A vida e obra de Godinho Lopes - Olhos nos Olhos
A vida de Godinho Lopes saltou para as páginas de um livro. A infância na Beira, em Moçambique, a aventura profissional na Venezuela, as experiências na construção e Urbanismo, a faceta altruísta e as duas passagens pelo Sporting constam da obra de António Sousa Duarte, que será apresentada ao público no dia 9 de outubro.
Comecemos pela mais recente passagem por Alvalade. Godinho decidiu candidatar-se à presidência do Sporting quando estava no Porto, a chefiar a sobras de renovação do Hotel Intercontinental. Avançou e cedo percebeu que a sua vida ia dar uma grande volta.
Apesar da "emergente aparição de um tal Bruno de Carvalho", o engenheiro foi eleito presidente em 2011. Não sem antes evitar as suspeições. Um "boato" sobre uma possível derrota chegaram inclusive ao camarote da sua entourage na noite de campanha, numa fase em que ele agradecia à sua equipa - parecia um discurso de derrota. A falta de informação foi propícia a isso, segundo conta o ex-jornalista no livro. A notícia de que Bruno de Carvalho tinha ganho nas urnas de 1 e 4 votos espalhou-se como se fosse um triunfo final, mas seriam as mesas de 10 votos que acabariam por dar a vitória a Godinho.
Bruno de Carvalho falou num "arranjinho", mas, segundo Sousa Duarte conta no livro, "nem Bruno de Carvalho nem os seus acólitos pediram a recontagem dos votos, nem naquela noite, quer no prazo legal de seis meses em que foram guardados".
Também eleita foi a Mesa da AG da lista opositora. "Ao serviço de Bruno de Carvalho, Eduardo Barroso e Daniel Sampaio, assumiram uma agenda que, de forma zelosa e sem escrúpulos cumpriram e fizeram cumprir", e com um objetivo segundo se poderá ler no livro: "Torpedear o mandato de Godinho Lopes."
Certo é que, segundo os que o acompanharam, o engenheiro governou sempre "na sombra" e na ameaça de Bruno de Carvalho. "O início do exercício começou sob a sombra criada por Bruno de Carvalho, através de uma oposição dura e estrategicamente apontada ao poder", segundo contou Ricardo Tomás, ex. Vogal da direção de Godinho, revelando ainda que o então presidente "recusou fazer um despedimento coletivo e um saneamento financeiro, como Bruno fez assim que chegou ao poder."
E de nada lhe valeu a que, o futebol, o andebol e o futsal tenham chegado a meias finais europeias. No campeonato nacional a equipa ia de mal a pior e só parou de descer com a chegada de Jesualdo Ferreira, o quinto treinador da época, que terminaria com os leões no 8.º lugar da tabela. A pior classificação de sempre. Por isso no último trimestre chamou a si o futebol, depois das saídas de Duque e Freitas "reis e senhores" na área do futebol até então.
Foi nesta altura que reuniu com Jorge Jesus "então treinador idolatrado do Benfica" para pegar no Sporting na época a seguir. Godinho tentou ainda roubar Domingos Soares de Oliveira aos encarnados, segundo a biografia. Mas, o engenheiro saiu antes de concretizar cada uma dela. Jesus viria mesmo a ser treinador leonino dois anos depois, com Bruno de Carvalho.
Forçado a sair de Alvalade, sob ameaça de uma assembleia geral destitutiva (como a que enfrentou Bruno), saiu pelo próprio pé, mas não sem antes deixar a Reestruturação financeira pronta a assinar. "Este processo foi oferecido de bandeja a Bruno", conta Sousa Duarte, lembrando que Bruno de Carvalho "fez alguns ajustes". E, segundo ele, depois falhado os compromissos assinados com a Banca. "Não pagou aos bancos a parte acordada" da venda de jogadores e segundo lembra o livro, segundo um artigo de opinião publicado no DN, Bruno gabou-se de fazer 200 milhões de euros em vendas de jogadores".
Por tudo isto é convicção de Godinho de que "os resultados no futebol, algumas saídas de vice-presidente e, principalmente, a desunião e o excesso de protagonismo de gente mais preocupada consigo do que com o clube, não permitiram levar por diante o projeto global e abrangente que tinha idealizado e que tantas e tantas vezes cumprira nas suas áreas de atividade".
O livro da autoria de António Sousa Duarte, doutorado em Ciência Política, marca o regresso do ex-jornalista à biografias, depois de ter escrito sobre a vida de Salgueiro Maia, D. Manuel Martins, António Aleixo e Frank Capra. Uma obra que cruza a vida do engenheiro com o percurso profissional e as duas marcantes passagens pelo Sporting.
Mas a vida de Godinho Lopes foi e é muito mais do que Sporting. Um dos capítulos mais emocionantes é o que recorda o acidente de um dos cinco filhos em 2006. Nesse ano, Luís Miguel, então com 29 anos - agora com 42- caiu do cavalo durante um jogo de horseball, na Beloura (Cascais), e sofreu um traumatismo cranioencefálico. Uma experiência terrífica que o levou a fundar a Novamente, associação que ajuda traumatizados cranioencefálicos e suas famílias.
Godinho Lopes teve de aceitar que a recuperação do filho "não ia levar meses, mas sim anos!" No caso do Luís Miguel, foram precisos 12 anos e a ajuda de dezenas de profissionais, como contou ao DN, numa reportagem em abril: "Começou a ter explicações de matemática, por exemplo, para desenvolver raciocínios mais lógicos, para ele cinco euros ainda são mil escudos, o raciocínio dele não concretizou a mudança. Mas continua a fazer hipoterapia, hidroterapia ou psicoterapia, para recuperar aspetos quer de origem motora quer cognitiva e psicológica."