A violência e a agressividade não são características de Síndrome de Asperger
A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA) veio hoje esclarecer que a "Síndrome de Asperger (SA) é uma perturbação do espetro do autismo, que se manifesta, sobretudo, por alterações na interação social, na comunicação e no comportamento, sendo os mais habituais as alterações dos padrões de comunicação verbal e não-verbal e numa atenção muito focalizada em interesses específicos. São sinais habituais de SA a dificuldade em estabelecer contacto ocular, a interpretação literal da linguagem ou a dificuldade em entender e expressar emoções".
Em comunicado enviado às redações, a APSA explica que este esclarecimento surge na sequência de várias notícias difundidas pela comunicação social sobre "o projetado atentado aos alunos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa" que associavam o diagnóstico feito ao jovem durante a infância, segundo terá referido a mãe em tribunal, à arquitetura do plano de ataque.
Segundo refere a APSA, "a violência e a agressividade não são características da SA, pelo que não pode ser feita qualquer associação direta entre os atos de violência descritos pela Comunicação Social e esta síndrome", sublinhando que "estes atos são, outrossim, absolutamente demonstrativos do trabalho que há a desenvolver na saúde mental em Portugal", uma batalha que a associação diz vir a travar junto dos cidadãos, das autoridades públicas e da iniciativa privada e dos particulares, intervindo no sentido da capacitação e integração das pessoas com SA na sociedade.
Na mesma nota, a associação informa que em Portugal devem existir cerca de 40 mil pessoas com SA, na sua maioria rapazes, sustentando que, sendo uma das características da SA "o desenvolvimento de capacidades cognitivas normais, mas muito focalizadas" é urgente que se faça "o acompanhamento precoce e a intervenção rápida junto de crianças e jovens com esta problemática", nomeadamente para assegurar o desenvolvimento dessas características como qualidades relevantes na integração social e profissional e não como uma estigmatização, apelando mesmo à comunicação social e às redes sociais que "não façam julgamentos e rotulagens comportamentais precipitados".
Recorde-se que ontem mesmo, três dias depois de o jovem suspeito de planear um ataque à Faculdade de Ciências de Lisboa ter sido detido pela Polícia Judiciária, a psiquiatra Ana Vasconcelos alertava no DN para esta situação, explicando que a Síndrome de Asperger deixou de estar classificada como uma psicopatologia e que qualquer explicação para a reação do jovem deveria ser procurada nas causas do seu sofrimento e não na SA.