A abundante oferta de canais no cabo, os serviços de streaming, as novas tecnologias (smartphones, tablets) e a migração para o digital são alguns dos grandes desafios que a televisão tradicional enfrenta. Os principais representantes do setor reuniram-se na conferência "O Futuro da Televisão e as Novas Formas de Consumo", que se realizou ontem na Universidade Católica, em Lisboa. A televisão "não vai morrer", mas avizinham-se tempos de "mudanças profundas"..Na ótica de Gonçalo Reis, presidente do conselho de administração da RTP, a chave da sobrevivência num mercado tão competitivo passa por "abraçar as mudanças". "Os meios de comunicação social devem fazer precisamente o contrário do que os taxistas estão a fazer. Devem perceber as mudanças, abraçá-las, perceber as tendências, aquilo que o consumidor quer e trabalhar de forma civilizada. Não devem ser agressivos face aos fatores de mudança", salientou..Apesar de o consumo televisivo estar a mudar, o estudo "As novas dinâmicas do consumo audiovisual em Portugal", feito pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), concluiu, a partir de mil e cinco entrevistas, que 67,2% das pessoas ainda consomem televisão em direto, contra 33,8% que o fazem em diferido. "A TV é a indústria que já teve mais certidões de óbito e nunca morreu. A televisão continua a ser relevante e a grande plataforma de audiências em larga escala", realçou André Andrade, presidente da CAEM (Comissão de Análise e Estudos de Meios)..Bruno Santos, diretor-geral de antenas e programação da TVI, assumiu que este tem sido "um processo de mudança muito rápido e violentíssimo". "Em 2010, os canais FTA (free to air, de acesso livre) tinham 80% do mercado, em seis anos perdemos 25% dessa fatia. O cabo passou de 17% para 36%. Para além da pressão do cabo, temos ainda a pressão da tecnologia". Ainda assim, Bruno Santos não considera que este cenário seja "uma ameaça"..A tecnologia traz "a fragmentação da atenção" do espectador, o que torna tudo ainda mais desafiante. Para Rogério Canhoto, CRO do Grupo Impresa, que detém a SIC, "ninguém quer ser o avozinho na discoteca, que mete a música que já ninguém quer ouvir". É também esta a leitura de Pedro Mota Carmo, CEO da Dreamia (produtora de canais temáticos detida pela NOS e pela AMC Networks International). "Nos nossos canais fazemos questão de que haja uma relação entre os nossos conteúdos e o consumidor final." Além de adequar os conteúdos ao que o público procura, existe outra tendência. Eduardo Zulueta, presidente da AMC Networks International Iberia, falou na "programação de nicho". "Acreditamos que esta revolução tecnológica faz que os consumidores procurem uma programação mais especializada", disse o responsável, apontando o caso do canal Sundance, especializado em cinema independente..O avanço galopante do mundo digital tem também o seu lado positivo. O presidente do conselho de administração da RTP admitiu que esta realidade "obriga a RTP a largar uma cultura majestática e a trabalhar em rede". "É uma mais-valia e está a enriquecer-nos", justificou Gonçalo Reis.