade da Beira, em Moçambique, são o único sinal visível da morte do líder do partido no quotidiano da capital provincial..À porta, alguns militantes juntam-se para aguardar pelo final da reunião da comissão política do partido, na sede provincial, que deverá decidir como será feito o adeus a Afonso Dhlakama.."Só saímos daqui quando soubermos quando é o funeral", refere Cândido Vaja, militante integrado num grupo que não passa de 50 pessoas, sentados em cadeiras e bancos dispostos no recinto da sede distrital, noutra ponta da cidade, num ambiente sereno..A morte do líder da oposição moçambicana causou uma tal surpresa que é natural que ainda não haja maior mobilização, conta um outro militante à Lusa..A mesma surpresa a que faz alusão Manuel Bissopo, secretário--geral da Renamo, para pedir aos jornalistas tempo para o partido se reunir, remetendo quaisquer declarações para depois do encontro da comissão política. Pelas 15.00 (menos uma hora em Lisboa), aguardava-se ainda pela chegada de alguns membros do órgão, oriundos de Maputo. Entretanto, articulavam-se também os contactos com a família de Dhlakama..Segundo referiu o secretário-geral do partido, prevê-se que o funeral se realize em Mangunde, distrito de Chibabava, no interior da província de Sofala, terra natal do líder da Renamo, ainda sem data marcada..O corpo de Afonso Dhlakama foi transportado de madrugada desde a serra da Gorongosa e encontra-se na morgue do Hospital Central da Beira, onde à porta permanecem dois militantes de base..São uma espécie de últimos guardiões do comandante, admitem à Lusa, enquanto aguardam também por novidades..A Beira foi a última cidade onde Dhlakama residiu antes de se retirar para a serra da Gorongosa, em 2015, recorda Vaja, que participou nalgumas sessões políticas dinamizadas pelo líder.."Ele ensinava-nos o que fazer. Em 2017, na serra da Gorongosa, juntou jovens para uma ação sobre preparação de eleições e como detetar ações de fraude", refere..Décadas antes, a luta tinha sido feita de armas na mão e Janete Tenene, que hoje chora à porta da sede provincial, na Beira, foi um dos militares da Renamo.."Lutávamos nas matas contra a Frelimo porque queríamos o multipartidarismo em Moçambique, e ele foi o nosso grande dirigente", descreve..Janete foi combatente até à assinatura do Acordo de Paz de 1992 e aponta o comandante com "um amigo de todos e de tudo"..A antiga militar faz parte de um grupo que viajou por estrada durante sete horas, de Chimoio, capital provincial de Manica, até à Beira, para render a última homenagem a Dhlakama.."Vai fazer muita falta em Moçambique" para o processo de paz em curso, acrescentou..Alberto João, militante da Renamo, tem fé e acredita que "a paz vai continuar. Há condições, "tudo depende do governo", conclui..O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, morreu na quinta-feira pelas 8.00, aos 65 anos, na serra da Gorongosa, devido a complicações de saúde..O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, referiu à Televisão de Moçambique (TVM) que foram feitas tentativas para o transferir por via aérea para receber assistência médica no estrangeiro, mas sem sucesso..Fontes partidárias contaram à Lusa que o presidente do principal partido da oposição moçambicana faleceu quando um helicóptero já tinha aterrado nas imediações da residência, na Gorongosa..*) Jornalista da Lusa