Não há duas sem três. A polémica já sucedera com o lançamento da empreitada para o eixo central de Lisboa. Agora, a apresentação do projeto de radical transformação da 2ª Circular pelo presidente Fernando Medina provoca nova e justificada discussão, embora Medina pense que não. A gravidade das questões suscita reações junto de diversas entidades, duplamente surpreendidas pela ausência de diálogo por parte da autarquia e pela pressa com que todo o processo tem vindo a ser conduzido. Evidente, aliás, no facto de Fernando Medina ter lançado a discussão no período de Natal e Ano Novo, para ver se ninguém contrariava as intenções do edil. Entre estas entidades, incluem-se o gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) e do ACP, para além de muitas outras. Mas também figuras com reconhecida competência técnica e académica como o Prof. Fernando Nunes da Silva, forçado a demitir-se pela contradição insanável entre aquilo em que acredita e a deriva eleitoralista do presidente da CML. Alguém com quem por vezes politicamente discordei, mas a quem reconheço notória capacidade técnica. O CDS-PP ainda recentemente liderou o processo de discussão pública no eixo central, com uma violenta oposição às intenções socialistas. E por isso esta atitude por parte de Fernando Medina já não é surpreendente mas antes, e lamentavelmente, mais uma demonstração de um comportamento que se tornou regra e que tem um objetivo bem visível. Com efeito, ao mesmo tempo que Fernando Medina pretende restringir a circulação automóvel na cidade, assiste-se a uma pressa digna de um filme da série Velocidade Furiosa, no que ao calendário das obras diz respeito: todas elas com conclusão prevista a tempo das eleições autárquicas de 2017. O Diário de Notícias chamou ao que se passa com a 2.ª Circular "uma revolução". Na verdade, a revolução acontece em toda a cidade, traduzindo-se numa destruição para todos aqueles que vivem e trabalham em Lisboa. Estrangulando ao mesmo tempo a possibilidade de circulação dos lisboetas na zona ribeirinha, no eixo central, em Sete Rios, e agora na 2.ª Circular, extravasando o programa eleitoral com que foi eleito, fugindo à discussão aberta nos locais próprios - como as reuniões camarárias - e seguindo uma prática de facto consumado, Fernando Medina não ouve nada nem ninguém na senda contra o que classifica como "a ditadura automóvel". E muito menos a oposição, especialistas e lisboetas. Por essa razão, o CDS-PP apelou à presidente da Assembleia Municipal, Helena Roseta, para que, tal como sucedeu com outros temas no passado, este órgão autárquico permita um debate esclarecedor e alargado sobre a obra da 2.ª Circular, envolvendo a sociedade civil nas suas diferentes vertentes e todas as forças políticas. É meu entendimento que este projeto extravasa o programa eleitoral do PS votado pelos lisboetas e que o alargamento do período de consulta e discussão pública deveria ter sido alargado por mais trinta dias, e não quinze. É que a pressa nesta obra não pode colocar em risco por razões políticas a vida e a segurança das pessoas, seja com base em argumentos ambientais ou de mobilidade (ainda por comprovar efetivamente) ou outros. Esperemos que Helena Roseta aceite agora o momento que propomos para uma discussão pública alargada. Saber ouvir é, para o CDS-PP, condição indispensável para saber fazer. Antes das obras estão e estarão sempre, para o CDS, os cidadãos e a sua salvaguarda, por mais "revolucionária" que se apresente a realidade..Vereador do CDS-PP na CML