Acusados voltam a comparecer em Guantánamo

Os acusados pelos atentados de 11 de setembro regressaram hoje a um tribunal militar de Guantánamo que vai determinar se deve ser levantado o segredo judicial imposto às declarações que fizeram, nomeadamente sobre terem sido torturados.
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O paquistanês Khalid Sheikh Mohammed, que assumiu a autoria dos atentados de 2001, os iemenitas Walid Ben Attash e Ramzi Ben al-Shaiba, o saudita Mustapha al-Hussaui, e o paquistanês Ammar al-Balushi, sobrinho de Sheikh Mohammed, compareceram na sala do tribunal envergando túnicas tradicionais brancas.

Depois de uma tentativa fracassada de os julgar em 2008, os cinco foram formalmente acusados em maio numa audiência que se prolongou por treze horas e durante a qual não falaram.

Os cinco acusados incorrem numa pena de morte pelo assassínio de 2.976 pessoas a 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, Washington e Pensilvânia.

Na audiência de hoje, presidida pelo juiz, o coronel James Pohl, os cinco recusaram usar auscultadores para ouvir a tradução simultânea.

Foi apenas através de um intérprete que o saudita Hussaui aceitou responder às perguntas do juiz, embora se tenha limitado a invocar Alá e a dar o nome do advogado civil que quer que faça a sua defesa.

Esta audiência visa preparar o julgamento, que só deve realizar-se dentro de um ano. Inicialmente marcada para junho, foi adiada por várias vezes até que, na semana passada, Pohl recusou-se adiá-la mais uma vez a pedido dos advogados, que se queixam da presença de ratos, excrementos de rato e bolor nas salas em que se reúnem com os clientes.

A audiência, que deve prolongar-se por cinco dias, centra-se no segredo que a administração norte-americana que manter relativamente às declarações dos acusados sobre torturas e maus-tratos que terão sofrido durante a detenção em prisões da CIA.

O governo invoca a segurança nacional para manter o segredo. A defesa, apoiada por 14 meios de comunicação e pela Associação de Defesa das liberdades civis, ACLU, pedem ao juiz que garanta a publicidade e transparência do processo.

Antes de serem levados para Guantánamo, em 2006, os cinco acusados estiveram em prisões geridas pela CIA.

"O governo desclassificou o facto de Mohammed ter sido submetido a técnicas de interrogatório fortes e a um tratamento severo depois da sua detenção, incluindo 183 sessões de simulação de afogamento", afirmou o advogado de defesa de Khalid Sheikh Mohammed, o capitão Jason Wright, lamentando que o governo queira agora voltar atrás.

Para James Connel, defensor civil de Balushi, é evidente que a censura que o governo tenta impor no julgamento mostra o seu "embaraço com os erros que foram cometidos" durante os quatro anos e meio de detenção dos acusados em "buracos negros" da CIA.

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