"A tecnologia é sempre um meio para melhorar a saúde e qualidade de vida de cada um de nós"
Hoje em dia, qual a importância da tecnologia, no âmbito da saúde?
Já não é possível falar de saúde sem considerar o papel da tecnologia. Os hospitais e as farmácias, por exemplo, tomam cada vez mais partido de plataformas informáticas, que se tornaram um apoio fundamental no seu dia a dia. Os softwares que existem, hoje em dia, permitem criar perfis e acompanhar cada utente, desde a fase da prevenção ao tratamento, possibilitando assim melhores cuidados de saúde, a custos controlados. A tecnologia assegura, cada vez mais, a sustentabilidade dos sistemas de saúde.
Hoje em dia, a experiência num hospital continua a ser: chegar, dirigir-se a um posto administrativo, passar por uma triagem, consultar um médico, ser encaminhado para um médico especialista, receber alta ou continuar a ser seguido no hospital. O que é um processo moroso, de longas esperas e períodos sem qualquer tipo de informação, para um consumidor habituado a ter a conta bancária, por exemplo, sempre à mão. A triagem podia ser feita, por exemplo, por um algoritmo pré-definido e/ou com um chatbot, dependendo da severidade, que identifica se o utente tem de ir para uma sala de urgência ou se pode ser atendido, remotamente, por uma teleconsulta, ou se deve ir a uma unidade de cuidados primários. Com o apoio da tecnologia, conseguimos aliviar o sistema e melhorar a perceção do utente sobre os sistemas de saúde. Por outro lado, estamos também a permitir que os médicos, enfermeiros e terapeutas se possam dedicar aos casos que necessitam de mais atenção. A tecnologia tem de servir como um apoio, tanto do ponto de vista administrativo como clínico.
Que tipo de tecnologias já dispõe a Glintt para apoiar os sistemas de saúde?
A Glintt encontra-se no mercado da saúde há cerca de 20 anos. Distinguimo-nos nesta área, porque conhecemos bem o setor, os seus processos, os principais intervenientes e trabalhos com equipas multidisciplinares, da informática às ciências da vida. Já desenvolvemos um software para hospitais, que cobre a jornada completa do utente no hospital, desde a entrada até à saída. Trabalhamos com um leque muito variado de profissionais, para um melhor desenvolvimento de produtos que se adequem à realidade, nomeadamente às necessidades atuais dos utentes e ao constante desenvolvimento tecnológico. Este é o ecossistema da Glintt, que desenvolve softwares para hospitais e farmácias comunitárias. No contexto das unidades de saúde, trabalhamos num âmbito mais alargado, acompanhando a jornada do doente dentro da instituição e fora das unidades de saúde, e promovemos a utilização de tecnologia e soluções que garantam que a informação acompanha sempre o cidadão, desde a fase da prevenção até à fase de recuperação no domicílio. Através de soluções diferenciadoras queremos acompanhar cada pessoa no seu percurso no universo da saude - estaremos sempre lá.
Que tipo de tecnologia é que a Glintt desenvolve, para seguir a jornada do utente?
Podemos criar uma aplicação, ou app, para smartphone, para ser usada pelo utente, onde este pode monitorizar o seu bem-estar, durante a fase saudável, e onde pode ser realizada uma teleconsulta, durante a fase da doença. Basta que o mesmo preencha sempre os seus dados na aplicação, para que a unidade de saúde tenha sempre a informação mais atualizada. Ter sempre à disposição a informação clínica atualizada numa app pode tornar-se especialmente útil quando, por exemplo, o utente tem necessidade de alternar entre unidades de saúde - pois, permite reduzir custos para o utente e para os sistemas de saúde, assim como poupa tempo e esforço, de parte a parte, até à conclusão do diagnóstico. Esta aplicação não só permite que o utente se sinta mais envolvido no processo, assim como leva a um melhor conhecimento face à sua saúde e a melhores resultados em saúde.
Entre a tecnologia e a saúde existe uma complementariedade. Algo que a Glintt já tinha abordado nas anteriores edições do HINTT. Qual o balanço que faz deste prémio criado pela vossa empresa?
Chegamos agora à terceira edição do HINTT: na primeira lançámos o prémio, na segunda já recebemos candidaturas e tivemos vencedores. Existem quatro áreas, sobre as quais o prémio pode ser submetido: uma está relacionada com startup innovation, sendo por isso dirigida a startups, e as restantes com unidades de saúde, nomeadamente: Patient Safety, Clinical Outcomes, Value Proposition. Portanto, estão todas relacionadas com a transformação digital. Recebemos projetos do setor público, privado e do setor social.
Como analisa as primeiras edições do HINTT?
As primeiras edições do HINTT demonstraram, sobretudo, que há ideias que se podem transpor e sair do âmbito dos departamentos dos organismos que as sugeriram, chegando a um nível nacional e até internacional. Tivemos projetos na área da infeção hospitalar, como para prevenir infeções, na área da oncologia, sobre como oferecer um tratamento menos invasivo e um atendimento mais personalizado a este tipo de doentes, e por último, tivemos projetos sobre como conseguir aproximar a população mais sénior à tecnologia na saúde. São projetos que, efetivamente, mostram que temos boas montras a nível tecnológico e que somos capazes de chegar ao nível do melhor que se faz na Europa, mas muitas vezes estão fechados dentro das instituições que os desenvolvem. Por isso, o HINTT é um palco para os melhores projetos tecnológicos, que devem ser conhecidos a nível nacional e até internacional.
Qual é o feedback que tem tido dos vencedores?
No caso das startups, o feedback é muito positivo, já que este prémio significa o reconhecimento do esforço da empresa. Por outro lado, para as startups é muito importante, pois funciona como uma espécie de palco para o mercado, que lhes possibilita angariar clientes - que é muitas vezes a maior dificuldade, quando ainda não são conhecidas no mercado. Para as equipas e departamentos de instituições de saúde, significa também o reconhecimento e empowerment de que precisavam, para poderem escalar o projeto dentro e fora das suas instituições.
Quais as expetativas para este ano?
Acreditamos que, este ano, vamos ter mais projetos a concorrer na categoria de clinical outcomes, pois é um tema sobre o qual as entidades estão mais atentas. Na categoria da segurança do utente dentro da instituição de saúde também pensamos receber vários projetos. E também na área de Value Proposition, que consiste em pensar como posso melhorar a eficácia da minha instituição de saúde através da tecnologia. A tecnologia é sempre um meio para melhorar a saúde e qualidade de vida de cada um de nós, mas também é uma forma de promover a produtividade e a eficiência de uma instituição de saúde. Em relação às startups, além das empresas já formadas esperamos receber também projetos de startups que estão a sair agora das universidades.
Quais são as novas tendências no mundo da saúde?
Todas as áreas relacionadas com a saúde, desde as unidades hospitalares às farmácias, estão a ser impactadas pela transformação digital. E têm de pensar, cada vez mais, através da tecnologia. O cidadão exige cada vez mais tecnologia, pelo que também procura ser mais um consumidor, em saúde, com tecnologia. Quer ter mais conveniência e aproximar a sua relação com o seu médico ou enfermeiro, através dos meios tecnológicos de que dispõe. As unidades hospitalares também sabem que é cada vez mais difícil atender ou conseguir camas para todos os doentes, pelo que se algumas situações se puderem resolver à distância, através de teleconsultas - é uma mais-valia tanto para os profissionais de saúde como para os doentes.
A tecnologia permite, assim, uma melhor gestão dos cuidados de saúde?
É uma das suas principais vantagens. Já temos exemplos disso no nosso país: por exemplo, através da linha Saúde 24. Esta linha de apoio ajuda a que apenas os casos mais graves sigam para as urgências dos hospitais, facilitando assim o trabalho dos profissionais de saúde. É apenas um exemplo de telesaúde, que as unidades hospitalares já perceberam que precisam de implementar. Por exemplo, os profissionais de saúde queixam-se por passarem muito tempo a datilografar. A Glintt desenvolveu uma aplicação que já permite ditar, para o telemóvel, a condição do doente, que é automaticamente transcrita para o seu processo clínico.
O futuro que se prevê, para a saúde, é então um ecossistema onde a tecnologia será a base do trabalho de profissionais de saúde, unidades de saúde e atividades seguradoras, onde o utente está no centro?
Caminhamos, hoje em dia, para uma visão centrada no cidadão, onde a tecnologia é a base. A informação sobre o utente deve circular e não ficar fechada no centro de saúde ou no hospital. Só assim vamos conseguir uma melhor sustentabilidade na área da saúde com melhores resultados para cada um de nós: viver mais anos e com mais qualidade de vida.