A sucessão de Costa foi ele que a desencadeou
Que não haja a menor dúvida. A sucessão de Costa foi o próprio que a desencadeou, com a entrevista ao Expresso. Não é uma invenção do PSD e, perdoem-me a frontalidade, é também um grande disparate, porque fragiliza a governação socialista nos próximos dois anos. Costa está transformado num líder a prazo. Se me permitem a linguagem desportiva, sempre popular e de fácil perceção, limita-se a cumprir o calendário.
Costumo dizer que cada cuidado a seu tempo e às vezes ainda não é tempo desse cuidado, o que se aplica à sucessão de Costa. Uma vez chegados a 2023, haveria muito tempo para tratar da liderança do PS, com as candidaturas que se perfilassem. Tratar desta questão a tão grande distância, só tem paralelo no que chamei a orgia socialista dos 50 anos do 25 de Abril, onde a antecedência é também enorme e injustificada.
Marques Mendes disse uma coisa certa: não havendo oposição, Costa pode fazer os disparates que quiser. O problema é que em matéria de disparates, a hipótese Paulo Rangel para liderar o PSD é outro e bem grande, por razões que já tive ocasião de referir - o eleitorado moderado, que é maioritário, irá votar no PS, enfraquecendo o partido de Sá Carneiro.
O disparate é livre, mas, por favor, não abusem! Tanto no Governo, como na oposição, a burrice é, infelizmente, a característica dominante. Usando uma expressão bem popular, estamos entregues à bicharada! Vivemos uma situação porventura única no Portugal de Abril - tanto o primeiro-ministro, como o líder do principal partido da oposição estão a prazo, o que para o país é péssimo!
Rangel poderá ganhar o PSD, mas não ganha o país. Se conhecesse bem a história do seu partido, teria presente uma afirmação de Sá Carneiro: existe, em Portugal, uma maioria sociológica de centro-esquerda. E Paulo Rangel nada tem a ver com o centro-esquerda. Os portugueses não o vão consagrar nas urnas.
Que votem sim nos nossos autarcas, no próximo dia 26. O poder local é o que melhor responde aos anseios das populações. Não votar é, sem dúvida, uma atitude cobarde, porque delega-se nos outros o que a nós compete. Vamos todos votar!
Tendo o PS quase o dobro das câmaras do PSD, a sua vitória é bastante provável. Aliás, Rui Rio nem fala em ganhar, mas tão-só em encurtar a distância que o separa do PS. Só que este desiderato não deve ser suficiente para se aguentar na liderança do PSD. Os 'barões' querem mais e melhor e já estão focados em Paulo Rangel. O PSD foi sempre uma máquina trituradora de líderes.