"Acabar com o acordo nuclear é um erro estratégico que pode levar a um muito mau resultado"

Ernest Moniz, secretário da Energia durante a Administração Obama, considera uma má decisão Donald ter abandonado o acordo nuclear com o Irão assinado em 2015. O cientista lusodescendente está em Lisboa para uma conferência amanhã da APED e deu uma entrevista ao DN e Dinheiro Vivo que pode ser lida na edição papel.
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Questionado sobre a importância do acordo nuclear com o Irão assinado pelos Estados Unidos e cinco países europeus em julho de 2015 e agora abandonado pelo presidente Donald Trump, o ex-secretário da Energia de Barack Obama declarou:

"Penso que a importância do acordo nuclear com o Irão pode ser compreendida se, primeiro que tudo, olharmos para trás, para o ponto onde estávamos antes do acordo; o que nós tínhamos era o conhecimento de que eles tinham um programa de armamento nuclear, sabíamos que eles tinam o conhecimento necessário e a capacidade para avançar, eles não tinham armas nucleares mas tinham o conhecimento.

Em segundo lugar, na ausência de negociações e de um acordo eles poderiam ter construído uma enorme instalação nuclear em termos de centrífugas, stocks de urânio enriquecido, etc.; assim, eles estariam talvez a poucos meses de produzirem uma arma, se quisessem.

Em terceiro lugar, a questão é que nós não sabíamos se eles queriam ou não porque não tínhamos nada que se parecesse com um sistema de monitorização e verificação efetivo, e era absolutamente crucial em termos de confiança internacional que eles não tivessem um programa de armamento nuclear.

Portanto, nós precisávamos de ter um acordo que tivesse, e isso era o mais importante de tudo, medidas de verificação literalmente inovadoras, a que nenhum outro país tinha ainda sido sujeito, para que pudéssemos todos ficar certos de que enquanto lidávamos com todas as outras questões que temos com o Irão - e são muitas, há a questão da Síria, do Hezbollah, dos mísseis, do Iémen, dos direitos humanos -, o acordo fornecesse os alicerces sobre os quais os EUA e a Europa em particular pudessem construir e tentar resolver essas outras questões sem a ameaça de uma arma nuclear.

Sem o acordo o inverso é verdadeiro: como é que nós podemos saber o que se passa no Irão se não tivermos os olhos, os ouvidos e dos inspetores internacionais no local. É uma situação que é um terreno muito escorregadio que pode levar a mal-entendidos e, possivelmente, a um sério agravamento não só das relações com o Irão como de todo o sistema de equilíbrios regional.

Portanto, acabar com o acordo é um erro estratégico que pode levar a um terreno escorregadio que pode levar a um muito mau resultado."

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