«Aceito dizer que modifiquei a noite em Lisboa»

Chegou ao Cais Sodré no calor de 1975, revolucionou os bares e discotecas daquela zona da capital, deu vida nova à noite dos lisboetas ao som de música portuguesa, popular e rock, de blues e de reggae, de punk e de new wave. Mário Dias o primeiro DJ do Jamaica, recorda esse tempo de prazer, novidade e desafio. Esforço e risco que várias gerações agradecem.
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A mãe sonhava com um filho arquiteto mas a escola não era para ele, miúdo mimado e precoce, fumador desde os 9 anos, casado aos 16, «birra» que demorou apenas uns meses - chamavam-no «os copos, os charros e as mulheres». A música e a rádio. Primeiro DJ do Jamaica, na febre de 1975, fez história: depois dele, o Cais Sodré nunca mais seria o mesmo. Depressa chegou a rádio, em 1986, na Telefonia, há 26 anos na TSF. Mário Dias é radialista, «bela palavra», sonhada desde sempre. O microfone liberta-o da timidez crónica, ao microfone não gagueja, na cabine ou em palco «é o outro».

Fumo, álcool, luzes artificiais moem e matam. Rejuvenesceu quando largou a noite. Hoje, raramente sai, agora é o tempo da Beatriz. A filha que lhe nasceu há cinco anos podia ser neta. Renascimento mas também medos, que um parto complicado agravaram. Desaparecem ao fim do dia, aos primeiros acordes de Mulher da Erva, canção de embalar da menina.

Encontramo-nos na TSF. De cigarro na mão, apresenta-se: «sou tipo que erra, que é simples, simpático». Tão experimentado e tão frágil. E de uma cortesia rara.

A partir da sua chegada à discoteca Jamaica, em meados dos anos 1970, o Cais de Sodré nunca mais foi o mesmo. Tem a noção da influência que teve, como DJ, na noite lisboeta?

_Por uma questão de feitio, não ligo muito a essas coisas, mas aceito dizer que modifiquei a noite em Lisboa. Chegar ao Jamaica e passar do disco-sound para o rock e o reggae foi uma aposta arriscada. Fui indo devagarinho, numa espécie de guerrilha com o patronato, até que as pessoas começaram aderir. Quanto aos «descobridores» do Jamaica, primeiro, apareceu alguma intelectualidade de esquerda e a partir daí funcionou o boca-a-boca. A verdade é que em 1975 não havia grande concorrência.

Continue a ler a entrevista a Mário Dias na Notícias Magazine.

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