"A tua mãe é prostituta?" "És gay?"... a polémica entrevista de acesso à NFL

Entrevistas que antecedem o draft da liga de futebol americano geram controvérsia, mas também têm defensores
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O "draft", processo de seleção de novos jogadores saídos da universidade, é um dos pontos altos do calendário anual da NFL, a liga profissional de futebol americano nos Estados Unidos, e a sua 84.ª edição está aí à porta: arranca a 25 de abril e prolonga-se até dia 27. Antes disso, no entanto, os candidatos tiveram de passar por um processo de seleção prévio que contempla uma controversa entrevista de emprego onde os jogadores podem ser confrontados com questões de foro pessoal.

A "NFL Scouting Combine", que antecede o "draft", é uma exibição das capacidades dos futuros jogadores da NFL para as equipas interessadas. Até 335 atletas participaram este ano neste evento, que decorreu durante o mês de fevereiro. Os atletas têm de superar exames médicos e testes físicos que os oficiais da NFL registam atentamente, além de um exame escrito para avaliar as capacidades cognitivas dos jogadores.

Mas sobra ainda uma secção de entrevistas, em que os treinadores das 32 equipas da NFL questionam os atletas sobre a sua vida pessoal e essas perguntas podem ser tão incómodas quanto estas:"Se fosses uma fruta, que tipo de fruta serias?"; "Tens medo de palhaços?"; "Quanto tempo consegues ver sem pestanejar?"; "Tens dois testículos?"; "A tua mãe é uma prostituta?"; "És gay?".

Em 2010, Dez Bryant, antiga estrela dos Dallas Cowboys foi questionado sobre se a sua mãe era uma prostituta. Em 2016 perguntaram a outro atleta, Obum Gwacham, quando tinha perdido a virgindade. No mesmo ano, um treinador dos Atlanta Falcons pediu desculpa por perguntar a Eli Apple, agora jogador dos New Orleans Saints, se era homossexual.

No Combine de 2018, Derrius Guice, que agora representa a equipa de Washington Redskins, também alegou que uma equipa o questionou sobre a sua sexualidade. Este ano, Kris Boyd, um dos jovens atletas a candidatar-se ao "draft", admitiu ter sido questionado sobre os seus testículos.

DeMaurice Smith, diretor executivo do sindicato dos jogadores, exigiu que qualquer equipa que questionasse sobre a sexualidade de um jogador fosse banida do Combine. A NFL respondeu enfatizando que esses inquéritos são contrários às políticas adotadas pela liga.

Mas porque é que as equipas da NFL o fazem?

Neil Stratton é um repórter que acompanha o processo do "draft" e aconselha os jogadores sobre o que o espera no "combine". "Algumas equipas são bastante hostis na sua abordagem" disse o repórter à BBC Sport. "Querem fazer um jogador sentir-se desconfortável. Esperam conseguir pôr-se debaixo da pele do jogador e levá-lo a dizer algo mais revelador."

O clima hostil, criado para suscitar frustração nos jogadores, é assim uma maneira de conseguirem informações que os jogadores não querem partilhar.

Mas mesmo entre jogadores nem todos condenam estas entrevistas. Menelik Watson candidatou-se ao Draft em 2013 e acredita na importância das entrevistas, como maneira justificável de prever a capacidade de um jogador se relacionar com outros nos balneários.

"Os treinadores têm de saber o que recebem com um jogador. Um treinador não pode dar uma oportunidade só por causa da maneira como jogas, sem te testar mentalmente."

Futebol americano é um desporto agressivo, conhecido pelas inúmeras lesões que assolam os jogadores "mas não tens escolha, tens de te convencer mentalmente que estás pronto para jogar", é como Watson defende as perguntas menos ortodoxas das entrevistas em declarações à BBC.

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