Ação contra a covid: 22 personalidades dizem o que esperam

O que deve fazer o Governo para combater o aumento de casos de covid-19? 22 personalidades ouvidas pelo DN querem mais e melhor estratégia.
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Sem receitas miraculosas para resolver a pandemia, como bem lembra o embaixador António Monteiro, ao governo resta voltar a fechar o país em casa. Esse deve ser o pedido/conselho dos epidemiologistas que o governo, líderes partidários e candidatos à Presidência da República mais deverão ouvir na reunião que decorrerá na manhã desta terça-feira no Infarmed. Aliás, antecipando esse cenário, o governo já foi mentalizando os portugueses desde a sexta-feira passada, quando o ministro Siza Vieira, por exemplo, anunciou que estava em cima da mesa a possibilidade de fechar grande parte da economia. De fora ficarão construção civil, indústrias, agricultura e pequeno comércio, passando a restauração a funcionar em regime de take away, Neste momento, a maior dúvida passa pelo que vai acontecer às escolas. Fecham? Ficam abertas? Põe-se apenas os alunos mais velhos em casa com aulas online? Até hoje, o governo insistiu em manter as escolas abertas, mas há especialistas (em saúde pública e não só) que defendem o fecho. Ao DN, 22 personalidades explicam o que consideram ser necessário fazer para reduzir o número de infeções, internamentos e mortes: confinamento, vacinação, rigor, usar os sistemas público e privado de saúde e apoiar rapidamente empresas e trabalhadores.

Álvaro Covões, managing director da Everything Is New

"Lockdown total, rigoroso e abrangente - escolas incluídas - para uma inversão da descontrolada situação atual e com interrupção máxima das cadeias de contágio. Só desta forma poderemos olhar para o mês de março como o ponto de partida para a retoma económica, com uma parte da população vacinada."

Ana Isabel Xavier, professora e investigadora universitária em Relações Internacionais

"No imediato, é desejável um confinamento total para conter o mais rapidamente possível a sobrecarga nos cuidados de saúde, que seja acompanhado por medidas de apoio efetivo a empresas e famílias. De forma estrutural e enquanto se justificar, devem ser incentivados os regimes de take away e home delivery, teletrabalho e horários desfasados e parciais, o alargamento da rede de transportes públicos, a vacinação para a comunidade educativa e dotar as instituições de ensino de autonomia de decisão sobre a gestão do seu funcionamento regular."

Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP

"É cada vez mais urgente que se leve a cabo a imediata disponibilização das medidas já anunciadas pelo governo no dia 10 de dezembro, bem como será necessário avançar com um novo quadro de apoio às empresas e aos seus trabalhadores neste contexto de novo confinamento."

António Monteiro, embaixador

"Não há receitas miraculosas, pelo que é expectável que sejam postos em prática, com maior rigor, os procedimentos já adotados. Será também conveniente intensificar a utilização dos testes, acelerar a campanha de vacinação e ganhar o maior apoio da população às medidas a adotar, sobretudo as mais restritivas. A utilidade de consensos impõe ouvir com assiduidade as opiniões dos profissionais de saúde, dos parceiros sociais e dos partidos, designadamente quanto à efetivação do estado de emergência."

António Ramalho, presidente do Novo Banco

"A aceleração do contágio e o início da vacinação não podem nem devem ter uma correlação negativa. Três medidas essenciais: confinamento seletivo, contactos familiares limitados e redução da mobilidade desnecessária. O efeito pandémico é uma equação matemática, a solução é, pelo contrário, um desafio comportamental."

António Saraiva, presidente da CIP

"As medidas de combate à pandemia têm de ser rápidas, proporcionais e racionais, mas os apoios para a minimização dos efeitos económicos e sociais têm de chegar muito mais rapidamente ao terreno, com apoio a fundo perdido para quem é obrigado a encerrar, uma vez mais, porque as empresas já estão extremamente fragilizadas. Proteger o tecido económico é cumprir o objetivo de defender o emprego, para podermos ultrapassar este período."

Carlos Oliveira, empreendedor e membro do Conselho Europeu de Inovação

"Em meados de dezembro era já possível antever, com base nos efeitos do Thanksgiving [EUA], esta evolução muito negativa se houvesse aligeiramento de medidas. A responsabilidade é de todos, mas há responsabilidade política objetiva do PR e do PM. Pagaremos com um elevado custo de vidas, económico e social a simpatia e o populismo do aligeiramento das restrições no período de Natal, pois um forte confinamento será agora a única solução para aliviar o SNS."

Francisco Calheiros, presidente da CTP

"O aumento de casos é evidente e as medidas a serem tomadas deverão ter em conta a opinião dos especialistas em saúde pública. No entanto, caso o governo opte por um confinamento idêntico ao de março, deverão existir medidas para ajudar as empresas a mitigar as consequências que serão dramáticas para a economia."

Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED

"O governo deve ter firmeza e clareza nas decisões e não decidir sem base técnica e científica para corrigir medidas que não têm impacto para um lockdown que evite aglomerados. Deve aproveitar o que correu bem em março-abril e melhorar o diploma permitindo atividade económica de baixo risco para a saúde pública."

Hugo Soares, antigo líder parlamentar do PSD

"O governo deve centrar-se em ouvir os especialistas e decidir com rigor e critério. As circunstâncias são muito difíceis para tomar decisões. Nesta fase de exponencial crescimento da pandemia e do colapso do sistema de saúde, o governo deve utilizar toda a rede instalada do sistema nacional de saúde. Não pode haver segregação ideológica entre o público e o privado para dar resposta aos doentes de covid, mas também a todas as outras patologias. O governo tem também de ser determinado no equilíbrio entre as medidas para combater as crises sanitária e económica. Não é fácil."

Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP

"Governo tem de garantir o efetivo reforço do SNS, a proteção dos trabalhadores nos locais de trabalho e a oferta de transportes em quantidade suficiente. A obrigação de manutenção dos postos de trabalho em toda as empresas que recebem apoios do Estado, incluindo dos trabalhadores com vínculo precário. Apoio e proteção social a todos os que dele efetivamente necessitam, mantendo postos de trabalho e garantir viabilização, deixando de favorecer os grandes grupos económicos."

João Almeida Lopes, presidente da Apifarma

"Esta batalha tem de ser travada em duas frentes: na saúde e na economia. Devemos reforçar as medidas de prevenção e assumir a testagem rápida como instrumento fundamental de combate à pandemia. Só assim conseguiremos quebrar as cadeias de transmissão e isolar o vírus. O plano de vacinação também requer um avanço efetivo. Temos de colocar a capacidade pública, privada ou social ao serviço da saúde e das pessoas."

José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

"Espero que o governo crie condições para que tentemos voltar, não digo à normalidade porque já não sei o que é, mas a uma situação de estabilidade que nos permita defender a saúde e tentar reconduzir o público à normalidade. Do ponto de vista cultural, precisamos que o público volte a sair de casa e venha a constituir-se como a procura normal sociológica daquilo que se escreve, que se toca, que se canta, que se filma e que se pinta."

José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal

"Há três coisas que o governo pode fazer para travar o contágio. Desde logo reforçar o apelo à responsabilidade individual em matéria de medidas preventivas, depois aumentar os número de testes para identificar/travar as cadeias de transmissão e, por fim, aumentar o ritmo da vacinação."

José Pinho, livreiro da Ler Devagar

"No ano passado era o desconhecido absoluto, agora é a impotência absoluta, toda a gente sabe o que vai acontecer, e se não é tragédia é drama. Ao nível da economia, no caso das livrarias, como é o caso do comércio de proximidade não alimentar, está tudo tramado. Quando se fala de bazuca ao nível de apoios, o que o governo tem de fazer é utilizá-la para estes setores. Havendo dinheiro, é mandar confinar o mais possível, pagar a quem estiver confinado e esperar que a coisa passe, que a vacine atue."

Maria do Rosário Gama, presidente da APRe! (Aposentados, Pensionistas e Reformados)

"Todas as decisões são muito difíceis: sem saúde não há economia, sem economia não há saúde. O confinamento é importante, mas é preciso que as pessoas cumpram todas as regras, e seria bom que a vacinação pudesse andar mais depressa. Quanto às escolas, é importante que se mantenham abertas, mas fico dividida porque em muitos casos são os avós que levam as crianças à escola."

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos

"Estamos há um ano a fazer recomendações para antecipar o combate à pandemia. Infelizmente, desta vez, estamos perante uma situação muito grave e em que claramente a pergunta é: o que deveria o governo ter feito no Natal para não estarmos agora de novo confrontados com a necessidade de endurecer muito as medidas?"

Óscar Gaspar, presidente da APHP

"É essencial estancar as redes de contágio: testar mais rapidamente e limitar contactos das pessoas infetadas. O programa de vacinação tem de avançar, com as prioridades corretas, entendíveis e não discriminatórias. Só o envolvimento de todo o sistema de saúde e o incremento da colaboração permitirão melhorar a resposta às necessidades de saúde dos portugueses."

Rui Correia, professor e investigador

"Governo somos todos, tu e eu, dizia Theodore Roosevelt. Se esquecemos isto, esquecemos o essencial. Prefiro pensar no que posso fazer para quebrar a espinha ao covid. Como professor, sou um soldado do civismo, um guerreiro da ciência armado até aos dentes contra o diz que disse. Se cada um de nós, o governo, se empenhar nisto, damos cabo do patife."

Sofia Branco, presidente do Sindicato dos Jornalistas

"Não é fácil tomar decisões neste contexto, sobretudo que agradem a todos. Creio que será inevitável aumentar as restrições à mobilidade da população em geral e espero que tal seja acompanhado de uma comunicação mais eficaz do que até aqui. As pessoas precisam de perceber as medidas adotadas. De resto, sendo eu mãe trabalhadora, faço figas para que as escolas possam continuar abertas."

Sónia Carneiro, diretora executiva coordenadora da Liga Portugal

"O Estado saberá, melhor do que qualquer outra pessoa ou entidade, o que fazer nas medidas anticovid. De qualquer forma, até agora a postura tem sido positiva, até pela forma e data em que começou a vacinação. Em relação ao futebol, temos a esperança de que não exista qualquer paragem - não há motivo para isso, até porque somos uma atividade muito controlada, cooperante e cautelosa. Nesta época, e até dezembro, os clubes realizaram 33 mil testes, prova clara de que lutam diariamente pela subsistência do futebol."

Vítor Rodrigues, presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro

"Infelizmente, neste momento, a situação pandémica é extremamente preocupante, com riscos reais de rutura do sistema de saúde. Ao se ter desperdiçado, em algum grau, no verão, a oportunidade de se planear a resposta a este aumento expectável de casos, tornou-se inevitável um confinamento rigoroso que permita encurtar temporalmente esta situação de emergência e, assim, permita que os doentes covid tenham a resposta terapêutica indispensável e os doentes não-covid voltem a ter acesso aos necessários e normais cuidados de saúde, a todos os níveis."

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