A queda dos Cuomo. Depois da demissão do governador, a suspensão do jornalista
Após a queda de Andrew Cuomo, que renunciou ao cargo de governador de Nova Iorque em agosto, após ser acusado por várias mulheres de assédio sexual, o seu irmão Chris, um renomado jornalista da CNN, foi suspenso pela direção da emissora por ter assessorado Andrew durante o escândalo público.
A CNN decidiu afastar o famoso jornalista de 51 anos por "tempo indeterminado", após a revelação do conteúdo da investigação realizada pela procuradora-geral Letitia James, que também é candidata ao governo do estado de Nova Iorque.
Chris aconselhou e "defendeu" o seu irmão de 63 anos, Andrew Cuomo, acusado em outubro de agredir sexualmente uma ex-colaboradora, o que obrigou o então governador a renunciar ao cargo em agosto.
Pelo menos 11 mulheres relataram ter sofrido assédio sexual do outrora poderoso governador do estado de Nova Iorque durante dez anos.
A procuradora-geral James publicou milhares de páginas de transcrições e vídeos das audiências com muitos protagonistas na sua investigação contra Andrew Cuomo, incluindo o irmão do ex-governador, o jornalista Chris Cuomo.
"Sim, ele é meu irmão, eu adoro-o profundamente, independentemente do que aconteça. Eu só tenho um irmão", respondeu aos investigadores que o questionaram em julho sobre o tipo de conselho e ajuda que deu a Andrew face às acusações de agressão sexual.
"Se eu puder ajudar o meu irmão, ajudo. Se ele quiser que o escute, eu faço-o. Se ele quiser que eu influencie em alguma coisa, eu tentarei fazê-lo", insistiu Chris Cuomo.
A CNN baseou a sua decisão de suspender o jornalista nestes documentos judiciais, que "revelam que o nível de envolvimento [de Chris] para ajudar o seu irmão é mais importante do que aquilo que sabíamos", explicou um porta-voz da emissora.
Para entender a força dos laços entre os dois irmãos, é preciso aprofundar-se na "saga familiar" dos Cuomo, que remonta há mais de um século, uma família símbolo do sucesso da imigração italiana nos Estados Unidos que chegou no início do século XX, afirmou à AFP Michael Shnayerson, autor de "The Contender: Andrew Cuomo, a Biography."
É preciso ir até o avô italiano dos irmãos, Andrea Cuomo, que deixou a região de Nápoles na década de 1920 e tinha uma mercearia no bairro de Queens com a sua esposa Immacolata.
Andrea mal falava inglês e quando perguntado o que o motivava, respondia 'puncha puncha', que significa 'nunca pare de bater', ou 'nunca desista", revelou Shnayerson.
O seu filho Mario Cuomo, nascido em 1932 e educado em Nova Iorque, ascendeu na política local e no Partido Democrata até ser eleito governador do estado três vezes (1983-1994), deixando a sua marca na cidade.
Para o seu biógrafo, Mario Cuomo era "um homem de enorme charme, mas tão severo com os filhos quanto o pai havia sido com ele". Andrew e Chris Cuomo, separados por 13 anos de idade, cresceram num clima familiar marcado pela "brutalidade" e "rivalidade" entre eles, mas também por um "vínculo fraterno indestrutível", uma "lealdade mútua e para com o resto da família", disse Shnayerson.
Chefe de campanha do pai na década de 1980, Andrew Cuomo ingressou na política no Partido Democrata e depois fez parte da administração de Bill Clinton, na década de 1990, antes de se tornar procurador-geral do estado de Nova Iorque na década de 2000. Em 2011, ganhou as eleições para governador.
O clã Cuomo ganhou notoriedade durante décadas numa dinastia política de magnitude nacional, assim como os Kennedy, com quem tinham laços parentais. Uma das filhas de Ethel e Robert Kennedy, o senador por Nova Iorque assassinado em 1968, casou-se com Andrew Cuomo em 1990 até ao seu tumultuoso divórcio em 2005.
"Nessa grande saga familiar, Mario permaneceu o patriarca até à sua morte" em 2015, afirma Michael Shnayerson. Mas depois da morte do pai, "Andrew e Chris podem ter perdido a bússola moral" , conclui.