Escritora de livros para a infância, a canadiana Eleanor Cameron arremessou em 1972 duras palavras a dois contemporâneos, o filósofo e teórico da comunicação Marshall McLuhan, autor da expressão "aldeia global", e ao escritor Roald Dahl que assinou entre dezenas de outros títulos, o livro Charlie e a Fábrica de Chocolate, publicado em 1964. A revista norte-americana The Horn Book Magazine, fundada em Boston em 1924, serviu de veículo para a escrita crítica que Eleanor endereçou aos dois homens no artigo "McLuhan, youth, and literature". Na década de 1960, o intelectual canadiano, anteviu um mundo interligado pela tecnologia, semelhante a uma comunidade global. A par, anunciava a morte da palavra escrita, com o prognóstico de uma nova era, a da televisão, e o fim do símbolo impresso..Eleanor Cameron via no livro do galês Roald Dahl a expressão desse novo tempo, com os personagens que orbitam o protagonismo de Willy Wonka, dono da fábrica de chocolate, encarcerados para a eternidade em lugares-comuns. A escritora encontrou nestes estereótipos a expressão dos programas de televisão, antagonistas da "riqueza" de obras para a infância do passado, como Robinson Crusoé, As Viagens de Gulliver e Pinóquio, entre outras. "Será que qualquer um dos livros escritos nos últimos 30 anos estará vivo e será amado daqui a cem anos? É uma questão profundamente perturbadora para quem escreve com seriedade e não totalmente por dinheiro", sublinhou a escritora no já referido artigo. Eleanor assumiu outros territórios de crítica a Dahl, vendo nos Oompa-Loompas, os pequenos ajudantes de Willy Wonka, escravos pigmeus provenientes de África..Cameron, cuja obra se estendeu até à década de 1990 e que proclamou a "leitura como ampliadora da vida", viajou nos seus livros até às imediações da Terra. Longe das polémicas com os mensageiros de um novo mundo, a escritora lançou alguns dos seus personagens em direção a Basidium. Assim designada por Eleanor a segunda lua da Terra, aludia à expressão latina que designa o basídio, estrutura microscópica produtora de esporos em certos tipos de fungos. Termo que não foi um acaso na obra da escritora que, em 1954, publicou O Voo Maravilhoso para o Planeta Cogumelo (na realidade trata-se de uma Lua), a que se seguiram outros títulos da mesma série..Eleanor, com as suas frequentes visitas literárias ao segundo satélite natural do nosso planeta, "alunou" a ficção científica infantil no lugar que há perto de cem anos se tornara objeto inalcançável para a astronomia, a prova de existência de uma segunda e de uma terceira lua em órbita à Terra..Recuando a 1846, Frédéric Petit, diretor do Observatório de Toulouse, anunciou à comunidade científica a descoberta de uma nova Lua, com órbita elíptica em torno da Terra. Aos 36 anos, o astrónomo afirmou fundar em cálculos matemáticos as provas que validavam a existência de um astro não descortinável a partir da Terra pois, argumentava, a invisibilidade desta lua devia-se à velocidade extraordinária que a impelia. A lua de Petit aproximava-se, na sua órbita, a uns meros 11 quilómetros do nosso planeta (por comparação, o monte Evereste ergue-se a 8848 metros). A teoria de Petit foi rapidamente desacreditada. Mais tarde, em 1850, o astrónomo francês digladiou com um seu conterrâneo, o geólogo Alexandre Leymerie, as teorias sobre a estrutura interna dos Pirenéus. Frédéric afirmava ser aquela cordilheira uma estrutura oca. Tal como no anúncio da segunda lua, Petit viu-se, uma vez mais, desacreditado pelos seus pares..Ainda no século XIX, em 1898, uma suposta nova lua despontava no léxico astronómico. A lua de Waltemath, erguia-se numa alusão ao nome do seu descobridor. O alemão Georg Wilhelm Waltemath asseverou divisar no firmamento um astro com 700 quilómetros de diâmetro. Esta lua distava perto de um milhão de quilómetros da Terra, invisível a olho nu por pouco refletir a luz solar. Não obstante a sua invisibilidade, a segunda lua merecera, de acordo com o astrónomo germânico, a observação do norte-americano, explorador do Ártico, Adolphus Greely. Tal como a lua de Petit, a de Waltemath desceu da órbita da Terra para os arquivos da astronomia. Mais tarde, o cientista reiterava na sua obsessão lunar, ao afirmar a descoberta de uma terceira lua, distante 400 mil quilómetros do nosso planeta..Lilith, antiga deusa mesopotâmica associada aos ventos e tempestades, portadora de doenças e morte, encontrava, em 1918, os céus do astrólogo inglês Walter Gornold. Sepharial, como também gostava de ser apelidado Gornold, reabilitou para o firmamento a lua de Waltemath, descrevendo-a como um astro negro, oculto a maior parte do tempo. Sepharial afirmou ter divisado a pequena lua na sua passagem frente ao Sol..Não sendo astrónomo, antes especialista em clima, o canadiano Ezekiel Stone Wiggins encontrou acima das nuvens a explicação para a primavera excecionalmente fria de 1907 no leste dos Estados Unidos, com temperaturas a rondarem os 35 º C negativos. Subia de novo ao céu a lua de Waltemath, responsável, segundo Wiggins, pelos distúrbios na atmosfera. O mesmo afirmava ter avistado a segunda lua décadas antes, em 1882, anunciando a descoberta na imprensa em 1884..Possibilidades de novos mundos sob a forma de luas na órbita terrestre que o astrónomo norte-americano William Henry Pickering descartou já no século XX..Quem não descartou a réplica a Eleanor Cameron foi Roald Dahl que, na resposta também por escrito à The Horn Book Magazine, apontou o artigo como "extraordinariamente maldoso". Marshall McLuhan nunca respondeu às críticas apontadas pela escritora..O francês Cyrano de Bergerac, com Viagem à Lua (1657) e o conterrâneo Júlio Verne, em Da Terra à Lua (1865) e À Volta da Lua (1870), estão entre os nomes da escrita que percorreram em livro o caminho até ao satélite natural. Muito antes, no Oriente, a narrativa popular japonesa do século X, o Conto do Cortador de Bambu, trouxe à Terra uma visitante da Lua..A Princesa Kaguya-hime, encontrada ainda bebé no interior de um caule de bambu, viajou desde Tsuki-no-Miyako, a capital da Lua. Em 2007, a sonda espacial nipónica Selene, engenho que orbitou a Lua, recebeu o nome de Kaguya, após consulta pública..dnot@dn.pt