De nada servirá ao PSD mudar de líder sem fugir a um facto: durante quatro anos, deixou-se chefiar por um dos homens mais ineptos, indolentes e iliberais que povoou a nossa arena política desde a democracia. Um homem que não acredita no seu partido (achando sempre que valia mais do que ele), que não acredita nas instituições a que se candidata (nunca escondendo o seu desprezo pelo Parlamento) e que não acredita na própria democracia (queixando-se repetidamente das demasiadas eleições que disputou e, coincidentemente, perdeu)..Se os sociais-democratas tencionam seguir em frente como se nada tenha acontecido, repetirão o erro e serão novamente liderados por um incapaz. Se o fiasco político e eleitoral não foi suficiente para retirar lições, o PSD dificilmente saíra da irrelevância a que Rui Rio o reduziu..Os cerca de cinco meses entre a sua quarta derrota nas urnas e a escolha do seu sucessor estão a ser marcados por um agravamento da situação do partido e, sobretudo, pela continuada exposição da sua incompetência. A cada dia que passa, o resultado das legislativas deste ano fica menos misterioso e, aliás, bastante óbvio. Logo a 30 de janeiro, quando o PS selou uma maioria absoluta após sete anos de governação - prova maior de uma oposição incompetente e de uma alternativa inexistente -, Rio admitiu não ver como poderia "ser útil" a partir de então. Apesar de uma insistência da comunicação social para concretizar no que se traduzia essa tardia noção, Rio preferiu responder em alemão a demonstrar o mínimo de respeito perante os eleitores, a imprensa e os militantes do PSD. No dia seguinte, David Justino, o mais próximo dos seus vice-presidentes e o mais ausente do espetáculo em que Rio converteu a sua saída, foi à televisão assumir que a direção estava "de saída" e que haveria um congresso antecipado. Salvador Malheiro, o mais útil dos seus vice-presidentes, partiu prontamente para o terreno, tratando de dar uso a essa utilidade no futuro pós-rioísta. Joaquim Sarmento, cara e porta-voz dessa agora defunta era, rumou a coordenador da moção de Luís Montenegro..Apesar de tudo isso, ignorando o recato que a circunstância aconselhava, Rio prosseguiu agindo como se não tivesse passado nada. Nos entretantos, dedicou-se a perder mais uma eleição - a sua quinta - na repetição do círculo da Europa. Mas, tirando as demonstrações de ressentimento para com o eleitorado, quase parece que as legislativas não existiram. Lá continua. Impreparado, incoerente e irresponsável. No debate do programa de governo, não levou uma só ideia sobre o país. Na reação à inflação, veio pedir aumentos de salários sem qualquer estudo ou previsão, certamente esquecendo que há menos de um ano era contra o aumento do salário mínimo por "estarmos em crise", de onde, que se tenha dado por isso, não saímos..O modo como geriu as indicações para cargos institucionais da Assembleia e para a primeira linha parlamentar do PSD foi, mais uma vez, revelador. Depois das listas de deputados feitas em purga, apresentou-se uma direção de bancada feita em claustrofobia. O meu caro leitor note bem. Indicação para a mesa da Assembleia: Adão Silva. Cargo prévio: líder parlamentar de Rio. Indicação para a administração da Assembleia: José Silvano. Cargo prévio: secretário-geral de Rio. Indicação para suplente da administração da Assembleia: Hugo Carneiro. Cargo prévio: secretário-geral-adjunto de Rio. Indicação para presidente do grupo parlamentar: Paulo Mota Pinto. Cargo prévio: presidente da mesa de Rio. Indicação para vice-presidente da bancada: André Coelho Lima. Cargo prévio: vice-presidente de Rio..Tal, além de manifesta ausência de noção, tem um nome: distribuição de sobras. E estão a fazê-lo com coisas que importam..De nada servirá ao PSD mudar de líder para permanecer isto porque isto, verdadeiramente, não é nada.. Colunista