A salutar imprevisibilidade de Senhor Vulcão
Senhor Vulcão tem sido o alter ego de Bruno Pereira, o baterista e fundador dos Atomic Bees, esses mesmos em que brilhava nas vozes a irmã Rita Redshoes (quando ainda não era Redshoes mas sim Rita Pereira). Sob este heterónimo, Senho Vulcão lançou agora dois discos num só dia, Canções do Bandido e Flores do Bem, a contas próprias - isto é, a investir do seu dinheiro na edição de autor, daí a publicação limitada a 250 cópias muito artesanais.
Destes dois discos que sucedem ao estreante Montanha (de 2013), o mais elaborado e desconcertante é sem dúvida Canções do Bandido, feito de trovas amorosas, acompanhadas de guitarra malandra à Dead Combo e Marc Ribot, mas com uma simplicidade de meios à imagem da saudosa FlorCaveira.
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Pouco dado a convenções, mesmo que arrisque a inconstância, Senhor Vulcão conta com o apoio vocal, e espiritual, de Rita Redshoes - que coproduz o disco - no dueto As Flores São Tuas. Em Apneia, Senhor Vulcão resolve sublinhar a mensagem da canção, ao jeito do spoken word. E o uso de um trecho de Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, via Tiago André (A Boy Named Sue), denuncia uma vaga aberta na cabeça do Senhor Vulcão para a cinematografia.
Senhor Vulcão consegue encher com a sua personalidade as Canções do Bandido, dando-lhes uma imprevisibilidade de salutar.
O mais pequenino As Flores do Bem (de sete faixas) é o gémeo falso de Canções do Bandido, gravado em três dias junto à praia e feito novamente em família, desta vez com o seu pai, Carlos Pereira (ex-técnico adjunto do Sporting), a fazer os coros de bravos marinheiros. Cândido Jacob, na guitarra lap steel, também tenta menorizar a tendência solitária de As Flores do Bem.
**** muito bom