Lisboa terá sinalizado a Bruxelas uma ligação entre o acordo com o Reino Unido para evitar o brexit e a discussão sobre o Orçamento do Estado, proposta que o governo fechou ontem em reunião do Conselho de Ministros e entrega hoje no Parlamento..Segundo Charles Grant, diretor do Centre for European Reform, um think-tank independente dedicado a promover uma agenda reformista na União Europeia (UE), "o governo de Portugal ameaça bloquear o acordo da UE com Cameron, segundo fontes em Bruxelas - a não ser que a Comissão alivie as metas orçamentais", escreveu o antigo jornalista da revista The Economist na noite de quarta-feira na sua conta do Twitter..Depois, num segundo texto, Grant dizia que "soube que Lisboa fez uma ligação entre o acordo com o Reino Unido e as suas negociações com a Comissão sobre o Orçamento". E acrescentava: "Suponho que não irá concretizar a ameaça...".Estas mensagens de Charles Grant (que colabora regularmente com o Financial Times e o Internacional New York Times) foram retomadas na manhã de ontem na newsletter do Eurointelligence, um site de Wolfgang Münchau, com este colunista do FT e do DN a notar que as "fontes europeias" de Grant garantiram que "Portugal ameaçou bloquear o acordo sobre o brexit (ver caixa) a não ser que a Comissão e o Ecofin recuassem na política fiscal portuguesa".."Ameaça que não será cumprida".Segundo o diretor do Eurointelligence, trata-se de "uma perspetiva assustadora de um ponto de vista britânico pró-UE, mas muito refrescante a partir da perspetiva daqueles que - como nós - se foram questionando por que os países do Sul da Europa têm sido tão ineficazes na defesa de seus próprios interesses"..De acordo com Wolfgang Münchau, "Portugal não vai realmente cumprir a ameaça". Sugerir a ameaça, por si, "acabará por funcionar" e "Portugal terá concessões em matéria de política fiscal". E, acrescentou o autor, "a ameaça de Portugal pode inspirar"o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, "a seguir o exemplo" de Lisboa. "Nada mais assusta o establishment da UE do que a ideia do brexit", apontou Münchau..O governo de Lisboa recusou, no entanto, ter sugerido esta ligação junto de Bruxelas para viabilizar o Orçamento do Estado. Contactado pelo DN, o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Pedro Nuno Santos - e um dos pivôs centrais do executivo nas negociações da proposta de Orçamento com os partidos de esquerda e o PAN -, respondeu com um "não" à pergunta se seriam verdadeiras as afirmações de Charles Grant..À direita, as informações divulgadas pelo diretor do Centre for European Reform passaram despercebidas. Apenas Bruno Maçães, que foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus no governo de Passos Coelho, partilhou o primeiro tweet de Charles Grant para concluir (em inglês) que se trata de "diplomacia desesperada, muito desajeitada"..Reunião durou mais de seis horas.[artigo:5015209].A palavra de ordem no governo foi sempre desdramatizar as negociações que Lisboa manteve com Bruxelas, dizendo sempre que eram "normais" as divergências existentes. E, hoje, o primeiro-ministro, António Costa, tem oportunidade de explicar as contas do seu governo à chanceler alemã, Angela Merkel, com quem almoça em Berlim (ver páginas 30-31)..Na quarta-feira, Pedro Nuno Santos explicava que o executivo "tinha a perfeita confiança - e certeza até - de que as coisas acabarão por correr bem para o país"..Do lado do governo, a proposta de lei do Orçamento do Estado para 2016 ficou ontem fechada, ao fim de seis horas e meia de reunião do Conselho de Ministros. O documento será hoje entregue na Assembleia da República pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, que depois fará a apresentação pública do Orçamento..Para além desta proposta, o governo aprovou também ontem o relatório que acompanha o Orçamento do Estado para 2016, as Grandes Opções do Plano e o quadro plurianual de programação orçamental, documentos que agora vão ser sujeitos ao debate parlamentar, com novas rondas de negociações no horizonte, mas desta vez com os partidos que viabilizaram o governo do PS. E se o BE parece disposto para votar a favor o Orçamento, o PCP recusou dizer o que fará.