O sinal de queda do PSD acentuou-se em 2004 sob a liderança de Jardim. E o mesmo aconteceu com o PS que vinha em crescendo desde 1976. O PS fica-se pela meia-dúzia de deputados, e dali não sai, enquanto que o PSD vai caindo gradualmente, apesar de ir mantendo as maiorias, até atingir o mínimo histórico em 2019 com Miguel Albuquerque: 21 deputados contra 19 dos socialistas que tinham então seis eleitos. 5241 votos fizeram a diferença nesse domingo de 22 de setembro, mas não fosse a mão do CDS, que se aliou ao seu adversário de sempre, Paulo Cafôfo (então líder do PS, o décimo) teria conseguido quebrar 43 anos de "PPD"..E agora, após 47 anos de regime social-democrata pode alguma coisa mudar no cenário político madeirense? Todas as declarações públicas vão no mesmo sentido: o PSD-M, aliado ao CDS-M, acredita numa vitória - os seus dirigentes até falam em maioria absoluta; o PS-M confia num "bom resultado para ser governo"; e todos os restantes partidos, até os que não têm nenhum deputado eleito, acreditam que vão "entrar na Assembleia Regional"..Porém, nos bastidores a conversa é outra. O PSD-M "não sabe ainda calcular o efeito [ou "os estragos", como também foi referido ao DN] que André Ventura pode causar". E essa é a grande incógnita. Um "desgaste eleitoral no PSD" - o CDS é praticamente ignorado no discurso, e até nos cartazes, ainda que esteja na coligação "Somos Madeira" - pode "escancarar as portas" ao Chega, até porque Albuquerque nunca as fechou..De todas as vezes que foi questionado pelo DN, o presidente do governo regional sempre recusou dizer não ao Chega. E deixou sempre entreabertas as "pontes de diálogo", sublinhando a necessidade de "derrotar a esquerda" e defendendo que o Chega é "um partido legal, como qualquer outro partido", porque "não temos de ter nenhum complexo".."Devemos abrir sempre pontes de diálogo. Essa estigmatização do Chega comigo não funciona, porque o partido tem eleitores e os seus estatutos e funcionamento foram aceites pelo Tribunal Constitucional", enfatizou Albuquerque..A "questão política" é que aquilo que o líder nacional do PSD recusa para o governo nacional, e já o disse por várias vezes e de formas diferentes, não é de todo afastado pelo líder regional do PSD para o governo madeirense.."Quero garantir uma coisa aos portugueses: não vamos ter no governo nem políticas, nem políticos racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas - ou apoio político (...). Não vou pactuar com partidos anti-Europa, anti-NATO, pró-russos, racistas ou xenófobos", assegurou Montenegro..Um recusa, outro admite. É aqui que está a "diferença" que pode "eventualmente criar dificuldades futuras" a Montenegro, segundo diz ao DN um dirigente do partido, caso as "pontes de diálogo" madeirenses se estreitem para garantir, em setembro, novo governo de Albuquerque, o qual diz "não precisar do CDS para viver" (a esse propósito José Manuel Rodrigues, ex-líder do CDS-M e presidente da Assembleia Regional, já disse que "obviamente que os casamentos também se desfazem")..E se acontecer uma "ponte" entre PSD-M e Chega? "Não há muito que saber: se houver qualquer acordo [com o Chega] vamos andar até às Europeias com o PS [o nacional] com o discurso de que o PSD se juntou à extrema-direita. E isso não será fácil de resolver", considera a mesma fonte social-democrata..André Ventura, em declarações recentes ao DN, diz que se vê "como oposição e uma alternativa ao atual governo PSD-CDS" na Madeira, admite "negociações" com Albuquerque e pretende "formar governo", garantindo que o Chega "não voltará a aceitar um acordo nos mesmos moldes do que existe nos Açores"..O discurso público e oficial é o de ter um "bom resultado para ser governo". Só que o "É tempo de mudar, Madeira" [frase de campanha] não descola nas sondagens sobre a intenção de voto publicadas na região. Em nenhuma, até agora, Sérgio Gonçalves, líder do PS-M, conseguiu aproximar-se sequer de Albuquerque e do PSD-M..Há, no entanto, dúvidas sobre a "realidade expressa" nas sondagens, diz fonte do partido, porque "há aqui muitas particulares que não existem no continente. Imagine o que pensará um funcionário aqui do governo da região, e que até pode estar a pensar em votar no PS, se receber um telefonema de alguém que não conhece a pedir-lhe que diga em quem vai votar? Não preciso de dizer mais nada, pois não?".Há, apurou o DN, vários relatos de "enviesamentos" nas perguntas, de "nomes que não foram ditos" nos questionários. Só que nenhum dos "casos", e alguns até divulgados em redes sociais, foram alvo de queixa junto das autoridades competentes..A grande expectativa é o resultado que Sérgio Gonçalves poderá conseguir em setembro: manter ou perder. Ganhar as eleições e afastar o PSD do governo regional "parece um cenário difícil a esta distância, mas ainda estamos em junho", desabafa fonte do partido. Dito de outra forma: "Ou muita coisa muda até lá [às eleições] ou nada muda e... olhe é esperar que o Paulo [Cafôfo] venha para cá em 2026, depois de sair do governo [atualmente é secretário de Estado das Comunidades] e se candidate" ao governo regional..No entanto, acrescenta outra fonte do partido, "há que perceber o que o Ventura vem cá fazer. É a oportunidade de os democratas se unirem contra a extrema-direita"..Em declarações do DN, o líder do PS-M, já tinha considerado que a possibilidade de um acordo, "seja ele qual for", entre PSD-M e Chega "é demasiado perigosa, representaria a cegueira do PSD pelo poder, que visa apenas servir as clientelas, sem olhar aos meios. Não podemos permitir que se coloque em causa a democracia, naquilo que seria um retrocesso histórico". A "ameaça" pode levar a que os restantes partidos da oposição do PSD-M [e ao Chega] considerem a possibilidade de uma coligação pós-eleitoral para travar a "extrema-direita" no governo da Madeira..Élvio Sousa, líder parlamentar do JPP (Juntos Pelo Povo), já admitiu, em declarações ao DN, essa possibilidade, um "possível acordo que se deseja ser transparente, e à vista de todos" que assuma os encargos de encontrar soluções para questões que considera importante serem resolvidas..Joaquim Sousa, do PAN, reconheceu que o partido está "disponível para ponderar essa solução como hipótese desde que exista uma mudança de estratégia, uma alternativa de governação séria"..O BE remeteu "para mais tarde" respostas, enquanto o PCP entendeu "não ser oportuno" fazer declarações públicas..Nos Liberais, que "não são de esquerda, nem de direita", existe um problema "ideológico": o que fazer se Albuquerque não ganhar com maioria? O dilema é fácil de explicar. Os liberais madeirenses são fortemente críticos do PSD-M, da sua governação e do que foi o passado e "dificilmente" perceberiam que de Lisboa viesse a "indicação" para um "apoio" pós-eleitoral que mantivesse o governo de Albuquerque. Qual é o receio de "Lisboa"? Que um "apoio" ao PS, após as eleições que permita afastar o PSD-M, possa ser "mal visto" pelos eleitores do continente..No mapa dos cenários, segundo fonte do partido, há dois que seriam "aceitáveis": o primeiro, que Albuquerque ganhe com maioria - evitaria "todos os problemas"; o segundo, que o PS, caso possa formar governo com apoios parlamentares, "exclua PCP e BE" - duas linhas vermelhas da IL, para além do Chega..artur.cassiano@dn.pt