E no espaço de uma semana tudo mudou na corrida à nomeação democrata para as eleições presidenciais. Os comentadores comparavam o momento da campanha ao vivido entre os republicanos em 2016, quando a profusão de candidatos tornava impossível prever qual seria o favorito. Mas depois das desistências de Pete Buttigieg, Amy Klobuchar e Tom Steyer, estes ainda antes da jornada eleitoral de 3 de março, na chamada super terça-feira, e de Michael Bloomberg e Elizabeth Warren, depois dos resultados apurados, o momento é agora semelhante ao das primárias democratas de há quatro anos, isto é, uma competição a dois..Como há quatro anos, apresenta-se Bernie Sanders, que perdeu então para Hillary Clinton. Desta vez o senador independente de Vermont enfrenta Joe Biden, o homem que foi senador pelo Delaware durante 36 anos, vice-presidente nos dois mandatos de Barack Obama e que concorre pela terceira vez à Casa Branca..Tecnicamente há uma terceira candidatura. Tulsi Gabbard, de 38 anos, não passa de 1% nas intenções de voto a nível nacional, mas tenciona levar a candidatura até à Convenção Democrata. A representante eleita pelo Havai desde 2012 é veterana da guerra no Iraque e distingue-se dos restantes candidatos em posições como a defesa do não intervencionismo nas relações externas..As atenções estão viradas para a luta entre os dois septuagenários. A idade e o estado de saúde de ambos é a primeira preocupação dos democratas. Sanders teve um ataque cardíaco em outubro, mas em dezembro três médicos declararam o candidato saudável e totalmente recuperado. Os graves problemas de saúde de Biden datam de 1988, quando teve dois aneurismas. Também recuperou sem sequelas, segundo um dos neurocirurgiões que o operou. Com sentido de humor, Neal Kassell disse ao Washington Examiner que Biden ficou melhor do que era - e que tinha cérebro. ".O ex-vice-presidente sempre foi dado a gafes e nunca se destacou como um tribuno. Mas no discurso de vitória trocou a mulher, Jill, com a irmã, Valerie, que o ladeavam. Na véspera da super terça-feira, Biden disse que a votação era na quinta-feira, tal como anunciou que era candidato ao Senado. Este tipo de lapsos levam o presidente e candidato republicano a apoucar Biden. "Ele nem sabe onde está ou o que está a fazer ou para que cargo está a concorrer", disse Donald Trump. E se for eleito presidente, continuou, "vão pô-lo num lar e outras pessoas vão governar o país", pessoas essas que, alega, são "loucos radicais da extrema-esquerda"..Antes da vitória na Carolina do Sul, no dia 29 de fevereiro, feito inédito nas três candidaturas à presidência de Joe Biden, este parecia estar nas ruas da amargura. Os meios de comunicação dividiam as atenções entre o homem que mais delegados elegera, Bernie Sanders, e o bilionário Michael Bloomberg, cuja campanha se baseou apenas em publicidade e redes sociais - e uma fatura de 500 milhões de dólares - para apostar tudo na super terça-feira.."Joementum"."Nós estamos bem vivos", regozijou-se Joe Biden no final da noite eleitoral, depois de ter vencido em dez dos 15 estados e territórios em que se escolhiam 1357 delegados à convenção democrata a realizar-se em julho em Milwaukee, no estado do Wisconsin. Ao passar para primeiro no número de delegados eleitos, o favoritismo começou a pender, ainda que ligeiramente, para o ex-vice-presidente, no que foi chamado de "Joementum", o momento de Joe..Biden beneficiou do apoio dos candidatos que desistiram - exceto de Elizabeth Warren, que se escusou a dizer quem quer na Casa Branca. Esse apoio foi visível no estado de Amy Klobuchar, o Minnesota. Mas não explica todos os resultados. Biden, que não fez uma única ação de campanha no Massachusetts - estado de Warren -, arrancou aí uma surpreendente vitória. As sondagens à boca das urnas de dez estados revelam que mais de 40% dos eleitores indecisos acabaram por escolher Biden. E, por outro lado, atraiu o voto dos negros, que já estiveram com ele na Carolina do Sul. Na super terça-feira, Biden recebeu 56% dos votos afro-americanos. "Ele foi vice-presidente com Barack Obama e fizeram um bom trabalho", resumiu uma eleitora negra de Houston, a cidade mais populosa do Texas..Igualmente importante, Biden recebeu a confiança dos eleitores brancos dos subúrbios, um voto que foi essencial para os democratas conquistarem a Câmara dos Representantes em 2018 e que, tal como o voto das minorias, é necessário para derrotar o candidato republicano..Por outro lado, Biden passou a ser o candidato de "todos menos Sanders", ou seja, de quem não se revê no programa do senador que se assume como um socialista democrático e que é rotulado por Donald Trump como um "comunista"..Diga-se, no entanto, que se Biden tem um perfil que fala para os moderados e para os mais velhos, o seu programa não é propriamente o de uma Hillary Clinton. Defende um salário mínimo de 15 dólares por hora, a legalização de 11 milhões de imigrantes, a defesa do Obamacare, a lei de saúde que tornou os cuidados de saúde acessíveis a mais pessoas, e uma revolução na energia para ir ao encontro das metas do combate às alterações climáticas..Já Sanders é o rosto de uma revolução social e política. Três exemplos: o senador quer cancelar a dívida dos estudantes universitários - um fardo de 1,6 biliões de dólares para 45 milhões de pessoas -; acabar com o sistema de saúde baseado em seguros privados para criar um serviço universal; e propõe um green new deal de 16 biliões de dólares que prevê a substituição dos carros a combustível fóssil por viaturas elétricas..Sanders atrai mais o voto dos jovens, dos brancos urbanos e dos latinos. Mas tendo em conta que a idade média dos eleitores nas eleições municipais é de 57 anos, o trunfo do voto mais jovem pode ser insuficiente. O socialista, que acusou o "corrupto sistema político" de apoiar Biden na sequência dos apoios dos candidatos que desistiram, em especial de Michael Bloomberg, reconhece a dificuldade de atrair mais eleitores. "Esta é uma campanha que está a tentar trazer pessoas que não têm estado envolvidas no processo político, o que não é fácil.".Em entrevista à MSNBC, Sanders declarou que não quer uma convenção na qual o candidato nomeado seja quem tiver obtido menos delegados. Isso é possível em teoria: segundo as regras da Convenção Nacional Democrata, se um candidato não tiver 1991 delegados na primeira votação, entram em campo os superdelegados (congressistas, governadores, etc.). "Se Biden entrar na convenção, ou no final do processo, com mais votos do que eu, é o vencedor", disse. O candidato de esquerda rejeita o cenário de o concorrente com menos votos disputar as eleições presidenciais. "Acho que iria causar enorme desalento no seio do povo norte-americano."
E no espaço de uma semana tudo mudou na corrida à nomeação democrata para as eleições presidenciais. Os comentadores comparavam o momento da campanha ao vivido entre os republicanos em 2016, quando a profusão de candidatos tornava impossível prever qual seria o favorito. Mas depois das desistências de Pete Buttigieg, Amy Klobuchar e Tom Steyer, estes ainda antes da jornada eleitoral de 3 de março, na chamada super terça-feira, e de Michael Bloomberg e Elizabeth Warren, depois dos resultados apurados, o momento é agora semelhante ao das primárias democratas de há quatro anos, isto é, uma competição a dois..Como há quatro anos, apresenta-se Bernie Sanders, que perdeu então para Hillary Clinton. Desta vez o senador independente de Vermont enfrenta Joe Biden, o homem que foi senador pelo Delaware durante 36 anos, vice-presidente nos dois mandatos de Barack Obama e que concorre pela terceira vez à Casa Branca..Tecnicamente há uma terceira candidatura. Tulsi Gabbard, de 38 anos, não passa de 1% nas intenções de voto a nível nacional, mas tenciona levar a candidatura até à Convenção Democrata. A representante eleita pelo Havai desde 2012 é veterana da guerra no Iraque e distingue-se dos restantes candidatos em posições como a defesa do não intervencionismo nas relações externas..As atenções estão viradas para a luta entre os dois septuagenários. A idade e o estado de saúde de ambos é a primeira preocupação dos democratas. Sanders teve um ataque cardíaco em outubro, mas em dezembro três médicos declararam o candidato saudável e totalmente recuperado. Os graves problemas de saúde de Biden datam de 1988, quando teve dois aneurismas. Também recuperou sem sequelas, segundo um dos neurocirurgiões que o operou. Com sentido de humor, Neal Kassell disse ao Washington Examiner que Biden ficou melhor do que era - e que tinha cérebro. ".O ex-vice-presidente sempre foi dado a gafes e nunca se destacou como um tribuno. Mas no discurso de vitória trocou a mulher, Jill, com a irmã, Valerie, que o ladeavam. Na véspera da super terça-feira, Biden disse que a votação era na quinta-feira, tal como anunciou que era candidato ao Senado. Este tipo de lapsos levam o presidente e candidato republicano a apoucar Biden. "Ele nem sabe onde está ou o que está a fazer ou para que cargo está a concorrer", disse Donald Trump. E se for eleito presidente, continuou, "vão pô-lo num lar e outras pessoas vão governar o país", pessoas essas que, alega, são "loucos radicais da extrema-esquerda"..Antes da vitória na Carolina do Sul, no dia 29 de fevereiro, feito inédito nas três candidaturas à presidência de Joe Biden, este parecia estar nas ruas da amargura. Os meios de comunicação dividiam as atenções entre o homem que mais delegados elegera, Bernie Sanders, e o bilionário Michael Bloomberg, cuja campanha se baseou apenas em publicidade e redes sociais - e uma fatura de 500 milhões de dólares - para apostar tudo na super terça-feira.."Joementum"."Nós estamos bem vivos", regozijou-se Joe Biden no final da noite eleitoral, depois de ter vencido em dez dos 15 estados e territórios em que se escolhiam 1357 delegados à convenção democrata a realizar-se em julho em Milwaukee, no estado do Wisconsin. Ao passar para primeiro no número de delegados eleitos, o favoritismo começou a pender, ainda que ligeiramente, para o ex-vice-presidente, no que foi chamado de "Joementum", o momento de Joe..Biden beneficiou do apoio dos candidatos que desistiram - exceto de Elizabeth Warren, que se escusou a dizer quem quer na Casa Branca. Esse apoio foi visível no estado de Amy Klobuchar, o Minnesota. Mas não explica todos os resultados. Biden, que não fez uma única ação de campanha no Massachusetts - estado de Warren -, arrancou aí uma surpreendente vitória. As sondagens à boca das urnas de dez estados revelam que mais de 40% dos eleitores indecisos acabaram por escolher Biden. E, por outro lado, atraiu o voto dos negros, que já estiveram com ele na Carolina do Sul. Na super terça-feira, Biden recebeu 56% dos votos afro-americanos. "Ele foi vice-presidente com Barack Obama e fizeram um bom trabalho", resumiu uma eleitora negra de Houston, a cidade mais populosa do Texas..Igualmente importante, Biden recebeu a confiança dos eleitores brancos dos subúrbios, um voto que foi essencial para os democratas conquistarem a Câmara dos Representantes em 2018 e que, tal como o voto das minorias, é necessário para derrotar o candidato republicano..Por outro lado, Biden passou a ser o candidato de "todos menos Sanders", ou seja, de quem não se revê no programa do senador que se assume como um socialista democrático e que é rotulado por Donald Trump como um "comunista"..Diga-se, no entanto, que se Biden tem um perfil que fala para os moderados e para os mais velhos, o seu programa não é propriamente o de uma Hillary Clinton. Defende um salário mínimo de 15 dólares por hora, a legalização de 11 milhões de imigrantes, a defesa do Obamacare, a lei de saúde que tornou os cuidados de saúde acessíveis a mais pessoas, e uma revolução na energia para ir ao encontro das metas do combate às alterações climáticas..Já Sanders é o rosto de uma revolução social e política. Três exemplos: o senador quer cancelar a dívida dos estudantes universitários - um fardo de 1,6 biliões de dólares para 45 milhões de pessoas -; acabar com o sistema de saúde baseado em seguros privados para criar um serviço universal; e propõe um green new deal de 16 biliões de dólares que prevê a substituição dos carros a combustível fóssil por viaturas elétricas..Sanders atrai mais o voto dos jovens, dos brancos urbanos e dos latinos. Mas tendo em conta que a idade média dos eleitores nas eleições municipais é de 57 anos, o trunfo do voto mais jovem pode ser insuficiente. O socialista, que acusou o "corrupto sistema político" de apoiar Biden na sequência dos apoios dos candidatos que desistiram, em especial de Michael Bloomberg, reconhece a dificuldade de atrair mais eleitores. "Esta é uma campanha que está a tentar trazer pessoas que não têm estado envolvidas no processo político, o que não é fácil.".Em entrevista à MSNBC, Sanders declarou que não quer uma convenção na qual o candidato nomeado seja quem tiver obtido menos delegados. Isso é possível em teoria: segundo as regras da Convenção Nacional Democrata, se um candidato não tiver 1991 delegados na primeira votação, entram em campo os superdelegados (congressistas, governadores, etc.). "Se Biden entrar na convenção, ou no final do processo, com mais votos do que eu, é o vencedor", disse. O candidato de esquerda rejeita o cenário de o concorrente com menos votos disputar as eleições presidenciais. "Acho que iria causar enorme desalento no seio do povo norte-americano."