Os últimos dados oficiais indicam que Portugal tem dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, um fator determinante para o desenvolvimento da Saúde Mental, de cada um e da população em geral. Mas este número em relação à pobreza preocupa ainda mais quando se sabe que uma boa parte são crianças.."A maior parte das pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza são crianças ou mães de famílias monoparentais. Isto é algo que me deixa muito preocupado", assume ao DN o diretor da Coordenação Nacional para as Políticas de Saúde Mental, Miguel Xavier, considerando que "a área da psiquiatria infantil é uma das grandes prioridades", porque "se há escassez de recursos humanos na psiquiatria de adultos, na área infantil esta ainda é maior"..Isto numa altura em que se sabe que "a aposta na Saúde Mental Infantil traz um retorno muitíssimo maior do que se esse investimento for feito 20 anos depois, quando há situações que já estão estabelecidas e dificilmente retrocedem", sublinha..Segundo explica Miguel Xavier, "Portugal vive uma situação na psiquiatria infantil que não é brilhante. A estrutura existente não está preparada, em termos numéricos e de organização, para dar resposta a todos os pedidos. E isso começa a ver-se em todo o lado, com o aumento crescente de pedidos de ajuda nas escolas, nos centros educativos, nas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens - embora, os serviços de saúde mental de infância e adolescência trabalhem muito bem, na base de um modelo comunitário, com as escolas e outras instituições"..Mas, como diz, há que fazer mais, porque a educação para uma saúde mental favorável começa nos bancos da escola. "Há que aumentar a própria literacia das crianças sobre este tema. Acho muito bem que nas escolas se aprenda como funciona o corpo humano, mas acho inacreditável que não se aprenda nada sobre uma saúde mental positiva"..Destaquedestaque "Portugal vive uma situação na psiquiatria infantil que não é brilhante. A estrutura existente não está preparada, em termos numéricos e de organização, para dar resposta a todos os pedidos"..Miguel Xavier alerta mesmo para o facto de a mudança das mentalidades para a Saúde Mental não passar só pela reforma dos serviços de saúde, passa também pela educação, pelos bancos de escola. "Temos todos de perceber que as crianças têm de começar bem cedo a ter contacto com o que é uma saúde mental positiva. Já temos manuais com os referenciais preparados para introduzir no ensino, mas é preciso que o Ministério da Educação inclua estes manuais nas matérias a dar às crianças", assumindo até que "é uma das áreas que a nossa Coordenação vai ter de se articular a nível inter-ministerial"..Por exemplo, "todos os manuais que preparámos estão adaptados às idades. Noções sobre o bullying fazem sentido apresentar numa certa idade, noutra já não tanto. O mesmo se passa com a questão das drogas, etc. E todas estas mensagens têm de chegar às escolas"..Até porque, refere, "é nas escolas que os sinais de alerta, comportamentos, são detetados, ou devem ser detetados em primeira mão. Mas não se pode pedir aos professores que também tenham mais essa responsabilidade. Eles são professores, não são técnicos de SM. Mas onde estão os psicólogos nas escolas?", acrescentando: "O reforço do número de psicólogos nas escolas tem de ser prioridade para um país"..O reforço dos recursos humanos na área da psiquiatria infantil deve ser uma prioridade para o país. E a partir daqui o reforço de psicólogos nas escolas também. Como diz o diretor da Coordenação Nacional, Miguel Xavier, a mudança das mentalidades começa por aqui, pelos bancos das escolas onde as crianças devem aprender o que uma saúde mental positiva.