É já uma tradição, como tantas outras associadas à data, a comemoração popular do 25 de Abril na noite da véspera do feriado com um grande concerto na mais emblemática sala de espetáculos ao ar livre de Lisboa, o Terreiro do Paço, onde este ano vai ser apresentado um espectáculo inédito e criado de raiz para esta ocasião pelo produtor António Miguel Guimarães e o cantor Vitorino Salomé. Intitulado Abril em Flor, o projeto recupera algumas das mais emblemáticas canções de resistência à ditadura, "de antes e depois do 25 de Abril", especifica Vitorino, que estará acompanhado em palco de um verdadeiro elenco de luxo, composto por Mafalda Veiga, Márcia, Luís Trigacheiro, Zeca Medeiros e as Cantadeiras e Cantadores do Redondo. "É uma grande equipa, de gente boa e muito talentosa, que se ajustou muito bem ao repertório. Já tinha trabalhado com alguns, como a Mafalda Veiga e o Zeca Medeiros, com a Márcia nunca tinha acontecido mas já somos amigos há muitos anos e o único que não conhecia era o Trigacheiro, que tem uma voz lindíssima e é também alentejano como eu", sublinha o cantor. O alinhamento inclui temas de gente como José Afonso, José Mário Branco ou Adriano Correia de Oliveira, entre outros, cabendo a Vitorino o papel de "mestre-de-cerimónias" que está sempre presente em palco, acompanhado de uma banda dirigida por Tomás Pimentel e composta pelos músicos Sérgio Costa, Rui Alves, Carlos Salomé, Paulo Jorge Ferreira, Daniel Neto e Guilherme Duque. Em paralelo com o concerto, haverá também algumas participações em vídeo, de Aldina Duarte, Capicua, Carlão e Tim, que irão declamar a poesia de Manuel Alegre, Sophia de Mello Breyner, Jonas Negalha e Ruy Belo. Antes do concerto, o ateliê OCUBO recordará também algumas Memórias de Abril, num espetáculo de videomapping com cerca de 11 minutos, que transportará o público para alguns dos acontecimentos mais marcantes de antes e depois da Revolução, bem como para os principais episódios do dia 25 de Abril de 1974. E no final, como também já é tradição, haverá uma sessão de fogo de artifício, que iluminará os céus de Lisboa por volta da meia-noite, celebrando assim os 49 anos da Revolução dos Cravos e da Liberdade..Para Vitorino Salomé, a importância do espectáculo "é tanto histórica como pedagógica, pois celebrar Abril continua a ser fundamental também para o futuro, como modo de manter a democracia". Apesar de considerar que esta se tem "degradado muito nos últimos anos, ainda é a melhor garantia dos nossos direitos", afirma, com a autoridade dos seus 80 anos, o cantor alentejano, também ele um dos protagonistas da música de intervenção do pré e pós-25 de Abril. "Não é um fenómeno exclusivo de Portugal, está a acontecer um pouco por todo o lado. A história do mundo funciona por ondas, tem altos e baixos, e agora estamos numa fase em que ressurgiram algumas ideologias mais autoritárias, daí ser tão importante celebrar a democracia e a liberdade conquistadas no 25 de Abril", sustenta Vitorino, que espera editar em breve um novo disco de originais, inicialmente planeado para 2019, mas entretanto adiado devido à pandemia. Chama-se Não Sei do que É que Se Trata Mas Sou Contra, um título que replica uma frase dita há muitos anos por um primo de Vitorino, "carpinteiro e alentejano", proferida ao entrar numa assembleia geral do Redondense Futebol Clube. "Acho o máximo e creio que se aplica muito bem a tudo aquilo que temos vivido nos últimos anos", conclui..Terreiro do Paço, Lisboa. 24 de abril, segunda-feira, 22h00. Entrada Livre