Abastecer de manhã e outras dicas para esticar o combustível
Há quem defenda que não é motivo para alarme, mas certo é que a greve dos motoristas de matérias perigosas arranca nesta segunda-feira e com consequências para o dia-a-dia dos portugueses. O país entrou em decretada situação de crise energética e mesmo antes de os protestos começarem já havia corrida a vários postos de combustível.
Como a greve acontece por tempo indeterminado, eis alguns conselhos para melhor gerir o consumo dos próximos dias.
Após uma reunião de emergência com a Proteção Civil, no sábado, o ministro da Administração Interna disse que os portugueses podem estar "totalmente" descansados com os efeitos da greve. "Não temos um problema de combustível, temos um problema no atraso de fornecimento de combustível", sublinhou Eduardo Cabrita.
O governante apelou a todos os portugueses para uma "gestão criteriosa das suas necessidades de consumo de combustível". Um apelo renovado pela Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor no manual de sobrevivência à greve que lançou, onde aconselha a uma "condução eficiente, para gastar menos combustível".
Em caso de viagens longas, pode recorrer ao GPS para prever o gasto. Mas deve controlar aqueles que não pode calcular, como a utilização de ar condicionado, que deve reduzir tanto quanto possível para poupar combustível. Lembre-se de evitar estacionar ao sol, sempre que consiga, para que não precise do ar condicionado.
Também pode sempre recorrer aos velhos truques de condução. Sempre que tiver de parar nos semáforos ou no trânsito, opte por deixar o carro engatado em vez de em ponto morto. Não desligue o start and stop. Antes de sair de casa, tente economizar o que leva na bagagem para não criar peso excessivo no automóvel.
Durante a viagem, procure também ter uma condução mais suave, para evitar ter de parar e arrancar repentinamente. E controle os quilómetros, porque por a cada oito quilómetros que conduz acima dos 80 km/h está a gastar mais seis cêntimos por litro.
Se precisar de abastecer, faça-o logo pela manhã ou durante os períodos do dia em que está mais fresco. É nessas alturas que o combustível vai estar mais denso e, por isso, acabará por pagar o mesmo preço por mais quantidade.
O governo decretou serviços mínimos para os dias em que decorre a greve, de forma a assegurar combustível para responder a todas as necessidades. O fornecimento de combustíveis será de 50% nas cidades para a população em geral e 100% para os integrantes da rede de emergência de postos de abastecimento (REPA).
Para os consumidores em geral, só será possível um abastecimento máximo de 15 litros de combustível. Já nos postos que não integram a REPA o limite é de 25 litros por veículo ligeiro, cem litros no caso dos pesados.
A corrida aos postos de abastecimento fez duplicar as vendas de combustível em agosto. "Eventualmente, as vendas de combustíveis duplicaram. Ainda não há números completos", disse Filipe Meirinho, presidente da Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE).
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse que os serviços mínimos estarão a ser assegurados em 374 postos da rede, sendo 54 destinados a veículos prioritários e 320 ao público em geral.
A lista destes locais poderá ser consultada através do site da Entidade Nacional para o Setor Energético, que criou um mapa interativo que aqui reproduzimos:
Os postos prioritários estarão divididos em duas categorias. Em primeiro lugar, os transportes das Forças Armadas, de emergência médica, da Proteção Civil, bombeiros, mas também transportes de medicamentos e de distribuição de alimentos essenciais para o funcionamentos de entidades como hospitais e centros de saúde.
Na segunda categoria estão os transportes públicos, empresas e entidades de transporte de resíduos sólidos urbanos e hospitalares, transportes de valores, de bens essenciais para o funcionamento dos serviços prisionais, lares e centros de acolhimento, bem como de alimentação para animais em explorações.
Caso tenha essa possibilidade, prefira os transportes públicos, recomenda a Deco. Uma vez que os serviços mínimos propostos pelos sindicatos dos motoristas incluem o abastecimento destes serviços, "é pouco provável que sejam afetados" durante a greve.
A Sociedade de Transportes Coletivos do Porto, principal operadora da área metropolitana, disse estar a preparar um plano "dinâmico e adaptável" no caso de greve. Lembrou que "mais de 60%" das suas viaturas são movidas a gás natural ou 100% elétricas" e para a restante frota movida a diesel há combustível de reserva para "alguns dias". Também a Carris, empresa de transportes de Lisboa, "não prevê que ocorram problemas no normal funcionamento do serviço" caso sejam cumpridos os serviços mínimos.
Além do autocarro, do metros e do comboio, pode ainda recorrer às bicicletas e às trotinetas, caso estes serviços sejam disponibilizados dentro da cidade onde se encontra.
A Deco aconselha ainda o recurso ao carpooling, partilha de viagens no mesmo carro para quem tem o mesmo destino. É uma forma económica de transporte, uma vez que se divide as despesas das viagens. Já há várias plataformas online especializadas neste serviço.
Assim que anunciada a greve, as bombas de gasolina assistiram a uma corrida aos jerricãs (contentores portáteis para transportar gasolina). "Isto tem sido uma loucura. Até aqueles que tínhamos em exposição foram vendidos", dizia um funcionário de uma loja de acessórios de automóveis em Portimão.
Entre o primeiro dia de julho e a sexta-feira passada, já foram vendidos 16 mil jerricãs, um aumento de nove mil em relação ao período homólogo. Mas ainda que pareça uma solução óbvia, a Deco alerta para o perigo de armazenamento de combustível nestes recipientes. Por isso, desaconselha o recurso a esta prática durante a greve.
Apesar de o transporte de combustível em jerricãs ser legal, a lei indica que é "proibido armazenar nas arrecadações dos prédios combustíveis líquidos", devido ao risco de incêndio e de "libertação de vapores". Em caso de infração, pode enfrentar uma multa entre 275 e 2750 euros (no caso de pessoa singular) e 27 500 euros (no caso de pessoa coletiva).
No caso de estar a ponderar o abastecimento em jerricãs, saiba que só poderá encher até 60 litros por recipiente e 240 por carro (no caso de um carro particular). Caso ultrapasse este limite, pode ser punido com uma coima entre 750 e 2250 euros (se pessoa singular) e entre 1500 e 4500 euros (se pessoa coletiva). Não é permitido abastecer em qualquer outro recipiente.
No total, o governo irá disponibilizar 50 mil dísticos que permitem o acesso à rede prioritária de abastecimento de combustíveis.
No sábado, o ministro da Administração Interna informou que já havia pelo menos 20 mil dísticos disponíveis, dos quais cerca de 1300 seriam já neste domingo distribuídos para viaturas de instituições particulares de solidariedade social.
Nos próximos dias haverá "mais 30 mil para veículos do Estado e de empresas que possam aceder à rede de emergência". "Qualquer entidade pública e privada poderá solicitar o reconhecimento de veículo de emergência", acrescentou. O pedido pode ser feito através desta página.
É agosto, mês de férias para grande parte dos trabalhadores, mas não para todos. Quanto aos que se encontram nesta situação, a Deco recomenda que tentem negociar com a entidade patronal a possibilidade de trabalhar a partir de casa. Mas garanta que a empresa aceita, pois a lei indica que não é obrigada a aceitar como justificadas as faltas em dias de greve.
Depois do primeiro protesto, ainda neste ano, os sindicatos dos motoristas voltaram a lançar um pré-aviso de greve, no dia 15 de julho, após uma reunião em que estava em causa uma negociação para a revisão do acordo coletivo de trabalho. O representante legal dos trabalhadores, Pedro Pardal Henriques, anunciou nesse mesmo dia que a greve iria avançar, acusando a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias de não querer "cumprir aquilo a que se comprometeu com os motoristas" nos dois acordos já assinados em maio.
Em causa está a reivindicação do aumento do salário-base dos trabalhadores - atualmente de 630 euros - para 700 euros já em janeiro de 2020, 800 euros em 2021 e 900 euros 2022.
Na sexta-feira, o governo decretou Situação de Crise Energética até dia 21 de agosto, apesar de a greve ter sido convocada por tempo indeterminado. A Proteção Civil foi ativada para acompanhar a greve dos motoristas de matérias perigosas.
O ministro Eduardo Cabrita anunciou, no sábado, que haverá reuniões diárias para averiguar o ponto de situação da greve e das necessidades consequentes.