A ponte da integração que vai ligar Hong Kong e Macau
Quem faz o percurso de barco entre Hong Kong e Macau foi testemunhando ao longo dos últimos nove anos o brotar de um projeto de engenharia sem par. A ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau liga as duas margens do Delta do Rio das Pérolas, num percurso de 55 quilómetros, naquela que é a maior travessia sobre o mar do mundo.
As autoridades chinesas enaltecem a obra como um dínamo para o novo salto no desenvolvimento daquela que já é a zona mais rica da China, num processo de integração regional que congrega as duas regiões administrativas especiais -Macau e Hong Kong - e nove cidades da província de Guangdong. No entanto, tempo que persistem preocupações no que diz respeito à segurança e qualidade da construção.
A questão da qualidade
No início de abril, imagens aéreas pareciam mostrar blocos de betão de proteção de uma das três ilhas artificiais construídas ao longo da ponte, a flutuarem à deriva no mar. As fotografias geraram algum alarme, mas a autoridade responsável pela gestão da infraestrutura rapidamente veio assegurar que os blocos de betão tinham sido colocados daquela forma aleatória para aliviar a pressão sobre o túnel subaquático de 6,7 quilómetros, um dos principais segmentos do projeto. O caso, contudo, não morreu - uma vez que outras imagens com uma parte da barreira de betão submersa foram divulgadas - e um grupo de deputados do campo pró-democracia de Hong Kong fez um apelo para que o governo da antiga colónia britânica tenha um papel mais ativo na gestão e monitorização da segurança qualidade de construção da ponte.
Escrutínio elevado
O ceticismo em torno dos materiais usados foi, recentemente, acentuado pela polémica relativa à qualidade do aço utilizado na linha férrea de alta velocidade que liga Hong Kong à China continental. "No caso da ponte, em caso de algum incidente, em Hong Kong e em Macau as pessoas vão questionar se não foram utilizados materiais que não cumprem os padrões exigidos", observa em declarações ao DN Sonny Lo, professor de administração pública na Universidade de Hong Kong, que viaja com regularidade para Macau, onde dá formação a funcionários públicos. O também presidente da Associação de Ciência Política de Hong Kong prevê que o assunto vai continuar na agenda tendo em conta "o escrutínio elevado dos media sobre as autoridades e a dificuldade de controlo sobre todos os empreiteiros subcontratados neste processo de construção acelerada de uma obra desta dimensão".
Um projeto político-económico
Há uma clara dimensão simbólica e política neste projeto. A ideia foi lançada em 1983 pelo empresário de Hong Kong Gordon Wu, mas durante vários anos era vista como um sonho faraónico de difícil concretização. Foi ganhando forma e acabou por receber, 20 anos depois, apoio político do Governo Central de Pequim. A construção arrancou em 2009 e desde então o plano de integração regional entre Hong Kong, Macau e as cidades do Delta do Rio das Pérolas (província de Gangdong) passou a ocupar um lugar central no discurso político oficial. Sonny não duvida que a ponte "sinaliza o início do processo de integração e aproximação económica na zona numa era de crescente interdependência regional" .
Só para alguns
A ponte rodoviária insere-se num plano de ligação - sobretudo através de linhas de comboio de alta velocidade - entre as principais cidades do Delta. Tudo isto tem como resultado uma redução do tempo de viagem. No caso do percurso entre Macau e Hong Kong - até agora apenas possível de barco (ferry) numa viagem que demora uma hora- a travessia da ponte deverá demorar cerca de 30 minutos. Todavia, a ponte liga Zhuhai e Macau à ilha de Lantau em Hong Kong, que por sua vez fica localizada a cerca de meia hora de carro de Central, sede do centro financeiro da cidade.
Esta mega ponte vai facilitar sobretudo o acesso ao Aeroporto Internacional de Hong Kong, localizada junto ao ponto de ligação do lado de Hong Kong. No entanto, a circulação de automóveis particulares na ponte será bastante controlada, obedecendo a quotas previamente estabelecidas para cada uma das cidades. Macau tem direito, nesta fase, a uma quota de 600 quotas, 300 para particulares e outras 300 para empresas, sendo que a atribuição das licenças é feita mediante sorteio e apenas pessoas ou empresas com ligações profissionais ou empresariais a Hong Kong podem ser contempladas.
Os contemplados terão que pagar 30 mil patacas (cerca de 3 mil euros) pela licença especial. Os restantes cidadãos podem utilizar os cerca de 200 autocarros que efetuarão a viagem em regime de "vaivém" e uma centena de táxis. O dia D para a mega ponte ainda é incerto (falou-se em 1 de julho). A abertura ao trânsito tem sofrido vários atrasos, sendo que as autoridades garantem que será muito em breve.