Desértica, acastanhada, marcada por crateras. É assim, vista de lá, a paisagem lunar no lado oculto do satélite natural da Terra. Ao aterrar pela primeira vez do outro lado da Lua com a sua sonda Chang-4, a China fez história e marca pontos, mostrando que é hoje um ator maior na área do espaço..Considerada um feito técnico sem precedentes, dadas as dificuldades com as comunicações que uma manobra destas coloca, a chegada da Chang-4 a terreno firme, e as suas boas condições de saúde, demonstradas pelo facto de já ter enviado as primeiras imagens, coloca a China numa posição favorável nesta área e abre a porta a um programa cientifico que poderá dar grandes novidades no futuro..A Chang-4 aterrou na bacia de Aitken, no Polo Sul lunar, uma planície ampla e sem grandes acidentes, escolhida exatamente porque esse tipo de terreno era mais favorável à perigosa manobra..Um dos principais problemas de pousar no outro lado da Lua tem a ver com a perda de comunicações com a Terra. Para resolver o problema a China colocou em maio, na órbita lunar, um satélite de telecomunicações, o Queqiao, que está agora a a assegurar as comunicações entre a Chang-4 e o centro de controlo em Terra..Cumprida com sucesso a primeira prova de fogo, a Chang-4 pode começar agora o seu programa científico. Os detalhes desse programa não são totalmente conhecidos - a hora exata da aterragem também foi mantida em segredo pela China -, mas, do que se sabe, a Chang-4 vai fazer estudos de geologia no local onde pousou, vai estudar o interior da Lua com instrumentos de radar e vai ainda, no seu interior, fazer testes com plantas e vermes, usando o solo local, que vai recolher do próprio chão..A partir destes estudos, os cientistas esperam obter dados que permitam compreender porque as duas faces da Lua são tão diferentes. Do lado de lá, com efeito, a crosta lunar é mais espessa e tem mais crateras, mas menos formações basálticas, que são tão características na face visível da Lua, e às quais se dá o nome de mares - como o mar da Tranquilidade onde a Apolo 11 aterrou há meio século.