Jornal de maior circulação do Brasil desde 1986, a Folha de S. Paulo foi acusado de pactuar com o regime militar de 1964 a 1985. Já em 2009, um editorial em que chamava esse período de "ditabranda", num jogo de palavras com "ditadura", causou revolta nas esquerdas. Esquerdas essas que aumentaram o tom da indignação quando o jornal publicou uma imagem e um registo criminal falsos de Dilma Rousseff, do PT, de esquerda, às vésperas da campanha eleitoral em que a antiga presidente se elegeu pela primeira vez, batendo José Serra, do PSDB, de centro-direita, nessas eleições..Em reação ao suposto favorecimento a Serra foi até lançado um site de humor com logótipo idêntico ao da Folha mas sob o título "Falha de S. Paulo"..O jornal, entretanto, define-se como plural, com veementes colunistas à esquerda e à direita e amplos espaços de discussão pública, e mais liberal, leve e jovem do que o seu histórico concorrente, O Estado de S. Paulo. Essa atitude valeu-lhe também fortes críticas à direita - certos grupos apelidam-na de "Foice de S. Paulo"..A Folha foi a primeira vítima pós-eleitoral - já não estamos em campanha em que os excessos são tolerados - de Bolsonaro - do próprio presidente e não de nenhum dos seus muitos apoiantes furiosos..Entre as centenas de reportagens realizadas por profissionais da Folha sobre todos os candidatos nos últimos meses, três desagradaram ao agora eleito Jair Bolsonaro..A primeira, em janeiro, sobre Walderice da Conceição, membro da equipa de 14 funcionários do gabinete do então deputado, encontrada pela reportagem da Folha a morar a 50 km da casa de veraneio de Bolsonaro, em Angra dos Reis, a vender açaí. Porque ela recebe então uma verba pública via gabinete de Bolsonaro? Porque, justificou ele, o informa das necessidades da população local..Na mesma reportagem, o jornal divulgou que o político recebia uma verba de auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Brasília. "Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usei para comer, gente, está satisfeita agora?", respondeu Bolsonaro à jornalista..Já na reta final de campanha, a Folha noticiou que empresas cujos donos apoiavam o candidato pagaram impulsos online de notícias contra o PT, um caso sob investigação do Tribunal Superior Eleitoral por encerrar um conjunto de ilegalidades..Todas as notícias, assinadas por jornalistas premiados, estavam sustentadas, bem apuradas e com espaço para os visados se defenderem - Bolsonaro, nos primeiros casos, e os empresários, no último..Em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, perguntado sobre se iria fechar o Folha de S. Paulo, intenção verbalizada no mesmo discurso em que prometera "varrer do mapa os bandidos vermelhos", "fazer uma limpeza nunca antes vista na história do país" e mandar os rivais "para a ponta da praia" [numa alusão à base da marinha na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro, onde opositores da ditadura eram executados], Bolsonaro disse que "por si só, esse jornal se acabou"..Ao longo da campanha, Bolsonaro, uma espécie de campainha, e os bolsonaristas mais devotos, uma espécie de cães salivantes, atacaram fundamentos do sistema eleitoral do Brasil, como as urnas eletrónicas ou os institutos de sondagens.."As urnas eletrónicas são uma fraude", gritaram antes das eleições. Como o seu candidato ganhou, o mar de lama jogado por cima delas foi esquecido.."Os institutos de pesquisa são comprados", gritaram antes das eleições. Como o IBOPE acertou dentro da margem de erro e o Datafolha (do grupo Folha) acertou na mosca os 55-45 finais, o mar de lama jogado por cima deles foi esquecido..O que restou? Atacar o mais plural dos grandes jornais brasileiros só porque escreveu três reportagens desagradáveis ao presidente eleito..Como à mulher de César, não basta a Bolsonaro usar o seu melhor sorriso para dizer que é democrático, respeitador das liberdades e escravo da constituição. É preciso parecer. Poucas horas depois de eleito já não vai parecendo. Cá estaremos para denunciar..Em São Paulo
Jornal de maior circulação do Brasil desde 1986, a Folha de S. Paulo foi acusado de pactuar com o regime militar de 1964 a 1985. Já em 2009, um editorial em que chamava esse período de "ditabranda", num jogo de palavras com "ditadura", causou revolta nas esquerdas. Esquerdas essas que aumentaram o tom da indignação quando o jornal publicou uma imagem e um registo criminal falsos de Dilma Rousseff, do PT, de esquerda, às vésperas da campanha eleitoral em que a antiga presidente se elegeu pela primeira vez, batendo José Serra, do PSDB, de centro-direita, nessas eleições..Em reação ao suposto favorecimento a Serra foi até lançado um site de humor com logótipo idêntico ao da Folha mas sob o título "Falha de S. Paulo"..O jornal, entretanto, define-se como plural, com veementes colunistas à esquerda e à direita e amplos espaços de discussão pública, e mais liberal, leve e jovem do que o seu histórico concorrente, O Estado de S. Paulo. Essa atitude valeu-lhe também fortes críticas à direita - certos grupos apelidam-na de "Foice de S. Paulo"..A Folha foi a primeira vítima pós-eleitoral - já não estamos em campanha em que os excessos são tolerados - de Bolsonaro - do próprio presidente e não de nenhum dos seus muitos apoiantes furiosos..Entre as centenas de reportagens realizadas por profissionais da Folha sobre todos os candidatos nos últimos meses, três desagradaram ao agora eleito Jair Bolsonaro..A primeira, em janeiro, sobre Walderice da Conceição, membro da equipa de 14 funcionários do gabinete do então deputado, encontrada pela reportagem da Folha a morar a 50 km da casa de veraneio de Bolsonaro, em Angra dos Reis, a vender açaí. Porque ela recebe então uma verba pública via gabinete de Bolsonaro? Porque, justificou ele, o informa das necessidades da população local..Na mesma reportagem, o jornal divulgou que o político recebia uma verba de auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Brasília. "Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usei para comer, gente, está satisfeita agora?", respondeu Bolsonaro à jornalista..Já na reta final de campanha, a Folha noticiou que empresas cujos donos apoiavam o candidato pagaram impulsos online de notícias contra o PT, um caso sob investigação do Tribunal Superior Eleitoral por encerrar um conjunto de ilegalidades..Todas as notícias, assinadas por jornalistas premiados, estavam sustentadas, bem apuradas e com espaço para os visados se defenderem - Bolsonaro, nos primeiros casos, e os empresários, no último..Em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo, perguntado sobre se iria fechar o Folha de S. Paulo, intenção verbalizada no mesmo discurso em que prometera "varrer do mapa os bandidos vermelhos", "fazer uma limpeza nunca antes vista na história do país" e mandar os rivais "para a ponta da praia" [numa alusão à base da marinha na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro, onde opositores da ditadura eram executados], Bolsonaro disse que "por si só, esse jornal se acabou"..Ao longo da campanha, Bolsonaro, uma espécie de campainha, e os bolsonaristas mais devotos, uma espécie de cães salivantes, atacaram fundamentos do sistema eleitoral do Brasil, como as urnas eletrónicas ou os institutos de sondagens.."As urnas eletrónicas são uma fraude", gritaram antes das eleições. Como o seu candidato ganhou, o mar de lama jogado por cima delas foi esquecido.."Os institutos de pesquisa são comprados", gritaram antes das eleições. Como o IBOPE acertou dentro da margem de erro e o Datafolha (do grupo Folha) acertou na mosca os 55-45 finais, o mar de lama jogado por cima deles foi esquecido..O que restou? Atacar o mais plural dos grandes jornais brasileiros só porque escreveu três reportagens desagradáveis ao presidente eleito..Como à mulher de César, não basta a Bolsonaro usar o seu melhor sorriso para dizer que é democrático, respeitador das liberdades e escravo da constituição. É preciso parecer. Poucas horas depois de eleito já não vai parecendo. Cá estaremos para denunciar..Em São Paulo