Abram alas para o veterano
Um recordista que impõe respeito. O grande Christopher Plummer, em 2011, venceu o Óscar de Melhor Ator Secundário, em Beginners - Assim é o Amor, de Mike Mills, e logo aí tornou-se o ator mais idoso a vencer uma estatueta careca - tinha 82 anos. Esta madrugada, aos 88 anos, pode bater o seu próprio recorde em Todo o Dinheiro do Mundo, de Ridley Scott, onde interpreta o milionário Jean Paul Getty. Estar nomeado para melhor ator secundário, transforma-o no ator mais idoso alguma vez nomeado.
Plummer não deverá levar o Óscar para casa - a concorrência de Sam Rockwell e Willem Dafoe é muito forte -, mas não deixa de ser um indicador da qualidade do ator nesta fase da carreira. Talvez seja mais do que justo dizer-se que Plummer tornou-se um ator melhor com a gravitas que a idade lhe deu. No filme de Scott, a sua performance tem um peso sepulcral muito curioso.
O ator é perfeito na pele de um milionário forreta que não quis negociar o resgate do seu neto raptado pela máfia italiana. Plummer torna Getty uma personagem tão sinistra como fascinante. Seja como for, a própria presença de Plummer nos Óscares deste ano traz consigo um valor simbólico.
Se a Academia não o nomeasse poderia parecer que estava a criticar a decisão da Sony em "apagar" Kevin Spacey do filme e isso, em ano de luta pela igualdade feminina e de todos os movimentos, poderia parecer mal. Há quem acredite solenemente que Plummer só está nomeado como recado político. Por outro lado, é bem plausível a tese de que esta decisão da Sony possa ter anti-corpos, por muito que a conduta de Kevin Spacey seja condenável.
Torna-se plausível que membros da Academia vejam em Plummer um símbolo do excesso de Hollywood na forma como se está a lidar com a situação das denúncias sexuais pós- Weinstein. Plummer é quem tem menos culpa disto tudo e, como o próprio admitiu, não foi fácil decorar um papel com tantas falas em apenas uma semana. Esta nomeação terá sempre uma componente de "feito".